Falta o chefe da prostituição da justiça e da verdade; Felizmente, "PODE-SE ENGANAR A MUITOS POR ALGUM TEMPO; PODE-SE MESMO ENGANAR ALGUNS POR MUITO TEMPO; MAS NÃO SE PODE ENGANAR A TODOS TODO O TEMPO...” ABRAHAM LINCOLN
Livro IX) CIDADANIA-SOBERANIA-MORALIDADE=LEVANTA BRASIL!
Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismoapoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historiaque esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil!Cidadania-Soberania-Moralidade
7.02.2011
Eles querem mudar a história do Brasil’
O militar da reserva José Vargas Jiménez, lutou durante a Guerrilha do Araguaia (1972 - 1975); ele escreveu o segundo livro sobre a história
Aos 63 anos, o militar da reserva José Vargas Jiménez é um pedaço da história recente do Brasil. Militar que lutou durante a Guerrilha do Araguaia (1972 – 1975), ele protagonizou uma história que colocou brasileiros em lados antagônicos. De um lado, militares ordenados a executarem aqueles que oferecessem resistência a prisão, e do outro, jovens que lutavam em nome do comunismo.
Corumbaense, Vargas se preparou na região amazônica, onde fez um curso de sobrevivência na selva. Conhecido durante a guerrilha pelo nome de Chico Dólar, o militar conta em entrevista exclusiva ao jornal O Estado como foi a operação que resultou na morte de 69 guerrilheiros, 11 militares e quatro camponeses sem ligações políticas. Os guerrilheiros se instalaram na região em 1968, em uma ação comandada pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil).
Favorável à abertura dos arquivos secretos do Regime Militar (1964-1985), Vargas já lançou o livro “Bacaba – Memórias de um guerreiro de selva na Guerrilha do Araguaia”. E, agora, lança o segundo título “Bacaba II”, que conta os quatro anos de operação no Araguaia, inclusive a Operação Marajoara, considerada a mais dura. Nos livros, ele reúne documentos considerados secretos pelo Exército Brasileiro.
Nestes documentos, constam nomes e fotos de guerrilheiros que deveriam ser executados. Sem relatar casos de tortura, Vargas afirma que durante os meses em que passou no Araguaia, a ordem era uma só: matar quem reagisse à prisão. “Primeiro, era capturar. Na reação, você matava. Porque guerra é guerra. Se você não mata, você morre. Eu tinha um contrato com o meu grupo de combate: jamais nos entregaríamos vivos. Preferíamos morrer em combate”, relembra.
O sul-mato-grossense conta que capturou dois homens, o camponês Zezinho e o estudante Piauí. O último, hoje consta na lista de desaparecidos políticos. Vargas afirma que entregou os dois homens vivos ao lendário Major Curió. “Quando retornei lá, em 1976, um companheiro me disse que ele tentou fugir e, por isso, foi morto. O Zezinho era um jovem camponês e está vivo até hoje”.
O Estado – Como o senhor foi escalado para ir lutar na Guerrilha do Araguaia? José Vargas – Foi em 1973, quando já tinha iniciado a Guerrilha. Serva em Corumbá em 1972 e fui transferido para o Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa, na região amazônica. Foi lá que eu fiz curso de guerra na selva. Quando retornei, no quartel onde servia, no 3º Batalhão de Fronteira, o coronel nos convidou, porque estávamos preparados. Éramos 60 homens e fomos para a guerrilha. Começamos em setembro, na Operação Marajoara, considerada a última fase da guerrilha.
O Estado – Como foi a Operação Marajoara? José Vargas – Essa é aquela operação que não saiu em nenhum livro. Existem outras operações. No meu livro, Bacana I, conto os sete meses que passei lá. No segundo livro, conto toda a história da guerrilha, desde que ela começou. Inclusive, o episódio do (José) Genoíno (petista, que integrou o governo Lula). Graças a ele, conseguimos chegar aos guerrilheiros. Quando começamos em outubro, prendemos uns 40 camponeses na nossa primeira saída. Eu trabalhava com o Curió. Um dos meus colegas, o sargento Brito morreu lá. Nós prendíamos e entregávamos ao nosso chefe. Uma das diferenças é que nós trabalhávamos descaracterizados. Trabalhávamos barbudos, de chinelo e não tínhamos nome verdadeiro. O meu apelido era Chico Dólar. Tanto que éramos parecidos com os guerrilheiros que, nós tínhamos fogo amigo. Como não tínhamos senha ou contra senha, quando encontrávamos outro grupo nosso, e chegávamos a trocar tiros.
O Estado – Quando vocês chegaram ao Araguaia, qual foi o primeiro impacto? José Vargas – Eu comandava um grupo de 10 homens e o nosso sentimento era de medo. Então, para chegarmos a um local onde tinham guerrilheiros, cumpríamos todas as regras que nos foram ensinadas durante o curso de guerra na selva. Se demoraríamos uma hora para chegar em certo local, levávamos o dobro. Tudo tinha o máximo de cuidado. Depois, quando um soldado morreu em meus braços, o medo se transformou em raiva. Se era para
chegar em meia hora, você levava 10 minutos. O medo se transformou em raiva e vingança. Você fica doido para pegar os guerrilheiros.
O Estado – Quantos guerrilheiros o senhor chegou a capturar? José Vargas – Capturei dois guerrilheiros. Podia até tê-los matado, porque a ordem nossa era matar. Mas, primeiro, os prendíamos. Se eles resistissem, a gente trocava tiros. Porque eles também atiravam em nós. Mas se eles não resistissem, ficavam só presos. Prendi o Piauí (Antônio de Pádua Costa) e o Zezinho, e entreguei para o nosso chefe. O Piauí, hoje, consta na lista de desaparecidos. Quando saí em fevereiro de 1974, ele ainda estava vivo. Quando retornei lá, em 1976, um companheiro me disse que ele tentou fugir e, por isso, foi morto. O Zezinho era um jovem camponês que está vivo até hoje.
O Estado – Hoje, se fala muito do uso de tortura durante o Regime Militar. Qual era a recomendação das Forças Armadas para quem estava na linha de frente? José Vargas – Teve a guerrilha urbana e a rural. Na guerrilha urbana, teve Dilma Rousseff, Tarso Genro e Zé Dirceu que foram presos. Isso, foi antes de entrarmos. Na guerrilha rural, na qual estive, não teve ninguém para contar. As pessoas foram todas mortas. Talvez, no período anterior ao meu, tenha acontecido isso (tortura). No meu, não teve.
O Estado – A ordem era matar? José Vargas – Primeiro, era capturar. Na reação, você matava. Porque guerra é guerra. Se você não mata, você morre. Eu tinha um contrato com o meu grupo de combate: jamais nos entregaríamos vivos. Preferíamos morrer em combate. Porque, se não, nos capturavem e nos torturavam No meu período, o Comando Militar da Amazônia treinou 120 homens. Vieram, ainda, 100 paraquedistas do Rio de Janeiro. Os guerrilheiros eram cerca de 100, 120. Na Operação Papagaio, o Exército enviou 1,2 mil homens fardados. Só que levou de Brasília, Minas, Goiânia. Esses militares não estavam acostumados a sobreviver na selva, tanto que os guerrilheiros venceram. Na operação seguinte, a Sucuri, foram os homens do serviço de inteligência. O Exército mandou 32 homens, que ficaram quatro, cinco meses. Ai, foram descobertos três grupos de combate. Quando eles saíram, o Exército fez a Operação Marajoara, que só tinham especialistas. Eles (guerrilheiros) eram jovens também. Eu tinha 24 anos. Lá, tinha jovens de ideais comunistas, que foram treinados na China e em Cuba. Depois, eles treinavam os camponeses e os outros colegas. Isso começou em 1968 e só foram descobertos em 1972. Eles queriam ganhar a população para que se levantasse contra as Forças Armadas.
O Estado – Então, eles já conheciam toda a região? José Vargas – Sim, com certeza. Eles estavam lá desde 1968 e nós só chegamos em 1972. Estavam quatro anos à frente de nós. Conheciam tudo e a população os apoiava. Eles cuidavam da população, ofereciam serviços de médicos, por exemplo. Mas eles também precisavam aprender a sobreviver. Alguns camponeses chegaram a ensiná-los a plantar, porque eles não sabiam.
O Estado – O que motivou o senhor a escrever dois livros sobre este período? José Vargas – O primeiro, Bacaba, escrevi em 2007. Eu tinha documentos que me deram como confidenciais-secretos. Eram sobre elementos que deveriam ser capturados e falava em qual região eles estavam. A cada comandante de grupo, foi entregue esses documentos que tinham fotos. Se você matava um corpo no meio da selva e não identificava pelas fotos, vieram ordens para arrancar a cabeça e as mãos. Isso não era por raiva, mas só para identificá-los. E isso só aconteceu em três casos. Então, tinha todos esses documentos e já havia dito ao meu filho que, quando morresse, era para ele entregar a um jornalista ou historiador para que soubessem a verdade. O que me deixou revoltado foi que há cinco, seis anos atrás, os nossos chefes não falaram mais nada e os que estão no poder, até hoje, são terroristas. E eles querem mudar a história do Brasil. Eles falaram que lutaram contra nós, para impor a democracia e isso me deixou revoltado. Como tinha ido para a reserva em 1994, resolvi escrever esses livros. Ninguém me patrocinou e mesmo assim consegui. No livro, toda a verdade está contada e tem os documentos. Eles falam que nós matamos, mas não contam que mataram também. No meu segundo livro, estou mostrando toda a relação de militares que eles (guerrilheiros) mataram. É uma forma de mostrar que sou prova viva da história. Até hoje, eles dizem: “lutávamos para impor a democracia”. Antes de matarmos um guerrilheiro, eles mataram um homem nosso, o cabo Rosa. No ano passado, um guerrilheiro foi enterrado com honras. E os nossos chefes não falaram nada. No meu livro, estou provocando os dois lados.
O Estado – O senhor acredita que esta é uma história de meias verdades? José Vargas – Dos dois lados. Se eles criarem a comissão da verdade, eles também devem olhar o lado deles. Eles só falam que nós matamos. Ninguém fala que eles também mataram. Já estive no Congresso três vezes e cheguei a ser ameaçado de morte. Mas não tenho medo de morrer. Há três meses atrás, prenderam o Curió por porte de arma.
O Estado – O senhor foi um dos que voltou no Araguaia para tentar localizar os corpos? José Vargas – Sim, nós fomos lá em Bacaba e mostrei onde tinha visto umas ossadas, mas não estava mais lá. Depois, teve a operação limpeza, que foi comandada pelo Curió.
O Estado – Hoje, se discute muito a abertura dos arquivos da época da Ditadura. Como o senhor vê essas movimentações? José Vargas – Eu acho bom. Assim, vamos ver os dois lados. Porque hoje só se vê o lado deles, que estão no poder. Combati para ter essa democracia e sou idealista. Meus livros são para que as pessoas saibam a verdade. Tudo bem, que nossos chefes precisam cumprir as ordens da presidente, mas eles não dão a opinião deles. Eles só fazem isso quando vão para a reserva.
O Estado – Da Guerrilha do Araguaia, o que mais marcou o senhor? José Vargas – Depois que saímos de lá, muitos de nós ficaram internados. Até se reintegrar a sociedade foi muito difícil. Como estávamos em uma guerra, era normal ver morte. E quando viemos para a cidade foi difícil. Qualquer coisa que acontecia, já queria puxar uma arma. Cheguei neurótico. E só consegui me reintegrar por conta da ajuda da minha família.
O livro Bacaba – Memórias de um Guerreiro de Selva da Guerrilha do Araguaia (Editora do Autor, Campo Grande (MS), 2007), do tenente da reserva do Exército José Vargas Jiménez, “é dedicado a todos os militares que morreram na Guerrilha do Araguaia defendendo a Pátria contra o Partido Comunista do Brasil (PC do B) que queria impor, à força, através da luta armada, o regime comunista no Brasil” (Dedicatória, pg. 5). O autor participou diretamente do conflito, na missão que ele denomina “Fase do Extermínio” (outubro de 1973 a janeiro de 1975). Além de relatar combates de que participou na selva, o tenente Vargas anexou documentos secretos e confidenciais ao livro, além de outros particulares, como as medalhas que recebeu durante sua carreira militar.
No prefácio, o autor afirma: “Sobre o assunto, tenho lido e ouvido na mídia diversas reportagens, pesquisas de jornalistas e depoimentos de militares que não participaram ativamente dessa operação. Nenhum guerreiro de selva que realmente esteve na linha de front e participou ativamente da preparação da tropa, como instrutor, e posteriormente como combatente, teve a coragem de falar sobre o assunto, por medo de represália, tanto do governo (União e Exército), quando do Partido Comunista do Brasil e dos familiares de guerrilheiros que combateram no Araguaia. Esse trabalho com certeza irá esclarecer a todos que desejam saber o que realmente aconteceu com os guerrilheiros e militares mortos no conflito, particularmente sobre os guerrilheiros que foram capturados vivos e hoje constam como ‘desaparecidos’ ” (pg. 11).
O livro contém a cópia de muitos documentos classificados como SECRETO e CONFIDENCIAL e será muito útil para historiadores, acadêmicos e a população em geral conhecerem o que foram aqueles anos da “matraca” comunista.
Preparação para o combate
Em março de 1973, o então 3º sargento Vargas foi voluntário para fazer o Curso de Guerra na Selva, no Centro de Operações na Selva e Ações de Combate (COSAC), atual Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), com sede em Manaus, AM. Depois do curso, de dois meses de duração, ele voltou à sua Unidade, a 1ª Companhia do Batalhão de Fronteira (1ª Cia/Btl Fron), da Colônia Militar do Oiapoque, em Clevelândia do Norte, então Território do Amapá.
Em agosto do mesmo ano, o comandante da Colônia Militar, major de artilharia Osmar Nascimento Leite, reuniu os sargentos e solicitou dois voluntários para que representassem a 8ª Região Militar (8ª RM) em um concurso de patrulhas em Manaus. Os 3º sargentos Vargas e Vilhena (no livro, não é apresentado o nome completo) se apresentaram como voluntários. O mesmo convite foi feito aos cabos e soldados do núcleo-base (profissionais), não aos recrutas. Somente 9 se apresentaram e integraram o Grupo de Combate (GC) do Sgt Vilhena. Os outros 9 soldados, que passaram a integrar o GC do Sgt Vargas, tiveram que ser escalados, sendo um deles soldado recruta. Assim, os 20 militares da Colônia ficaram aguardando ordens para viajar a Manaus.
Na primeira quinzena de 1973, chegou a Clevelândia do Norte um avião C-115 Búfalo, da Força Aérea Brasileira (FAB), trazendo 41 militares, sendo 1 capitão, 3 sargentos, 1 cabo e 36 soldados. Cada Sgt e Cb comandavam um GC de 9 homens.
Todo esse contingente da 8ª RM, de 60 militares, passou ao comando do capitão Pedro de Azevedo Carioca (Ten Azevedo). Os comandantes dos GC eram: os 3º Sgt Vargas, Vilhena, Elizeu Figueiredo de Carvalho (Sgt Elizeu), Francisco das Chagas Alves de Brito (Sgt Brito) e um outro 3º Sgt (não nominado pelo autor), e o cabo José Albérico Figueiredo (Cb Albérico). Os dois últimos eram os únicos que não tinham o Curso de Guerra na Selva.
Naquela oportunidade, o comandante da Colônia comunicou ao contingente recém-formado que a missão para a qual os militares haviam sido voluntários “não era para o concurso de patrulhas, como havia sido dito anteriormente, e sim para combater os terroristas inimigos da Pátria, na região de Marabá-PA e Xambioá-GO” (pg. 27). A primeira ordem foi que todos mantivessem sigilo absoluto sobre a operação, não comunicando nada sequer aos familiares.
No interior da selva do Amapá, os militares iniciaram imediatamente o treinamento de técnicas de combate à guerrilha: orientação na selva com bússola, pelo sol e pelas estrelas; sobrevivência na selva; emboscada; contra-emboscada; tiro instintivo com vários tipos de armas (Fuzil Automático Leve-FAL calibre 7.62, Para-FAL 7.62, revólver calibre .38, pistola 9 mm e .45, espingardas calibre 12 (de 1 e 2 canos), 16 e 20, fuzil calibre 22 com silenciador); deslocamento na selva; transposição de cursos d’água; pistas de cordas (rapel, falsa baiana, comando crow, cabo aéreo e ponte de 2 e 3 cordas); primeiros-socorros; base de patrulha; zona de reunião; e trato com a população.
Todo esse treinamento era feito com munição real, não com festim, para dar maior realismo. Um dos soldados desobedeceu à ordem de não se deslocar sozinho (até para fazer necessidade fisiológica teria que ser acompanhado), perdeu-se na selva e só foi encontrado no outro dia. Assustado, disse que foi seguido por uma onça, subiu numa árvore para se proteger, onde dormiu amarrado a um galho. Pelo menos, o soldado provou que estava aprendendo a sobreviver na selva...
Antes de viajar para cumprir a missão, os militares tiveram que adquirir material diverso, como calças jeans, camisas de cor escura, facas, facões, 4 m de plástico para dormir na selva e confeccionar mochilas de sacos de estopa para o transporte de alimentos, armas e munição. Além disso, todos os militares tiveram que providenciar uma procuração, em nome da esposa, mãe ou pai, para recebimento do pagamento enquanto estivessem ausentes ou até mesmo em caso de óbito.
Para a missão de combate na selva, os militares passariam a atuar descaracterizados fisicamente: barbudos, cabeludos, roupas civis, cada um adotando um codinome. O Sgt Vilhena passou a ser o “Navalhada”. O Sgt Vargas, “Chico Dólar”.
Posteriormente, os militares tomaram conhecimento de que outros 60 militares, da 12ª RM, Manaus, estavam sendo treinados no COSAC.
No dia 29 de setembro de 1973, os 60 guerreiros de selva viajaram em um avião C-115 Búfalo, da FAB, para Belém, onde foram alojados no 2º Batalhão de Infantaria de Selva (2º BIS). Nesse quartel, os militares continuaram o treinamento com armas: lançador de granadas (M-79), metralhadora Beretta cal 9 mm, metralhadora HK cal 9 mm, fuzil automático norte-americano (M-16) e granadas de mão defensivas.
Operação Marajoara
No dia 1º de outubro, chegou de Manaus um avião C-130 Hércules, da FAB, trazendo os 60 combatentes que haviam sido treinados no COSAC. No dia seguinte, o contingente de 120 militares, 60 da 8ª RM e 60 da 12ª RM, juntamente com mais alguns oficiais oriundos do Comando Militar da Amazônia (CMA), embarcou no mesmo avião para Marabá-PA.
“Lá chegando, fomos para a “Casa Azul”, sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), localizada no Bairro do Amapá da cidade de Marabá-PA, logo após o Rio Itacaiúna, onde ficava a base de comando de combate, as Forças Guerrilheiras do Araguaia (FOGUERA)” (pg. 33).
Nessa base de comando da “Operação Marajoara” – como se denominou a operação que exterminou a guerrilha do PC do B -, ainda no dia 2 de outubro, os combatentes receberam do Centro de Informações do Exército (CIE), atual Centro de Inteligência do Exército (CIE), os seguintes documentos (cópias anexadas no livro):
- Normas Gerais de Ação – 5 Set 73 – Trato com a população (Secreto);
- Plano de Captura e Destruição (Secreto);
- Plano de Busca e Apreensão (Secreto); e
- Coletânea de fotos de guerrilheiros, plastificadas (Secreto).
“No dia 2 de outubro de 1973, ainda na ‘Casa Azul’, nos apresentaram vários oficiais com os quais iríamos trabalhar. Eram chamados de “Doutores”, entre eles, o Dr. Mario Antônio Luchini (Curió), cujo nome e posto verdadeiro era Cap Sebastião Rodrigues de Moura, e o guia Ivan, que era o Sgt da 3ª Brigada de Infantaria de Brasília-DF” (pg. 33-34).
“Quando preparávamos as armas para o combate, um dos soldados apontou seu fuzil na direção de outro, no que um dos oficiais presentes gritou: ‘Não aponte a arma para ninguém, soldado’, tendo o mesmo respondido: ‘Mas não está carregada, doutor’. E o oficial concluiu: ‘Mas o diabo carrega’ ” (pg. 34).
O livro abre com um documento confidencial do PC do B, “Estudo do PC do B para Implantação da Guerrilha do Araguaia, 1968-1972”. Este documento trata da análise dos comunistas sobre por que a região foi escolhida para a “guerra popular”, sua caracterização sócio-geográfica, os objetivos dos guerrilheiros comunistas e o provável desenvolvimento da luta armada na região.
No documento “Plano de Captura e Destruição”, estavam relacionados todos os grupos de guerrilheiros que atuavam na região, levantados pelo CIE.
Os grupos de “Piauí” (Antônio de Pádua Costa) e “Zé Carlos” (André Grabois) tinham prioridade “um” para captura e destruição, já os grupos de “Nelito” e “Zezinho”, a prioridade era “dois”, sem presenças confirmadas na área. Todos atuavam nas localidades de Fortaleza, São José I, Caçador, Chega com Jeito e Pavão, e as localidades que os apoiavam eram Bom Jesus, Metade e São Domingos das Latas.
O grupo de “Osvaldão” (Osvaldo Orlando da Costa), a prioridade para captura e destruição era “um”, tinha presença confirmada na região. Esse grupo atuava nas regiões de Santa Luiza, Viração, Grota Vermelha, Grota do Jenipapo, Joça, Grota da Laje e Mina Velha (área compreendida entre o Saranzal e o Jacaré Grande). As localidades que o apoiavam eram: Palestina e Brejo Grande.
O grupo de “Mundico”, a prioridade para captura e destruição era “um”, com presença confirmada na área. Atuava na região de São Raimundo e as localidades que o apoiavam eram: Pimenteira, Cajueiro e Castanhal do Evandro.
No documento “Plano de Busca e Apreensão”, eram relacionadas as localidades onde os guerrilheiros comunistas deveriam ser feitos prisioneiros e suas prioridades para captura.
“Os guias que conduziriam os Grupos de Combate para esta missão eram: Ivan, Nonato I, Jamiro, Francisco, Jamal (militar) e Nonato II (civil).
Os povoados onde se encontravam os camponeses a serem presos estavam assim relacionados:
- Em Bom Jesus: José Salim (Salu), Leonel, Severino (consta ter um filho servindo na Companhia de Marabá-PA), Oneide (tem casa em Marabá, na Rua São Pedro – Casa de Ana Barbosa), João Mearim e Luiz, todos com prioridade “um” para sua captura. E Luizinho, Leonda e Salomão, com prioridade “três”.
- Em Santa Rita: Manoel Cícero, com prioridade “três”.
- Em Itamerim: André e Zé de tal (o guia Jerônimo é quem conhece a casa), ambos com prioridade “um”.
- Em Brejo Grande: Bernardino, com prioridade “um”, e Vicente (capataz de Zé Oliveira), com prioridade “dois”.
- Em Cristalândia: João Murada, com prioridade “quatro”.
- Em Centro de Osorinho: Mulher e filho de 18 anos, com prioridade “três” ” (pg. 37).
O documento “Normas Gerais de ação – Trato com a população” tinha como finalidade “recordar a importância da população no quadro da guerrilha rural e realçar alguns dos aspectos mais importantes no trato com a mesma” (pg. 38).
Essas “Normas Gerais” emitiam alguns conceitos preliminares, como “subversão” e “guerrilha”, além de afirmar que “a população é o meio, o instrumento e a condição essencial para o sucesso da guerrilha” (pg. 38). Lembra a máxima de Mao Tsé-Tung, para quem “a população é para o guerrilheiro, como a água é para o peixe” (pg. 39). As “Normas Gerais” também lembram as ações de caráter psicológico com as quais o guerrilheiro espera conquistar o apoio da população:
- A propaganda ostensiva e subliminar, como emprego de panfletos, contatos pessoais e reuniões com grupos, sempre tentando denegrir o trabalho do governo, especialmente o das Forças de Segurança;
- A tomada de posição do menos favorecido, pregando a “justiça social”;
- O incentivo ao agravamento dos conflitos sociais existentes, entre esses a posse de terras, a desigualdade das classes sociais, o trabalho semi-escravo, a carência de assistência educacional e sanitária;
- A exploração de divergências entre grupos sociais, seja de caráter político, religioso, econômico ou ideológico;
- A coação, gerando o medo e o pavor entre a população, com assassinatos (“justiçamentos”), seqüestros, assaltos, sabotagens, delações, sempre com vista a deixar a população em estado permanente de terror.
As “Normas Gerais” dizem como deve ser feita a neutralização das ações terroristas sobre a população:
- A ação do poder público, em todos os níveis (do federal ao municipal);
- A ação do poder militar para destruir e neutralizar a força guerrilheira;
- Um órgão central, planejador e coordenador das ações, para conjugar os esforços para a conquista dos objetivos desejados;
- O tratamento dispensado à população pela força militar, de modo que ela tenha a sensação de segurança e tranqüilidade, cujas prescrições são enunciadas abaixo:
“ - Tratar com educação e consideração todos os membros da população;
- Pagar o que utilizar e devolver o que pedir emprestado;
- Ser solícito e prestimoso na medida de suas possibilidades;
- Nunca prometer o que não puder cumprir;
- Ouvir muito, falar pouco;
- Ser paciente e atencioso;
Respeitar a família, os habitantes e costumes da população;
- Evitar a arrogância, o excesso e abusos de autoridade, em situações normais;
- Tratar com energia e discrição todos os prisioneiros apanhados entre os componentes da população, mesmo o infiltrado;
- Evitar cenas públicas, que de alguma maneira possam chocar a população; e
- Denominar os terroristas de “Comunistas” ” (pg. 40).
Primeira missão de Chico Dólar
No dia 3 de outubro de 1973, “Chico Dólar” parte com seu GC para sua primeira missão de captura e destruição de guerrilheiros, juntamente com os GC do Sgt Elizeu e do Sgt Brito, todos comandados por “Curió” e guiados por Ivan. Todos viajaram pela rodovia Transamazônica, em caminhonetas pretas do INCRA, até uma certa localidade, na orla da selva, de onde seguiram a pé até o povoado de Bom Jesus.
Entrando de casa em casa, fizeram prisioneiros os camponeses suspeitos de dar cobertura e apoiar os guerrilheiros, em torno de 30 homens. Amarrados em fila indiana, foram levados para o interior da selva, e em cada cabana onde houvesse o chefe de família ou filho homem, com idade para lutar com os guerrilheiros, todos eram presos, deixando somente as mulheres e as crianças.
O número de prisioneiros chegou a 40, dificultando o deslocamento na selva. Curió então ordenou que os GC do Sgt Elizeu e Sgt Brito, conduzidos pelo guia Ivan, levassem os prisioneiros para a base de operações de Combate “Bacaba”, localizada no km 68 da Transamazônica. Ficou com “Curió” o GC comandando por “Chico Dólar”, os quais passaram a vasculhar a região em busca de bases e acampamentos dos guerrilheiros, montando emboscadas nas trilhas no meio da selva.
No sétimo dia da missão, os militares se encontravam na região de Peixinho e “Chico Dólar” pediu permissão a “Curió” para que seus homens tomassem banho num igarapé, o que foi feito, com as normas de segurança exigidas: enquanto 5 homens tomavam banho, os outros faziam a segurança em 360º.
Numa cabana, havia uma mulher com dois filhos, um de 4, outro de 12 anos. O garoto de 12 anos pediu permissão para buscar água no igarapé e não voltou mais – provavelmente foi avisar o pai.
Em outra cabana, foi preso o camponês “Mané das duas mulheres”, assim chamado por viver maritalmente com duas irmãs. Posteriormente, Mané passou a colaborar com os militares.
O autor lembra que nos primeiros 10 dias de busca na selva ele sempre ia à frente do grupo, para ganhar a confiança dos seus homens. Depois ele mandava qualquer um deles à frente, como esclarecedor. “O meu GC fez um pacto, jamais nos entregaríamos ou deixaríamos que nos capturassem vivos, lutaríamos até a morte, pois sabíamos que se fôssemos capturados, seríamos torturados pelos guerrilheiros, até a morte” (pg. 42).
O primeiro contato com os guerrilheiros
Após 10 dias na selva, Chico Dólar e seu GC conhecem Bacaba, a base de operações de combate, que ficava no Km 68 da rodovia Transamazônica, ao Norte de Xambioá e próximo a São Domingos das Latas. Entre Bacaba e a “Casa Azul”, havia um posto policial, no Km 46.
No dia 14 de outubro de 1973, em Bacaba, Chico Dólar “tomou conhecimento do primeiro contato da tropa com os guerrilheiros. Um dos GC, chefiado pelo major Lício Augusto Ribeiro Maciel (“Dr. Asdrúbal”), que tinha por guia o mateiro Manoel Lima (“Vanu”), ouviu tiros na região do Caçador, seguiu naquela direção e se deparou com 5 guerrilheiros vestindo fardas da PM do Pará, que haviam abatido 2 porcos e os estavam assando.
“O GC os embocou, sendo que na troca de tiros, três guerrilheiros caíram mortos, André Grabois (“Zé Carlos”), chefe do grupo, João Gualberto Calatroni (“Zebão”) e Antônio Alfredo de Lima (“Alfredo”). Divino Ferreira de Souza (“Nunes”) foi ferido, feito prisioneiro e posteriormente morto. Demerval da Silva Pereira (“João Araguaia”) conseguiu fugir” (pg. 45).
“O guerrilheiro ‘Nunes’, que possuía curso de guerrilha na China, foi levado ferido para a ‘Casa Azul’, no bairro do Amapá em Marabá-PA, sede do Quartel-General do Comando da ‘Operação Marajoara’, onde eram planejadas as operações contra as Forças Guerrilheiras do Araguaia. Ali ficavam também os militares (oficiais e sargentos) do Centro de Informações do Exército (CIE), encarregados de interrogar os prisioneiros.
Em seu depoimento, ‘Nunes’ contou que dias antes de abaterem os porcos fazia parte de um grupo de vinte guerrilheiros que se deslocavam na selva para uma de suas bases. Quando na região de ‘Peixinho’, ouviram e depois viram um grupo de dez homens barbudos e cabeludos, portando vários tipos de armas, tomando banho num igarapé.
Os guerrilheiros então cercaram o grupo e se prepararam para embosca-los, nesse momento perceberam que cinco dos que se banhavam estavam com suas armas bem próximas e os outros cinco, prontos para atirar lhes fazendo segurança. Além disso, o armamento que os vinte possuíam não era compatível para enfrentar os dez que tomavam banho, cujo poderia de suas armas de fogo eram maior que as deles. Desistiram de atacá-los e se dividiram em quatro grupos de cinco guerrilheiros. O grupo ao que ‘Nunes’ se referia era o que eu comandava na região de ‘Peixinho’. Cabe aqui o esclarecimento de porque este grupo de guerrilheiros foi encontrado e emboscado. Eles atiraram em porcos para matá-los e se alimentar. Nós, quando necessitávamos caçar, o fazíamos com espingarda cal. 22, com silenciador” (pg. 45-46).
Encontro de cadáveres de guerrilheiros
Chico Dólar e seu GC não ficavam mais que 1 ou 2 dias em Bacaba, sempre ficavam “vasculhando a selva à procura de acampamentos, bases e depósitos de mantimentos dos guerrilheiros, além de ficarmos preparando emboscadas nas trilhas. Ocasionalmente, numa dessas incursões, passamos pela região de ‘Caçador’, onde uns de nossos GC haviam matado os guerrilheiros: ‘Zé Carlos’, ‘Zebão’ e ‘Alfredo’, e os tinham deixado ali expostos no meio da selva. Estavam cheirando mal. Um dos meus soldados foi até um dos cadáveres e com sua faca cortou um dos seus dedos, retirou o resto da carne que já estava em decomposição, ficando somente com os ossos que pendurou no seu pescoço, dizendo: ‘Esse amuleto é meu troféu de guerra!’ Eu encontrei um gorro feito do couro de quati, estava na cabeça do cadáver do guerrilheiro ‘Zé Carlos’, era do tipo de ‘Daniel Boone’, peguei-o para mim e passei a usa-lo. Três dias depois, retornamos pelo mesmo local e qual não foi a nossa surpresa ao ver que os cadáveres dos guerrilheiros estavam cobertos com folhas de palhas. Deduzimos que forma seus companheiros guerrilheiros que por ali passaram e os cobriram, pois não podiam parar para enterra-los, com medo de serem emboscados por um de nossos GC” (pg. 47).
As vítimas fatais do “fogo amigo”
No dia 16 de outubro de 1973, uma caminhonete preta do INCRA chegou a Bacaba com o Sgt Brito, “deitado na carroceria, esvaindo-se em sangue, e com as duas mãos na barriga tentando conter a hemorragia” (pg. 48). O Sgt Brito, que havia feito o curso de Guerra na Selva com Chico Dólar, faleceu antes de chegar a Marabá.
O que ocorreu com o Sgt Brito foi “fogo amigo”, como relata Chico Dólar:
“O GC do Sgt Brito saiu da base de Bacaba de madrugada, em uma caminhonete do INCRA, para cumprir uma missão de busca e apreensão nas proximidades de Brejo Grande. Pouco antes de chegar à orla da selva, onde deveriam desembarcar e seguir a pé, foram parados numa barreira feita pela Polícia Militar do Estado do Pará (PM/PA). Não havia uma senha ou sinal de reconhecimento entre as tropas amigas (Exército e Polícia Militar), dias antes os guerrilheiros haviam atacado um Posto Policial e andavam fardados no meio da selva. E, além disso, o GC do Sgt Brito também estava descaracterizado (todos barbudos, cabeludos e à paisana), portando armas de fogo. As duas tropas então se confundiram, achando que eram guerrilheiros. O soldado da PM/PA que estava de guarda atirou, atingindo o Sgt Brito, que veio a falecer posteriormente. Houve troca de tiros onde também foi atingido mortalmente um Sgt da PM/PA. Ficaram feridos o soldado do Exército Manoel Pestana da Silva, que servia no 2º BIS em Belém-PA, e o soldado da PM/PA que estava de sentinela naquela hora, que foi quem iniciou o tiroteio” (pg. 48).
“Outro acidente trágico aconteceu na base de Bacaba, quando no início da noite de 8 de dezembro de 1973 o sargento encarregado da segurança da base reuniu seu GC para dar ordens em relação ao serviço noturno, senha e contra-senha, sinais de reconhecimento, distribuição de horários de guarda e ronda. Estavam todos reunidos ao redor de uma mesa, quando um dos solados colocou sua espingarda de dois canos cal. 22 em cima dela e a arma disparou acidentalmente, atingindo o pênis e a barriga do soldado Raul Marques de Brito, que servia na 5ª Cia Gd em Belém-PA. Na ocasião, já havia um médico na base que foi prontamente atender ao ferido, aplicando-lhe os primeiros socorros. Este metia a mão na barriga do ferido, aberta pelos tiros da espingarda e retirava os chumbos que ali haviam penetrado, ao mesmo tempo em que tentava consola-lo, dizendo-lhe: ‘você não vai morrer’, no que o soldado, gritando de dor, lhe respondia: ‘de que adianta viver, se não vou ser mais homem para nenhuma mulher’. Este soldado também veio a falecer naquela noite, ali na base” (pg. 48-49).
Um terceiro episódio de “fogo amigo” foi relatado por Chico Dólar, que culpa o acidente por falta de treinamento adequado da tropa:
“A selva fez muitas baixas, provocadas por doenças tropicais, tais como, leishmaniose, malária, ameba e gripe, além de problemas psicológicos em alguns militares despreparados para a missão. Houve então a necessidade de se fazer o recompletamento, o que foi feito por nossos superiores.
Os substitutos que vieram não tiveram o preparo que a primeira tropa teve, isto é, um estágio de combate a guerrilheiros na selva. Além de mandarem soldados recrutas que haviam incorporado naquela ano para prestar o serviço militar inicial, vieram oficiais e sargentos sem curso de guerra na selva.
Um desses sargentos que veio para recompletar a tropa, comandando um GC de recrutas, no dia 16 de fevereiro de 1974 foi cumprir uma missão de captura num vilarejo e, pra ter mais rapidez e mobilidade na operação, resolveu deixar as mochilas dos combatentes aos cuidados de um deles (recruta), contrariando as instruções de que não devia deixar sozinho no meio da selva nenhum combatente (tinham que estar sempre em dupla).
O recruta, cujo apelido era ‘Garrote’, ficou sozinho cuidando das mochilas. Ocorreu que um outro GC que também estava atuando naquela área passou próximo dele, este os confundiu com guerrilheiros e atirou, matando o Cabo Ovídio Gomes França, que servia na 1ª Companhia do 34º Batalhão de Infantaria, em Macapá-AP” (pg. 49-50).
Morte da guerrilheira “Sônia”
“No dia 24 de outubro de 1973, na região de Taboão, próximo ao Brejo Grande, um de nossos GC que fazia ‘pente fino’ na selva, na entrada de um brejo (igapó ou pântano), encontrou um par de botas. Preparou então uma emboscada. Pouco tempo depois, apareceram dois guerrilheiros, uma mulher e um homem. Ela estava descalça e ao chegar ao local onde havia deixado as botas não as encontrou e então gritou: ‘parem de brincar e devolvam as minhas botas!’, pensando que haviam sido seus camaradas que as tivessem escondido.
Naquele momento recebeu ordem de prisão, ela reagiu atirando com um revólver, na troca de tiro foi ferida na perna, o outro guerrilheiro conseguiu fugir. Posteriormente foi identificado como sendo um colono morador da região, de nome Wilson, que havia sido recrutado pelas FOGUERA.
O comandante do GC, juntamente com o Major Lício Augusto Ribeiro Maciel (Dr. Asdrúbal) e o Capitão Sebastião Rodrigues de Moura (Curió), se aproximou da guerrilheira ferida e lhe perguntou: ‘Qual o seu nome?’ No que ela respondeu: ‘Guerrilheira não tem nome seu FDP, nós lutamos pela liberdade!’. Ao mesmo tempo em que falava, tirou um outro revólver que tinha escondido e atirou, ferindo no rosto o Dr. Asdrúbal e, no braço, Curió. Foi metralhada e morta ali mesmo.
Esta guerrilheira era Lúcia Maria de Souza (Sônia) e tinha fama de ser exímia atirador, o que provou quando feriu os dois oficiais. Seu corpo foi deixado à beira do brejo” (pg. 51).
Guerrilheiros decapitados e mutilados (sem cabeça e mãos)
“No dia 24 de novembro, na região de Pau Preto, o guerrilheiro Arildo Airton Valadão (Ari) foi morto e decapitado por um GC comandado por um 2º sargento que servia na 1ª/3º B Fron, com sede em Clevelândia do Norte-AP, organização militar onde eu servia.
Este Sgt disse que quando vasculhava a selva fazendo ‘pente fino’ à procura de bases e acampamentos, deparou-se com os guerrilheiros ‘Ari’ e um outro que fugiu, sendo posteriormente identificado como Antônio Teodoro de Castro ‘Raul’. Houve troca de tiros e ‘Ari’ caiu morto.
Como não tinha fotos nem a relação de nomes dos guerrilheiros, não conseguiu identifica-lo, recebeu então ordens pelo rádio transmissor para que o decapitasse e lhe cortassem as mãos, fins posterior identificação e reconhecimento pelo rosto e impressões digitais. Assim o fez, colocando-os num saco de plástico e de estopa, e os conduziu para a base de operações de combate em Bacaba.
Em 3 de dezembro de 1973, o guerrilheiro Adriano Fonseca Fernandes Filho (Chicão ou Queixada), que pertencia ao Destacamento ‘C’, foi morto pelos pára-quedistas que atuavam na região de Xambioá e, em 22 de dezembro de 1973, o guerrilheiro Jaime Petit da Silva (Jaime) também foi morto em confronto com um de nossos GC. Ambos foram decapitados e tiveram suas mãos cortadas” (pg. 52).
Morte de oito guerrilheiros do comando das FOGUERA
“No dia 25 de dezembro de 1973, dia do Natal, uma equipe mista, integrada por pára-quedistas de Xambioá e guerreiros de selva de Bacaba, estava seguindo umas pegadas na região da Gameleira, próximo ao Rio Araguaia, quando se defrontaram com um grupo de guerrilheiros integrantes do Comando das Forças Guerrilheiras do Araguaia.
Houve troca de tiros, resultando na morte de oito guerrilheiros: Maurício Grabois (Velho Mário), Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri), José Humberto Bronca (Zeca Fogoió), Gilberto Olímpio Maria (Pedro Gil), Paulo Mendes Rodrigues (Paulo) e Marcos José de Lima (Ari Armeiro), além da apreensão de mochilas com objetos pessoais, documentos das FOGUERA, material de oficina gráfica, armamento e munição” (pg. 53).
Chico Dólar captura Paiuí e Zezinho – Técnicas de tortura
“Em 24 de janeiro de 1974, encontrava-me na base de operações de combate em Bacaba, quando recebemos uma informação de que o guerrilheiro Piauí (cuja prioridade para captura ou destruição era número ‘um’), juntamente com outro não identificado, foi visto nas proximidades de São Domingos das Latas, um pequeno povoado localizado no meio da selva.
O Tenente Miracis (Miracis Rogério Flores), hoje Coronel do Quadro do Estado-Maior (QEMA) do Exército, e eu saímos numa camioneta do INCRA, com a finalidade de confirmar a informação. Lá chegando, ouvimos alguns moradores que nos afirmaram tê-los visto numa cabana a uns 5 km do povoado.
Como estávamos somente em dois, fomo
s até um posto policial, no Km 46 da rodovia Transamazônica, nos identificamos e solicitamos ao sargento PM comandante o apoio para prendermos os guerrilheiros. Prontamente nos colocou à disposição quatro soldados. Cabe aqui ressaltar que este posto era aquele que os guerrilheiros haviam atacado e roubado em outubro de 1973.
Não fomos até a nossa base em Bacaba, no Km 68 da rodovia Transamazônica, pegar o meu GC porque ficava muito longe e poderíamos perder a oportunidade de capturar ou matar estes dois. Retornamos para o povoado e prosseguimos até a cabana onde supostamente estariam os guerrilheiros.
Lá chegando, bem antes do local onde eles se encontravam, deixamos a viatura e adentramos na selva a pé. Próximo da cabana a cercamos, eu e dois soldados pelo lado direito, e o Ten Miracis com os outros dois pelo lado esquerdo, combinamos um horário para invadi-la.
No horário pré-determinado, o Ten Miracis não apareceu, então eu e um soldado invadimos a cabana, deixando o outro do lado de fora, nos dando cobertura e com ordens para atirar, se os guerrilheiros saíssem em fuga.
Ao entrarmos, os dois guerrilheiros estavam sentados no chão, comendo farinha. Foram pegos de surpresa e pularam em direção de suas armas que estavam próximas deles, mas foram por nós impedidos na base de coronhadas, travamos luta corporal e quando conseguimos domina-los, colocando-os deitados de cara no chão, com as mãos na cabeça, entrou o Ten Miracis com outro soldado PM.
Capturamos Antônio de Pádua Costa ‘Piauí’, chefe de um grupo de guerrilheiros encarregado de manter a moral deles elevada, e ‘Zezinho’, um camponês jovem que havia sido recrutado pelos guerrilheiros, um inocente útil. Ambos estavam magros e desnutridos, com suas roupas em farrapos. ‘Piauí’ tinha um revólver cal. 38, uma espingarda cal. 44, e ‘Zezinho’ uma espingarda cal. 20 e um facão.
Retornamos para nossa base em Bacaba, porém quando passamos pelo povoado de São Domingos das Latas os conduzimos a pé, com uma corda amarrada no pescoço para que a população os visse.
Todo guerrilheiro capturado vivo pelas nossas equipes era conduzido para a base de Bacaba e ficava ali de três a cinco dias, onde era submetido a interrogatório preliminar, com a finalidade de dar seqüência às missões, que se baseavam nas informações que os mesmos nos passavam. Depois, eram levados para a ‘Casa Azul’, no Amapá-PA, no Quartel-General das Operações de Comando, onde seriam interrogados por militares do CIE.
Dos guerrilheiros que foram interrogados, ‘Piauí’ foi o mais corajoso e valente. Não era como os outros que não agüentavam as técnicas de interrogatório que lhes eram aplicadas e gritavam pedindo pelo amor de Deus que os matássemos.
‘Piauí’ agüentava o interrogatório sem gritar ou reclamar, eram um dos poucos guerrilheiros bem preparados para a luta. Depois de alguns dias em Bacaba, ele e ‘Zezinho’ foram levados para a ‘Casa Azul’.
As técnicas de interrogatório a que eram submetidos os guerrilheiros em Bacaba consistiam em: choques com corrente elétrica gerada por baterias de telefones de campanha portáteis; telefone (consistia em dar tapas com força, simultaneamente nos dois ouvidos com as mãos abertas); coloca-los em pé, descalços em cima de duas latas de leite condensado se apoiando somente com um dedo na parede; socos em pontos vitais como no fígado, rins, estômago, pescoço, rosto e na cabeça, além de faze-los passar fome e sede.
O guerrilheiro Antônio Pádua da Costa ‘Piauí’, que eu capturei vivo e hoje consta como ‘desaparecido’, quando fui evacuado da região, em 27 de fevereiro de 1974, ainda se encontrava vivo colaborando conosco, nos ajudando a encontrar diversos depósitos de alimentos e materiais dos guerrilheiros. O seu desaparecimento ocorreu em março de 1974.
O camponês ‘Zezinho’, recrutado pelos guerrilheiros, permaneceu vivo e passou a nosso colaborador” (pg. 55 a 57).
Vale aqui fazer um parêntesis para comentar a prática da tortura como método para obter informações. Claro, trata-se de um crime inominável, hediondo. É uma prática maquiavélica, de modo a obter informações que irão facilitar o final da guerra, na medida em que se conhecem as movimentações do inimigo, o efetivo de sua tropa, suas armas, as ações que pretendem praticar. Nada degrada mais um ser humano do que a prática da tortura. No entanto, de maneira cínica, a tortura é condenada por todo o mundo e é, ao mesmo tempo, praticada em todo o mundo. Ainda hoje se pratica a tortura sistemática nas prisões brasileiras, como comprovou recente relatório das Nações Unidas, considerado “impreciso” pelo governo Lula. As esquerdas brasileiras, quando condenam a tortura empregada pelas Forças de Segurança durante os governos dos militares, na verdade estão querendo apenas monopolizar a tortura, na medida em que esta mesma esquerda, farisaica, fingida, mentirosa, não condena a tortura ainda hoje existente, p. ex., nas prisões cubanas. Pelo contrário: essa mesma esquerda, incluído aí o excelentíssimo senhor presidente Lula da Silva, tece elogios cada vez mais acalorados ao Abutre do Caribe, Fidel Castro. Se existe um filme Caminho para Guantánamo, é para, antes de tudo, azucrinar o governo dos EUA e esconder as torturas praticadas atualmente pelos terroristas talibãs no Afeganistão e pelos da Al Qaeda e associados no Iraque. Nada mais do que isso. Uma última pergunta às esquerdas: o que teria ocorrido com Chico Dólar, caso ele tivesse sido capturado vivo por “Piauí”?
Morte do guerrilheiro “Osvaldão”
“No dia 7 de fevereiro de 1974, próximo a São Geraldo, na região de um grande capinzal, o guerrilheiro mais famoso da Força Guerrilheira do Araguaia e que possuía curso de guerrilha feito na China, Osvaldo Orlando da Costa ‘Osvaldão’, foi morto com um tiro de espingarda cal. 12, que o atingiu em cheio no peito, pelo mateiro Arlindo Vieira da Silva (Piauí), quando este guiava uma equipe de pára-quedistas de Xambioá.
Seu cadáver foi levado pendurado num helicóptero para as bases de Xambioá, Bacaba e alguns povoados onde ‘Osvaldão’ era conhecido e temido, sendo exposto à população com a finalidade de acabar com sua fama (mito).
‘Osvaldão’, na primeira fase de combate entre as Forças Armadas e os guerrilheiros, no dia 8 de maio de 1972, em uma emboscada matou o Cabo do Exército, Odílio da Cruz Rosa (Cabo Rosa) com um tiro na virilha e feriu com um tiro nas costas (clavícula) o 3º Sgt Wellisbeth Moraes Macedo, hoje Tenente Moraes. Ambos serviam na 5ª Cia Gd em Belém-PA. Além de ter feito o restante do GC fugir.
Eu servi na 8ª RM em Belém-PA com o Ten Moraes. Ele sofre até hoje as seqüelas deixadas pelo tiro recebido nas costas do guerrilheiro ‘Osvaldão’. A bala continua alojada em seu corpo e conforme diagnóstico de junta médica não pode ser retirada por intermédio de uma operação cirúrgica, pois correria risco de morte, por isso permanece na sua clavícula” (pg. 58).
Relação de guerrilheiros mortos de outubro de 1973 a fevereiro de 1974
“Os guerrilheiros mortos no período em que eu estive atuando na guerrilha foram:
Mês de outubro de 1973: Dia 14 – André Grabois (Zé Carlos), João Gualberto Calatroni (Zebão) e Antônio Alfredo de Lima (Alfredo); dia 24 – Lúcia Maria de Souza (Sônia) e posteriormente Divino Ferreira de Souza (Nunes ou Goiano).
Mês de novembro de 1973: Dia 24 – Arildo Airton Valadão (Ari).
Mês de dezembro de 1973: Dia 3 – Adriano Fonseca Fernandes Filho (Chicão ou Queixada); dia 19 – Antonio Guilherme Ribeiro Ribas (Ferreira); dia 22 – Jaime Petit da Silva (Jaime); dia 25 – Maurício Grabois (Velho Mário), Paulo Roberto Pereira Marques (Amauri), Paulo Mendes Rodrigues (Paulo), José Humberto Bronca (Zeca Fogoió), Orlando Momente (Landin ou Alexandrine), Gilberto Olímpio Maria (Pedro Gil), Guilherme Gomes Lund (Luiz) e Marcos José de Lima (Ari Armeiro) e dia 31 – Luiz Vieira de Almeida (Luizinho).
Mês de janeiro de 1974: Dia 2 – Nelson Lima Piauhy Dourado (Nelito); dia 16 – Pedro Pereira de Souza (Pedro Carretel), camponês recrutado na área pelos guerrilheiros; dia 12 – Rodolfo de Carvalho Troiano (Manoel do A); dia 17 – Vandick Reidner Pereira Coqueiro (João Goiano); dia 24 – José Lima Piauhy Dourado (Ivo). Outros: Luiz René Silveira da Silva (Duda), Maria Célia Correa (Rosa) e Telma Regina Cordeiro Correa (Lia).
Mês de fevereiro de 1974: Dia 7 – Osvaldo Orlando da Costa (Osvaldão); dia 11 – Jana Moroni Barroso (Cristina); dia 14 – Tobias Pereira Júnior (Josias); dia 15 – Custódio Saraiva Neto (Lauro); dia 27 – Cilon da Silva Brun (Simão) e Antônio Teodoro de Castro (Raul)” (pg. 60).
Relação de militares mortos e feridos, de outubro de 1973 a fevereiro de 1974
“Os miliares mortos e feridos neste período foram:
Mortos: Dia 16 de outubro de 1973, 3º Sgt Francisco das Chagas Alves de Brito, do 2º BIS; dia 8 de dezembro de 1973, Soldado Raul Marques de Brito, da 5ª Cia Gd; e dia 16 de fevereiro de 1974, Cabo Ovídio Gomes França, da 1ª/34º Batalhão de Infantaria.
Feridos: Dia 16 de outubro de 1973, Soldado Manoel Pestana da Silva, do 2º BIS; e no dia 24 de outubro de 1973, Major Lício Augusto Ribeiro Maciel (Dr. Asdrúbal) e o Capitão Sebastião Rodrigues de Moura (Curió), ambos do CIE” (pg. 63).
Outras situações que ocorreram durante a guerrilha
Chico Dólar narra outras situações vividas durante a guerrilha:
“Certa vez, ‘Curió’ saiu com meu GC, a fim de confirmar informação de um encontro entre guerrilheiros e um camponês que os apoiava. Preparamos então uma emboscada no local, porém só apareceu o camponês de nome Frederico Lopes, que foi feito prisioneiro.
Foi interrogado no mesmo local por métodos convencionais e como se recusou a falar sobre qual grupo de guerrilheiros estava esperando e o assunto que tratariam, recebemos ordem para mudar a tática do interrogatório. Foi então amarrado nu, num pau viveiro de formigas (pau-de-arara) e seu corpo todo lambuzado com açúcar e sua boca cheia de sal.
Quando as formigas começaram a andar pelo seu corpo e pica-lo, nos relatou tudo o que queríamos saber. Depois o desamarramos, retiramos do pau-de-arara, deixamos que tomasse banho num igarapé e o conduzimos prisioneiro para nossa base em Bacaba” (pg. 64).
“Numa outra oportunidade, depois de oito dias vasculhando a selva, ao entardecer, Curió solicitou nosso resgate por helicóptero. Como a mata da clareira onde iríamos ser resgatados estava um pouco alta, o que dificultaria o pouso do helicóptero próximo ao solo para podermos embarcar, a não ser que subíssemos por cordas, eu em meu GC, com nossos facões, começamos a baixar a mata.
Curió e um outro combatente ficaram fazendo nossa segurança, porém Curió estava apressado e começou a gritar: ‘Rápido, Chico Dólar. Vamos Chico Dólar. Estão muito moles, Chico Dólar’. Aqueles gritos forma me deixando mais nervoso do que já estava, meu sangue foi esquentando e como vivíamos um clima de guerra, onde poderíamos morrer a qualquer momento, sem pensar respondi a Curió, gritando: ‘Pára de gritar e vem aqui ajudar, Curió FDP’. (...) Ao chegarmos em Bacaba, quem comentou o assunto foram os homens de meu GC que disseram: ‘Chico Dólar, se Curió engrossa com você nós íamos mata-lo e diríamos que foi um acidente’. Como comandante deles fiquei envaidecido e emocionado pela atitude que disseram que tomariam em minha defesa. Naquele momento percebi que eu havia conquistado a confiança deles e lhes agradeci, dizendo que não era necessária uma atitude radical daquelas, pois o que tinha acontecido era porque todos estávamos com os nervos à flor da pele, pela situação que nos encontrávamos e o que devíamos fazer era matar guerrilheiros e não a nós mesmos, esclarecendo-lhes de que a vida de cada um de nós dependia do outro” (pg. 64-65).
Esse fato narrado por Chico Dólar mostra o caráter e o profissionalismo de Curió, que não levou em conta as palavras de baixo calão proferidas por seu subordinado, e que gostava de acompanhar o GC do Sgt Vargas e sempre era voluntário para fazer o turno de vigia à noite, enquanto o GC dormia, pois nunca era escalado para tal, por ser superior ao Sgt Vargas. Isso prova o caráter, o profissionalismo, a camaradagem e o alto senso de cumprimento do dever de Curió, pois na guerra todos dependem de todos, sem distinção de “gemadas” ou “divisas”.
Chico Dólar relata o fato de que muitas vezes os militares eram confundidos com os “paulistas” (os guerrilheiros do PC do B, vindos, em sua maioria, de São Paulo), por andarem, como eles, barbudos, cabeludos, à paisana e armados:
“Algumas famílias ficavam com medo que as maltratássemos e nos ofereciam suas filhas adolescentes para que dormissem conosco. Evidente que jamais aceitamos essas ofertas, pois o que queríamos era contar com o apoio da população. Interrogávamos, depois solicitávamos que nos fizessem uma galinhada ou carreteiro (quando havia carne de caça) e, ao partirmos, pagávamos com dinheiro e lhes deixávamos comida e medicamentos” (pg. 65-66).
“Com relação à comunicação por meio de rádio-transmissor portátil entre as equipes, não havia, porque a densidade da selva impedia. No entanto, havia o contato Terra-Ar, com dois helicópteros, que eram chamados de ‘Papão um’ e ‘Papão dois’ e com dois aviões monomotor ‘Teco-Teco’, chamados de ‘Paquera um’ e ‘Paquera dois’. (...)
Certa vez, eu pensei ter ouvido o ‘ronco’ de um avião, imediatamente solicitei ao guerreiro que transportava o rádio-transmissor que fizesse contato com ele. Percebi então que todo meu GC começou a rir de mim. Perguntei-lhes qual o motivo do riso, no que me responderam que o ruído que eu tinha ouvido não era o ‘ronco’ do avião, e sim de um besouro que havia passado perto de minha cabeça, aí eu também passei a rir” (pg. 66-67).
“A caça que mais comíamos durante a guerrilha, no meio da selva, era a de jabuti (uma espécie de tartaruga), por ser muito fácil de apanhá-lo. Além dos alimentos que transportávamos, também consumíamos palmito, mandioca, coco de babaçu, castanha-do-pará e outros.
Todos os dias, aproximadamente às dezesseis horas, parávamos para acampar, porque na selva anoitece rapidamente. Fazíamos uma fogueira e jogávamos o jabuti vivo no fogo e quando o retirávamos, já estava cozido, ficando fácil de retirar as vísceras e o casco” (pg. 67).
“A cada dois meses que os GC ficavam na selva combatendo guerrilheiros eram dispensados, juntamente com seu comandante, por dois dias, para irem à cidade de Marabá-PA, fazerem ‘higiene mental’, divertir-se e fazer outras necessidades fisiológicas que o corpo humano pede, nas casas noturnas e boates da cidade. Neste período, ficávamos alojados na ‘Casa Azul’, no bairro de Amapá, sede da nossa base de comando. Quando saíamos dali, para ir a Marabá, tínhamos que atravessar o Rio Itacaiúna em canoas, barcos ou balsas que transportavam carros e caminhões” (pg. 68).
“O Comando da ‘Operação Marajoara’ incentivou a população a dar informações ou capturar guerrilheiros vivos ou mortos, pagando a eles uma certa quantia em dinheiro para cada situação.
Foi criada pelos camponeses uma milícia chamada de Grupo de Auto Defesa (GAD), que obteve êxito, pois saía em busca de guerrilheiros e os capturavam, entregando-os na base de Bacaba ou de Xambioá (pg. 68).
Chico Dólar narra que toda correspondência recebida pelos militares era censurada, assim como as cartas enviadas às famílias. As cartas que comentavam alguma coisa sobre o combate a guerrilheiros eram queimadas.
Com o tempo, vendo muitos companheiros doentes, feridos ou morrendo em combate, as técnicas de segurança aprendidas no COSAC eram muitas vezes deixadas de lado, de sorte que a abordagem de muitas cabanas e depósitos era feito de “peito aberto”. Chico Dólar conta que toda vez que capturavam um guerrilheiro, tinha que segurar seus homens “para que não o matassem” (pg. 69).
Chico Dólar ficou surpreso ao saber que as diárias recebidas eram mais que o dobro do salário mensal. “Porém, a alimentação durante o período que ficamos combatendo na selva era por nossa conta. Toda vez que saíamos para uma missão, tínhamos que levar comida pelo menos para cinco dias. Quando acabava e havia necessidade de permanecer na selva, emboscando ou seguindo pegadas de guerrilheiros, os helicópteros ou aviões nos abasteciam de alimentos e medicamentos.
Evidente que na base de combate em Bacaba foi montada uma estrutura para nos atender. Havia um depósito de mantimentos onde comprávamos todo o material básico que necessitávamos” (pg. 69).
“As jovens adolescentes, filhas dos camponeses que haviam sido feitos prisioneiros, bem como suas mulheres que ficaram sozinhas nos seus sítios no meio da selva, abandonavam suas casas e iam para os vilarejos que existiam à beira da rodovia Transamazônica, ou para as cidade de Marabá e Xambioá, onde procuravam sobreviver, se prostituindo, até que seus pais ou maridos, que se encontravam prisioneiros, fossem soltos” (pg. 69).
Evacuação
“No dia 27 de fevereiro de 1974, fui evacuado de Bacaba por motivos familiares, não mais retornando para a região do conflito, por ter sido transferido da 1ª/3º B Fron, com sede em Clevelândia do Norte-AP, organização militar onde eu servia, quando começou esta última fase que exterminou os guerrilheiros do PC do B, para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPECEx), em Campinas-SP.
Chegando a esta cidade e à nova organização militar para onde fui transferido, me instalei e, posteriormente, revelei um filme de vinte e quatro poses de fotos que eu havia tirado escondido na base de Bacaba, do meu GC e de alguns guerrilheiros que haviam sido capturados ou mortos. Mostrei-as aos meus colegas militares e as guardei na gaveta da minha mesa, na sala de instrução da própria Escola. Todas me foram furtadas pelo Serviço de Inteligência do Exército da EsPECEx (2ª Seção). Não pude nem reclamar, pois poderia ter sido punido por ter desobedecido às ordens recebidas de não tirar fotos da Operação Marajoara. Se estas fotos estivessem comigo, com certeza ilustrariam muito mais este livro histórico” (pg. 73).
Opinião de Chico Dólar sobre a Guerrilha do Araguaia
Nesta parte do livro, Chico Dólar apresenta as falhas e os acertos observados durante os seis meses em que participou dos combates nas selvas do Pará.
Falhas:
- Falta de uma senha, contra-senha ou outro sinal de reconhecimento, entre os GC (120 militares de Bacaba e 100 pára-quedistas de Xambioá) e outras Forças Auxiliares, como a PM do Pará, que fazia blitzen nas rodovias Transamazônica e PA-70, o que ocasionou o “fogo amigo” que provocou mortos e feridos.
- Com as baixas na tropa, ocasionadas por doenças tropicais ou problemas psicológicos, houve necessidade de se fazer o recompletamento. “Os militares que vieram substituir os evacuados, oficiais, sargentos, cabos e soldados, não tiveram o mesmo treinamento que a primeira tropa teve, o que ocasionou inúmeros acidentes, culminando com mortos e feridos” (pg. 74).
- “A falta de planejamento e coordenação de nossos superiores, que lançavam um GC em uma determinada área, onde já havia outro atuando e não os avisava, ocasionando confronto armado entre os mesmos” (pg. 74).
- Falta de coordenação no emprego dos GC; alguns eram mais explorados que outros: “Nem bem chegavam à base de Bacaba, depois de oito ou dez dias na selva e no outro dia já eram mandados a retornar para cumprirem outra missão, sendo que sempre havia um ou dois GC descansados na base” (pg. 74-75).
- “Falta de um médico em Bacaba. Só no mês de dezembro de 1973 mandaram um” (pg. 75).
Acertos:
“A primeira tropa foi bem preparada e treinada. Refiro-me aos 220 que iniciaram a operação de aniquilamento (120 do Comando Militar da Amazônia e 100 pára-quedistas).
O pagamento de prêmios em dinheiro à população, por qualquer informação ou captura de guerrilheiros, vivos ou mortos.
A formação na população de um Grupo de Auto Defesa (GAD), para se defenderem e capturarem guerrilheiros.
Levantamento geral da área, realizado pelo Centro de Informações do Exército (CIE), na 2ª fase da operação, resultando na elaboração dos Planos de captura e destruição, e busca e apreensão, onde citavam os nomes dos guerrilheiros, dos camponeses e povoados que os apoiavam, bem como as áreas onde atuavam e podiam ser localizados e capturados (vivos ou mortos).
Destruição de todos os paióis, depósitos de mantimentos, remédios e munição que os guerrilheiros tinham armazenado no meio da selva para sua sobrevivência.
Evacuação de quase todos os camponeses da área, deixando somente as mulheres e as crianças, o que restringiu o apoio destes aos guerrilheiros.
Ordens de atirar primeiro e perguntar depois, e só fazer prisioneiros de guerrilheiros ou camponeses se não houvesse nenhum risco de morte para qualquer combatente.
Bloqueio de toda a ajuda interna e externa de armas, munição, mantimentos, medicamentos e pessoal que a Força Guerrilheira do Araguaia do PC do B pudesse receber” (pg. 75).
Chico Dólar lembra que as rádios Tirana, da Albânia, e Havana, de Cuba, em suas transmissões diárias, incentivavam o movimento guerrilheiro, ao mesmo tempo em que atacavam, de forma grosseira, as forças de repressão à Guerrilha. Para que a Guerrilha do Araguaia não se transformasse em um “movimento de libertação nacional”, a exemplo do ocorrido no Vietnã e em Angola, p. ex., com a chegada de “brigadistas” armados de todos os cantos do mundo, foi importante o Governo Médici manter a guerrilha em absoluto sigilo, não permitindo que as ações no Pará vazassem para a imprensa. Nem nós, militares, tínhamos conhecimento das operações de Bacaba e Xambioá.
Vale acrescentar que os dirigentes do PC do B na Guerrilha do Araguaia foram João Amazonas, Elza Monerat, Angelo Arroio e Maurício Grabois. Desses, somente Maurício Grabois morreu em combate, os demais fugiram da área, de forma covarde, deixando os jovens “paulistas” entregues a uma luta inglória.
Angelo Arroio, em sua obra “Guerrilha do Araguaia” (Ed. Anita Garibaldi), afirma que os efetivos empregados pelas Forças legais chegaram aos 12 ou 15 mil homens, quando na verdade o maior efetivo foi de aproximadamente 2.500 homens, pelo prazo de 12 dias, somente. E era um efetivo de manobra, não de combate a guerrilheiros. O relatório de Arroio afirma, ainda, que a Guerrilha contou com o apoio de 90% da população (de aproximadamente 20 mil hab.), o que totalizaria 18.000 homens, quando na realidade esse apoio chegou a cerca de 200 pessoas, sendo que apenas 15 a 20 se tornaram combatentes (Cfr. “Guerrilha do Araguaia”, de Madruga, pg. 166-167). Para conhecer as várias fases da Guerrilha do Araguaia, sugiro ler o conteúdo de http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=2738&cat=Ensaios&vinda=S.
O livro de Chico Dólar é um importante documento histórico que se soma a de outros militares que também participaram da Guerrilha do Araguaia. Entre as obras já publicadas, destacam-se:
- Guerrilha do Araguaia – Revanchismo – A Grande Verdade, do coronel do Exército Aluísio Madruga de Moura e Souza (abc BSB Gráfica e Editora Ltda, Brasília, 2002);
- “A Grande Mentira, do general Agnaldo Del Nero Augusto (Biblioteca do Exército Editora, Rio de Janeiro, 2001);
- A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça, do coronel do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (Editora Ser, Brasília, 2007 – 3ª edição ampliada, com índice onomástico);
- Xambioá – Guerrilha do Araguaia – Novela Baseada em fatos reais, do coronel-aviador Pedro Corrêa Cabral (Record, Rio de Janeiro, 1993). Em depoimento na TV, neste ano de 2007, o coronel do Exército Lício Augusto Ribeiro Maciel (“Dr. Asdrúbal”) chamou o coronel Cabral de “mentiroso”, não dando crédito aos fatos narrados no livro.
No momento, o coronel Lício – o mesmo que prendeu José Genoino Neto – está escrevendo suas memórias da Guerrilha do Araguaia.
Com base nos livros de Chico Dólar e dos autores acima citados, a tropa militar envolvida na Guerrilha do Araguaia teve os seguintes mortos, feridos e desaparecidos:
- 8 de maio de 1972: morreu o cabo do Exército Odílio Cruz e Rosa, e ficou ferido um sargento do Exército (não consta o nome); o ataque foi feito pelo grupo de “Osvaldão”;
- 30 de setembro de 1972: morreu o sargento do Exército Mário Ibhaim da Silva;
- 24 de julho de 1973: consta como desaparecido durante a fase da 2ª Operação de Inteligência (“Operação Sucuri”) o soldado do Exército Francisco Valdir de Paula (o livro A Verdade Sufocada o trata como morto);
- 16 de setembro de 1973: morreu o 3º sargento do Exército Francisco das Chagas Alves de Brito, em “fogo amigo” com a PM do Pará. Na mesma ocasião, ficou mortalmente ferido um sargento da PM/PA (não consta o nome); ficaram feridos o soldado do Exército Manoel Pestana da Silva e um soldado da PM/PA (não consta o nome), que estava de sentinela no Posto Policial do Km 46 da rodovia Transamazônica (entre Bacaba e a “Casa Azul”), e que iniciou o tiroteio;
- 8 de dezembro de 1973: morre o soldado Raul Marques de Brito, em Bacaba, atingido acidentalmente por uma espingarda, na barriga e no pênis, durante reunião de um GC para tratar da guarda noturna do local;
- 16 de fevereiro de 1974: morreu o cabo do Exército Ovídio Gomes França, em “fogo amigo”, atingido pelo recruta “Garrote”, que cuidava das mochilas de um GC de recrutas e confundiu outro GC como sendo um grupo de guerrilheiros;
- 24 de outubro de 1973: ficaram feridos na região de Taboão, próximo ao Brejo Grande, o major do Exército Lício Augusto Ribeiro Maciel (“Dr. Asdrúbal”) e o capitão do Exército Sebastião Rodrigues de Moura (“Curió”). A guerrilheira Lucia Maria de Souza (“Sônia”) pegou um revólver que tinha escondido consigo e feriu o rosto do “Dr. Asdrúbal” e o braço de “Curió”; a guerrilheira foi metralhada e morta a seguir.
Além desses militares, os guerrilheiros do PC do B mataram:
- 29 de junho de 1972: João Pereira, mateiro da região do Araguaia, que servia de guia para a tropa militar;
- ? de setembro de 1972: Osmar..., posseiro da região do Araguaia;
- 12 de março de 1973: Pedro Mineiro, acusado pelos guerrilheiros de ser pistoleiro da Fazenda Capingo, na região do Araguaia, cujo administrador era o cidadão conhecido como Capitão Olinto.
P.S.: Para aquisição do livro, de R$ 40,00, entrar em contato com o autor, e-mail jos_vargas@yahoo.com.br .
Assim como em 1944 o General von Choltitz não aceitou as ordens de Hitler para incendiar Paris, também em 2008 o General Heleno não aceitou as ordens de Lula para entregar a Amazônia Brasileira ao inimigo.
Quem ocupa um cargo publico e faz apologia à IMPUNIDADEnão respeita o cargo nem a si próprio, logo não merece respeitoe NO MÍNIMO deve ser sempre apupado. Como aos vendilhões não interessa nenhuma mudança estas devem partir da população para fechar as fontes de recursos da corrupção.A união e o clamor uníssono dos brasileiros decentes para que sejam fustigados com a Lei é a melhor arma contra a sanha destruidora dos vendilhões da Patria!
"Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados em conquistá-la e mantê-la. "Gen R. Octávio
"Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi. Iuris praecepta haec sunt: honeste vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere".
(Ulpiano, Roma Antiga, Séc. II)
Tanto o 3o, o chefe, quanto os seus comparsas já estão moralmente condenados porque as provas do juizo etico não tem o rigorismo do juizo criminal, bastam as provas indiciarias. No Estado Democratico de Direito o ocupante de uma função publica renuncia ao primeiro indicio de conduta imoral. Quando se trata de individuo amoral é defenestrado do cargo pelo juízo ético próprio previsto em Lei .Nas democracias o que se preserva são as INSTITUIÇÕES NACIONAIS e não personalidades. amorais. Em um Estado Democratico de Direito a conduta dos cidadãos é regulada em Lei e quando elas deixam de ser aplicadas devemos exigir que o sejam. Só não ve quem não quer ver que a quadrilha esta promovendo o caos e o desespero que lhes permite atuar como benfeitores dos pobres e sócios majoritários dos ricos, cada vez mais ricos
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