>> vergonha nacional >> Impunidade >> impunidadE I >> impunidadE II >> VOTO CONSCIENTE >>> lEIA, PARTICIPE E DIVULGUE

Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

1.31.2015

Desafio aos novos comandantes

Desafio aos novos Comandantes - EB "censurou"?

Por Luiz Eduardo da Rocha Paiva

Em fevereiro assumem os novos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, sobre quem recaem, entre outros, dois relevantes desafios. No âmbito da defesa da Pátria, o desafio é implantar e garantir a continuidade do projeto de dotar o Brasil de Forças Armadas (FA) com capacidade de dissuasão extrarregional.  Isto é, FA não necessariamente no nível das que dispõem as potências globais, mas em condições de lhes causar danos irreparáveis se ameaçarem interesses vitais do País.




Esse desafio só será vencido se for desenvolvido um Sistema Conjunto de Defesa Antiacesso, projeto de longo prazo que depende de investimentos elevados e permanentes no aprestamento das FA, indústria de defesa e pesquisa e desenvolvimento científico-tecnológico com alto grau de autonomia.




Tal sistema é composto por subsistemas de mísseis balísticos e de cruzeiro de longo alcance (inclusive antinavio), de defesa antiaérea, de guerra cibernética, de vigilância e contravigilância e de forças conjuntas de pronto-emprego móveis e letais.  Seu propósito é neutralizar uma força agressora ainda longe do litoral ou da fronteira oeste. 




O risco de pesadas baixas antes do choque entre forças terrestres enfraquecerá o apoio internacional e o interno no país agressor, configurando a dissuasão extrarregional sem armas de destruição em massa. O atual Plano de Articulação e Equipamento de Defesa não estabelece a integração dos projetos estratégicos de cada Força num sistema único como o mencionado.




O óbice mais relevante pode ser explicado por meio de analogia com a lei da oferta e da procura.  Se no contexto internacional (mercado) um país não tem ameaças concretas, ou seja, tem uma ampla oferta de paz e resolve contenciosos sem conflitos armados, a procura por meios de defesa terá baixa prioridade, sendo mínimos os investimentos correspondentes. 




Assim, as FA precisam convencer a sociedade da existência de ameaças potenciais - e elas existem -, a fim de mostrar que a oferta de paz conferida hoje pelo mercado não será perene e sua escassez, num momento futuro, não será sanada oportunamente pela procura, pois defesa não se improvisa.  Sem mentalidade de defesa, as FA continuarão sendo desviadas para missões secundárias, perdendo a identidade, o espírito guerreiro e o aprestamento para a defesa da Pátria.




O segundo desafio decorre do contexto político nacional e de seus reflexos no futuro das FA. O partido do governo (PT) e seus aliados radicais pretendem implantar um regime socialista, atuando sob a orientação do Foro de São Paulo e empregando o Programa Nacional de Direitos Humanos, estratégia gramscista para se perpetuarem no poder. O programa propõe, sob o véu da defesa dos direitos humanos, a criação de espaços de participação e controle social nos Poderes Judiciário e Legislativo, no Ministério Público e nas Defensorias, bem como o cerceamento da liberdade de imprensa.




O Decreto n.º 8.243/2014, ainda não derrubado no Senado, abriu tais espaços ao criar conselhos populares a serem aparelhados pelo PT para impor sua hegemonia à sociedade, objetivo declarado na resolução política emitida pela comissão executiva nacional do partido no final de 2014. O Executivo promove o enfraquecimento do Legislativo e do Judiciário, desequilibrando os Poderes da União, alicerces da democracia.




As FA são um óbice ao projeto socialista, daí a permanente campanha para desgastá-las, a ser intensificada a partir do relatório faccioso da Comissão da Verdade, pois sua imobilização é fator essencial de êxito do projeto. A liderança petista e seus aliados tentam cindir a ativa e a reserva militar; deturpar a história do período 1964-1985, satanizando as instituições militares; romper o compromisso das FA com sua história, suas tradições e seus chefes do passado, para convencer a Nação e a juventude militar do surgimento de novas FA e novos quadros profissionais, agora democráticos, e não ditatoriais e autoritários como no passado; e mudar o ensino castrense, inserindo a ideologia socialista nas escolas militares.




Mais que um desafio, trata-se de uma ameaça.  No entanto, os novos comandantes e todos os oficiais-generais são da geração dos anos 1970 e início dos anos 1980, todos os oficiais e praças foram formados com base em valores éticos, morais e cívicos tradicionais. Comungam ideais pelos quais se dispõem a correr riscos, não se deixam enganar pelos relatórios e revisionismos facciosos da história, nem pela propaganda adversa, e não vão contaminar-se por antivalores materialistas, apátridas e antidemocráticos.




Para reverter a maliciosa campanha de desgaste as FA precisam adotar ações em reforço da autoridade moral da liderança militar, da autoestima e da coesão das Forças, evitando agravar divergências com poderosos segmentos adversos num primeiro momento.  Daí, então, investir no contraditório, de modo a que sua história não seja desvirtuada por seus detratores.  Até o momento não se reverteu a ameaça agindo com franqueza, mas dentro da cadeia de comando.




O mais provável é que, em alguns meses, os comandantes vivam o dilema entre defender publicamente as instituições e, por extensão, a democracia ou permanecer inertes.  É um dilema sem razão de ser, pois o silêncio causaria um dano irreparável à Nação e às instituições, estas, sim, e nesta ordem, credoras da lealdade do soldado.




Será necessário manifestar-se de público, pedindo ou não exoneração antecipadamente, conforme a consciência indicar como condição para preservar a hierarquia e a disciplina. Aos membros dos altos comandos das FA, dando conhecimento antecipado à liderança política, cabe deixar clara sua lealdade às crenças, aos valores e ideais comuns e às instituições defendidas por seus comandantes.  Seria criado um impasse indesejável? 




Sim, mas comandantes e cargos são passageiros e FA são permanentes.




"É uma bênção que em todas as épocas alguém tenha tido individualidade bastante e coragem suficiente para continuar fiel às próprias convicções"

(Robert G.  Ingersoll).

Luiz Eduardo da Rocha Paiva é General de Divisão na reserva. O artigo, originalmente publicado no jornal Estado de S. Paulo, em 29 de janeiro de 2015, foi estranhamente omitido da resenha feita pelo CComSEx - Centro de Comunicação Social do Exército.


Nota da Redação do Alerta Total - Em português claro, a omissão significa "censura". Tal medida, nos tempos de internet e liberdade nas redes sociais, é tão inteligente quanto botar a tropa de camiseta para enfrentar o exército russo no inverno siberiano.

1.03.2015

Aln

Os estudantes e os intelectuais de classe média – e não as "amplas massas", que segundo a doutrina científica são o motor da revolução – representaram a grande fonte de militantes e quadros da Ação Libertadora Nacional e, ademais, de todas as outras organizações de luta armada.

Conrad Detrez, um jornalista colaborador da revista trotskista francesa Front, entrevistou Carlos Marighela em outubro de 1969, um mês antes de sua morte em São Paulo. A capa da edição mensal de novembro dessa revista teve que ser alterada devido à sua morte.

Carlos Marighela foi membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro e foi o fundador e principal dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN), a maior organização de luta armada atuante no Brasil no final dos anos 60 e início dos anos 70.

Joaquim da Câmara Ferreira ("Toledo") – que participou do seqüestro do embaixador dos EUA, no Rio, em setembro de 1969 - que viria a ser o novo comandante da ALN, foi surpreendido com a morte de Marighela em Paris, onde se encontrava, a caminho de Cuba, na casa de Aloysio Nunes Ferreira (atual senador, que foi Ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso nos anos de 2001 e 2002, e candidato à vice-presidência da República em 2014), juntamente com Conrad Detrez.

"Toledo" viria a ser morto em São Paulo um ano depois, em 23 de outubro de 1970, graças às informações precisas fornecidas por um militante da ALN, seu subordinado, cursado em Cuba: José da Silva Tavares ("Severino").

Pode ser dito que a entrevista de Carlos Marighela para o Front foi seu testamento político e guerrilheiro.

As principais questões tratadas nessa entrevista foram as seguintes:

Front – Por que iniciar pela guerrilha urbana?

Marighela – Na condição de ditadura em que se encontra o país, o trabalho de propaganda e de divulgação a priori só é possível nas cidades. Movimentos de massa, sobretudo os que foram organizados pelos estudantes, intelectuais, alguns grupos de militantes sindicalistas, criaram nas principais cidades do país um clima favorável para a acolhida de uma luta mais dura (ações armadas) (...) Os revolucionários conseguiram a cumplicidade da população. A imprensa clandestina avança. As emissões piratas são recebidas favoravelmente. A cidade reúne, pois, as condições objetivas e subjetivas requeridas para que se possa desencadear com êxito a guerrilha (...) A guerrilha rural deve ser posterior à guerrilha urbana, cujo papel é eminentemente tático.

Front – Como imagina a continuação da guerrilha urbana?

Marighela – Pode-se fazer uma enormidade de coisas: seqüestrar, dinamitar, abater os chefes de polícia, em particular os que torturaram ou assassinaram nossos camaradas; depois continuar expropriando armas e dinheiro. Desejamos que o Exército adquira armamento moderno e eficaz; nós o tiraremos dele. Já posso anunciar que raptaremos outras personalidades importantes e por objetivos de maior envergadura do que libertar 15 presos políticos, como aconteceu com o seqüestro do embaixador norte-americano.

Front – Algumas simpatias em particular?

Marighela – Estive na China em 53-54, o partido (PCB) que me enviou (...) Na China estudei muito a revolução. Mas, falando de inspiração, a nossa vem especialmente de Cuba e do Vietnã. A experiência cubana, para mim, foi determinante, sobretudo no que diz respeito a um pequeno grupo inicial de combatentes.

Front – A guerrilha rural surgirá simultaneamente em vários pontos do país?

Marighela – Atacaremos grandes latifundiários brasileiros e também americanos. Seqüestraremos e executaremos os que exploram e perseguem os camponeses. Tiraremos gado e víveres das grandes fazendas para dar aos camponeses. Desorganizaremos a economia rural, porém não defenderemos nenhuma zona, nenhum território, nada disso. Defender é terminar sendo vencido. É necessário que sempre, em todas as partes, como na guerrilha urbana, tenhamos a iniciativa. A ofensiva é a vitória.

Front – Você é contra as idéias de Regis Debray?

Marighela – Algumas idéias me foram úteis; quanto às do foco insurrecional, estou em desacordo.

Front – Sua estratégia para o Brasil se insere dentro de uma estratégia revolucionária continental?

Marighela – Sem dúvida, uma vez que temos que responder ao plano do imperialismo norte-americano com um plano global latino-americano. Nós estamos ligados à OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade) (nota: organização criada em Cuba em janeiro de 1966) bem como a outras organizações revolucionárias do continente e, em particular, às que nos países vizinhos lutam com a mesma perspectiva que nós. É, enfim, um dever para com Cuba; libertá-la do cerco imperialista ou aliviar seu peso, combatendo-o externamente em todas as partes. A revolução cubana é a vanguarda da revolução latino-americana; esta vanguarda deve sobreviver.

Essa entrevista foi intermediada pelos frades dominicanos e realizada no Convento das Perdizes, em São Paulo. Os mesmos dominicanos que no mês seguinte, novembro , entregariam Marighela à polícia.

A partir da morte de Marighela, o Serviço de Inteligência Cubano, através de Manuel Piñero Losada, passou a centralizar e controlar diretamente os preparativos para a retomada da luta. Uma intervenção radical na estrutura da organização foi efetuada e foi o seguinte o diagnóstico cubano sobre a derrota: O processo foi acelerado sem a menor infraestrutura e condição política e militar. Tudo tinha sido feito de maneira equivocada, com métodos empíricos.

Passaram a disputar o espólio de Marighela, Clara Charf (em Cuba; codinome "Claudia"), sua mulher, Zilda Paula Xavier Pereira (em Paris; "uma coroa analfabeta de codinome "Carmen" que graças a esquemas familiares queria dominar a ALN", segundo definição de um militante), que além dela própria tinha três filhos e o marido na ALN, e Joaquim Câmara Ferreira (em Cuba).

Não custaram a chegar à conclusão que a ALN estava estilhaçada e a discussão passou a girar em torno de frear a luta armada, reconstruir a rede logística, fazer trabalho de massa e de base e retomar a atividade dentro das fábricas e, finalmente, uma acusação que incomodou a todos: o grande responsável pela tragédia havia sido Manuel Piñero Losada, pois sua postura e influência nas mudanças que ocorreram nas intenções iniciais da Organização haviam sido maléficas. A luta armada é uma conseqüência da luta de classes e os cubanos confundem luta de classes com guerra de classes. A ALN era apenas um foco e o braço da revolução cubana no Brasil e, como Organização, nasceu em Cuba.

A Organização inteira no Brasil estava na cadeia e não havia estrutura para receber os companheiros que estavam em Cuba, concluindo o treinamento, destinados a conformar umacoluna móvel na área rural. As avaliações eram frustrantes. No entanto, o alinhamento da militância paulista e a decisão do contingente já preparado para a guerrilha rural no Norte do Brasil de se colocar ao lado de "Toledo" na retomada da luta, assegurou seu predomínio como novo comandante.

Após a morte de "Toledo", que foi sucedido por Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz ("Clemente"), como se não bastasse assaltar padarias, trocadores de ônibus e armazéns para sobreviver, irrompeu a loucura interna que deu origem ao justiçamento de Marcio Leite Toledo, também treinado em Cuba, em 24 de março de 1971. Marcio foi assassinado com uma rajada de metralhadora por quatro de seus companheiros, inclusive o então comandante da ALN que havia sucedido "Toledo": Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz ("Clemente"). Seu crime: falar em voz alta o que diversos companheiros pensavam e ter escrito um documento político assinalando erros. Foi acusado de "vacilação diante do inimigo". Segundo o panfleto deixado sobre seu corpo, na rua Caçapava, em São Paulo, "uma Organização revolucionária, em guerra declarada, não pode permitir a quem tenha uma série de informações como as que possuía, vacilações dessa espécie".

O desvario e a inconseqüência em que a ALN estava mergulhada em 1971 tem um exemplo funesto: num assalto a banco, no bairro da Lapa, São Paulo, o militante Ari Rocha Miranda, 22 anos, foi ferido mortalmente por um companheiro seu. Seu corpo foi transportado dentro de um fusca e enterrado em um local ermo, em Itapecerica da Serra, à beira de uma estrada secundária. O corpo está lá até hoje, pois ninguém jamais o reclamou.

No entanto, o certo é que todas as crises surgidas na esteira da morte de Marighela já existiam. A principal delas era a ingerência dos cubanos no processo e na condução da revolução brasileira. Houve sempre uma discordância dentro da ALN: a querela entre a guerrilha rural e urbana. Os cubanos queriam a opção rural e haviam preparado os contingentes guerrilheiros para isso. Todavia, alguns militantes do Rio de Janeiro e Minas Gerais, bem como alguns militantes nordestinos, queriam a luta urbana, à lá tupamaros.

Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz ("Clemente")deixou o Brasil, para o Chile, em dezembro de 1972 e chegou a Havana no ano seguinte, onde recebeu um curso de Estado-Maior ministrado pelo general Arnaldo Ochoa Sanchez. Concluído o curso e pronto para regressar ao Brasil, "Clemente" desertou, abandonou seus comandados e passou a viver em Paris até a decretação da anistia, em 1979.

A maioria dos militantes da ALN que se encontravam em Cuba ou exilados em outros países, ao final de intermináveis discussões, os contornos de um retrato político inquietante começaram a aparecer: a perspectiva de vitória nunca existiu e a luz que avistavam no fim do túnel assusta: o caminho justo era a volta ao PCB, a grande família, e o abandono definitivo de qualquer propósito de luta armada. Ou seja, uma traição ao caminho traçado por Marighela.

Durante os cinco anos de existência da ALN, a maior organização guerrilheira durante a luta armada, foram estes os números da derrota: 884 presos e condenados a penas de 6 meses a 10 anos, 64 mortos e cerca de 2 mil pessoas indiciadas em inquéritos. Isso é uma prova de que os aparatos de repressão são iguais em todos os países. Elefantes brancos que demoram a mexer-se, mas quando o fazem, destroem o que encontram pela frente.

Esse foi o princípio do fim. Os 28 militantes que se encontravam em Cuba que abandonaram a ALN e criaram o Movimento de Libertação Popular (MOLIPO), a última tentativa do setor internacionalista do Partido Comunista Cubano, especificamente o Departamento América, de manter a atividade revolucionária na América Latina, ao voltarem para o Brasil foram todos mortos, com a exceção do "Comandante Daniel" (José Dirceu de Oliveira e Silva), um dos quadros escolhidos para essa missão, e três outros, que desertaram no caminho de volta.

José Dirceu, em Cuba, foi apresentado por Alfredo Guevara (Alfredo Guevara Valdés, um homossexual que em meados dos anos 80 foi embaixador de Cuba junto à ONU) ao Ministro da Defesa Raúl Castro, durante uma solenidade. A partir daí teve início a relação político e militar entre os dois. José Dirceu teve o acesso franqueado por Raúl Castro a documentos importantes sobre estratégia militar, Inteligência e Contra-Inteligência e segurança militar. Finalmente, fez um curso de Estado-Maior que o tornou especialista em questões militares e lhe outorgou o grau de "Comandante"-"Comandante Daniel"-. Foi essa especialização e mais o treinamento militar que o tornou habilitado, segundo os internacionalistas cubanos, a viabilizar a entrada no Brasil do contingente guerrilheiro que retomaria a luta armada. Foi ele, em Havana, o planejador do dispositivo político-militar que dentro do Brasil receberia o grupo dos 28, cuja média de idade variava de 22 a 24 anos. Isso em 1971. Esse foi o último comboio.

Essa história, no entanto, está para ser contada.

Bibliografia: "A Revolução Impossível", Luis Mir, editora Best Seller, 1994.





Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

Os valores de jaques wagner

Exmo Sr Ministro Jaques Wagner:




Fui, com muito orgulho, Comandante do Regimento Dragões da Independência, a Escolta Presidencial.




Todas as vezes em que meus soldados iniciavam ou partiam para o cumprimento de uma das suas inúmeras missões, eu lhes recomendava que trouxessem "nas pontas das lanças os farrapos da vitória"!




O senhor, como qualquer outra pessoa, sabe que as lanças não são mais armas de guerra, nem tampouco os sabres que recentemente foram reincorporados ao patrimônio cultural dos Dragões, assim como as bandeirolas que tradicionalmente ornamentam as pontas das lanças. Trazê-las de volta como "farrapos de glória" tem o simbolismo da vitória, pois se tornam trapos no fragor do entrevero, entre poeira, fumo e sangue!




São, hoje, simbolismos, Sr Ministro. Formas de buscar na realidade do passado a emulação e a responsabilidade moral de fazer jus à herança deixada por nossos antepassados e honrada por nossos antecessores.




Ao Exército e às demais Forças Armadas do Brasil não cabe tergiversação no cumprimento das suas missões, pois, para elas, só há um resultado honroso: A VITÓRIA! Elas foram feitas para VENCER e assim tem sido ao longo da HISTÓRIA!




E Só há uma história, Sr Ministro, que não se subdivide em épocas ou missões, ela se encadeia em eventos que se suportam moralmente nos feitos que os antecederam e que, por sua vez, servem de suporte aos que lhe sucedem.




A História Militar brasileira é feita de valores perenes e imutáveis e reflete o empenho de seus integrantes na preservação, na prática e no culto dos valores dos Patriotas de Guararapes. As mesmas missões, os mesmos sacrifícios!




A tentativa de dividi-las no tempo – ontem e hoje –, como ideológica e preventivamente têm tentado os integrantes do Foro de São Paulo, é, portanto, inócua, inapropriada e desrespeitosa.

Inócua porque jamais conseguirá mudar a natureza dos soldados. Inapropriada porque visa a objetivos ideológicos rejeitados pela Nação e fora do contexto da natureza do homem brasileiro. Desrespeitosa porque desconsidera os valores inarredáveis que fazem respeitadas, em todo o mundo, as Forças Armadas do Brasil!




Recentemente, Sr Ministro, o senhor, como Governador do Estado da Bahia, em atitude moralmente hostil às FFAA, mas coerente com o objetivo estratégico que acabo de desqualificar, trocou o nome de uma escola. Substituiu o nome de um General, antigo Presidente da República, pelo de um terrorista, fanático e sanguinário, cujo ideário macabro, exportado na forma de "manual de guerrilha", levou inocentes à morte no Brasil e continua a levar em muitas outras partes do mundo!




Que critérios direcionaram o seu pensamento à tomada de uma decisão tão absurda e incoerente com a lógica deste e de qualquer tempo da história da humanidade? Queexplicação teria o Sr para nos apresentar de forma a que pudéssemos entender a "sua" lógica?




Chamo a sua atenção para o fato de que grifei a palavra explicação que, para nós, militares, difere completamente de justificativa, ou seja, de antemão, deixo-lhe claro que entendemos que não há perdão para um ato de tamanho desrespeito, pois agride moralmente a história e os valores que fazem das FFAA brasileiras as instituições mais respeitadas e prestigiadas pela sociedade a servem, e demonstram que, na sua escala de comparação, elas valem menos do que um terrorista assassino!




Que argumentos o Sr teria para nos apresentar que justificassem, agora sim, o seu suposto "voluntariado" para ser o intermediário entre as FFAA - pelas quais, aparentemente, o Sr não tem respeito - e o governo, cargo que o Sr ocupa, hoje, na Esplanada dos Ministérios?




Ficam as perguntas que espero ter oportunidade de fazer-lhe pessoalmente e em público durante a sua permanência no cargo.




Educada e respeitosamente,







PS: Como não tenho o seu endereço eletrônico, tomei o cuidado de enviar esta mensagem à Ouvidoria do MD como "Solicitação".





Paulo Chagas, General de Brigada na reserva, é presidente do Ternuma.