Seguindo a tradição do fundador da TFP, Plinio Corrêa de Oliveira (1908-1995), os autores investem pesadamente contra setores do clero identificados com a Teologia da Libertação, que atuam em pastorais sociais da Igreja e entidades como CPT e Cimi. Depois de ter gestado o MST, essa “esquerda católica” - como os autores chamam tais setores - estaria ensinando princípios marxistas aos sem-terra, para que eles possam levar adiante a sua “missão demolidora”.
Não é só a invasão de fazendas por sem-terra que move o Paz no Campo. Em outra publicação do movimento - Trabalho Escravo, Nova Arma Contra a Propriedade Privada - afirma-se que as constantes denúncias de trabalhadores submetidos a condições análogas às da escravidão “não têm fundamento na realidade”. Não passariam de uma cilada contra o agronegócio, orientadas pelo “pensamento socialista-comunista”.
Os quilombolas também fariam parte de uma conspiração cujo objetivo é o confisco agrário e, em última instância, a implantação do coletivismo. Para o autor de A Revolução Quilombola, outra publicação divulgada pelo Paz no Campo, se não for derrubado o Decreto 4.887, de dezembro de 2003, que regulamentou o artigo da Constituição que garante aos quilombolas o direito à terra onde vivem, “o País poderá ser conduzido a uma luta fratricida”.
O Paz no Campo é mantido pela Associação dos Fundadores, que se apresenta como legítima herdeira do pensamento de Corrêa de Oliveira, o criador da TFP. Seu coordenador e porta-voz é o advogado Bertrand de Orleans e Bragança, apresentado como príncipe, por ser trineto de d. Pedro II e bisneto da princesa Isabel.
INTOLERÂNCIA
A assessoria do MST rebateu as acusações de que o movimento prega a violência e tende a se transformar numa organização guerrilheira. “O MST é um movimento popular, pacífico e legítimo de pobres do campo que defendem um processo amplo de reforma agrária, paz, justiça e mudanças na política econômica para garantir ao povo os direitos sociais previstos na Constituição, como educação, saúde, terra e trabalho”, disse a assessoria, em nota.
Ao se referir ao Paz no Campo, a assessoria ressaltou: “Precisamos lembrar que essa entidade nasceu do seio de uma das organizações mais conservadores e violentas do país, a TFP, que apoiou e deu sustentação ao regime militar e não tem apreço pela democracia nem pela participação popular. A campanha dessa entidade contra os movimentos do campo demonstra seu sentimento de intolerância e truculência contra os trabalhadores sem-terra, em particular, e contra o povo brasileiro, em geral.”
Por Roldão Arruda
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