Imagine Jeová chegando ao Vaticano e sussurrando ao papa: “Cara, vamos parar com isso. Eu não existo”. É claro que o Sumo Pontífice não vai acreditar. Dedicou então toda sua vida ao serviço de quem não existe? Vai trabalhar agora em quê, ele que fora de sua crença de nada entende? Este é o grande drama dos comunistas. Como admitir que lutaram a vida inteira por uma causa errada? Significa destruir a própria biografia.
A mesma coisa aconteceu em 1956, quando Nikita Kruschov denunciou, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os crimes de seu antecessor, Josef Vissarionovitch Diugatchvíli, mais conhecido como Stalin. Comunista nenhum acreditou nas denúncias do secretário do PCUS. Intriga da CIA, disseram então. Até hoje, ainda há quem não acredite nas denúncias de Khruschov. Niemeyer é um deles.
O mesmo ocorreu dia 05 de março de 1953, quando morreu Stalin. Intrigas da CIA, repetiram os devotos. Stalin não pode estar morto. Porque um Deus não pode morrer. Conheci em Porto Alegre velhos comunossauros que choraram na época, indignados com as mentiras dos serviços de informação ianques.
O mesmo aconteceu em 1949, quando Victor Kravchenko denunciou em Paris os crimes de Stalin. Alto funcionário soviético que havia trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista.
Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, mulher do dirigente comunista alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.
A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, e até hoje não houve cineasta que ousasse transpor sua odisséia para as telas. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo. Sessenta anos depois, Niemeyer continua stalinista convicto.
Isso sem falar nas denúncias dos anos 30, de escritores como Sábato, Gide, Camus, Arthur Koestler, Ignazio Silone, Louis Fischer, Stephen Spender. Ninguém acreditou. Stalin era intocável.
Niemeyer não acredita que Castro tenha proferido tal bobagem. Provavelmente nem o Ariano Suassuna. Muito menos Zuenir Ventura ou Chico Buarque. Seria interessante ouvirmos a opinião de Luis Fernando Verissimo. Castro é um canalha. Devia estar na mesma prisão dos dissidentes que enviou à prisão por afirmarem que o regime cubano não funcionava mais.
O tempora! O mores! Não se pode confiar em mais ninguém. Ainda bem que Niemeyer resiste.
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