ITAIPU
Exigências do novo presidente do Paraguai.
Carta ao Senhor Senador Cristóvão Buarque,
O senhor afirmou, da tribuna do Senado Federal, o seguinte:
Não podemos simplesmente negar ao Paraguai o direito de pedir o
reajuste. Nós não podemos esnobar o Paraguai. Até porque temos uma
dívida com esse nosso país vizinho, já que há 138 anos matamos 300 mil
de seus cidadãos (na Guerra do Paraguai).** Em proporção, seria como se
matassem nove milhões de brasileiros - ponderou Cristóvão'.
É muito estranho, senador, e causa preocupação ouvir de um senador da
república tal afirmativa. E é estranho por dois motivos:*
*a**) O senhor não tem conhecimento da história e está equivocado ao
afirmar que o Brasil matou 300 mil paraguaios;
*
*b) O senhor tem conhecimento da história e, por conseguinte, está mentindo. *
*Ambas as hipóteses o desqualificam para exercer o alto cargo de
senador da república. Quando um senador da república se dirige à nação
da tribuna do Senado Federal para afirmar uma asneira deste porte,
francamente, não tem condições de estar onde está. Está trabalhando
contra o país, contra o seu povo, quando o seu dever sagrado deveria
ser o contrário.
A guerra do Paraguai, da qual o senhor culpa o Brasil, inclusive
imputando-lhe 300 mil mortes, foi provocada pelo ditador Solano Lopes,
cujas ambições expansionistas o fizeram invadir a Argentina, que lhe
negara o uso do seu território para chegar até Uruguaiana. A Argentina
então declarou guerra ao Paraguai, dando início a um conflito ao qual
se juntariam o Brasil e o Uruguai no que ficou conhecido como a
Tríplice Aliança.*
*O Paraguai contava àquela altura com um exército de 77 mil homens,
enquanto o efetivo brasileiro não passava de 18 mil, o que obrigou D.
Pedro II a organizar apressadamente as forças brasileiras para fazer
face a agressão.
Sem entrar em detalhes, para não me alongar, quero informá-lo que das
300 mil mortes de paraguaios que o senhor imputa ao Brasil, a fome, a
cólera e a malária foram responsáveis por 70%. Em combate mesmo, o
Paraguai perdeu metade do seu exército, enquanto o Brasil perdeu 30
mil. E as perdas paraguaias aconteceram em razão da estupidez do
ditador Solano Lopes que, instado a se render posto que já estava
derrotado, com Assunção invadida pelas tropas brasileiras, levou a
guerra às últimas conseqüências conduzindo o que restava de suas
tropas combalidas e, àquela altura composta de adolescentes e até
crianças, a Cerro Corá, onde se deu a batalha final.
Solano Lopez jamais aceitou negociar a paz e a guerra só acabou com a
sua morte. O Brasil não conquistou territórios do Paraguai, apenas
reinvindicou suas fronteiras anteriores. O tratado de paz, assinado em
9 de janeiro de 1872, estabeleceu dentre outras coisas, como a
navegação livre pelo rio Paraguai, uma indenização a ser paga ao
Brasil, dívida esta que foi perdoada em 1943 pelo governo brasileiro.
Vê-se, portanto, que o grande culpado pelo massacre do seu povo foi o
próprio ditador Solano Lopes, tendo o Brasil apenas respondido à
altura uma agressão sem sentido. *
*Seguindo a lógica do seu raciocínio, os aliados da segunda guerra mundial *
*devem pagar uma indenização a Alemanha pelo fato de Hitler ter perdido a guerra. *
*Ainda seguindo a **lógica do seu raciocínio, as atuais gerações devem pagar pelos erros
por acaso cometidos por governantes em gerações passadas. *
*Assim, não me **surpreenderia se o senhor defendesse que a atual e futuras gerações
de italianos continuem pagando aos países conquistados pelo Império
Romano pela avidez de seus imperadores.
**Mas como o próprio presidente Lula já declarou algumas vezes que o
Brasil tem uma dívida para com a África em razão da escravidão, nada
mais me admira. Só quero declarar peremptoriamente que eu jamais
possui um escravo, assim como nenhum brasileiro vivo na atualidade.
Acorde Senador!!!! O povo brasileiro atual, do passado e do futuro,
pagaram, estão pagando e pagarão a enorme e infindável conta que lhes
foi colocada sobre os ombros por uma plêiade de governantes
irresponsáveis, corruptos e sem visão** de futuro, incluindo o atual. E
o senhor ainda quer aumentar essa conta?
**Quanto a Itaipu, senador, foi o pior negócio feito pelo regime militar
e é fácil de se explicar.
O complexo Itaipu foi totalmente custeado pelo Brasil. O Paraguai não
desenbolsou um centavo de guarani. O acordo firmado deu ao Paraguai o
direito a 50% de toda a energia gerada pela usina. Como o Paraguai não
tem capacidade para utilizar toda essa energia, o acordo estabelece
que a sobra seria vendida ao Brasil a preço de mercado, e não a preço
de custo como estão dizendo alguns esquerdopatas. O Brasil sempre
cumpriu rigorosamente a sua parte, pagando integralmente ao Paraguai o
excedente desses 50% sem descontar sequer as despesas de manutenção da
usina.
Pergunto-lhe, senador: **Q**uem fez o melhor negócio? E quem ainda está
usufruindo desse negócio da China? Com certeza não somos nós.
Talvez o senhor ache mais justo o Brasil entregar a usina ao Paraguai
de mão beijada e passar-lhe a comprar a energia de que necessita, a
exemplo do que a Petrobrás fez com as duas refinarias de petróleo que
ela instalou na Bolívia, tudo isto em nome da ideologia que une o
atual governo brasileiro a los hermanos andinos.
**Convém lembrar, senador, que Itaipu custou 6 bilhões de dólares à
época em que foi construída, dinheiro este tomado emprestado no
exterior e pelo qual até hoje pagamos porque, compromissos como este,
somados aos da construção de Brasília e outros que atenderam a
megalomania de governos passados deram origem ao monstruoso
endividamento que hoje impede o desenvolvimento do país.
Convém lembrar também que, caso o governo resolva atender a
reinvidicação do hermano, o preço da energia, que no Brasil custa mais
caro do que a energia produzida por usinas nucleares em torno do
mundo, terá que ser reajustado e quem pagará a conta será o povo
brasileiro. A menos que o senhor e seus pares da esquerda resolvam
bancar a conta, o que com certeza não lhe passa pela cabeça.
É fácil, senador, fazer proseletismo político demagógico com a
carteira dos outros.*
*Convém lembrar também, senador, que o contribuinte brasileiro, já
escorchado por uma verdadeira derrama fiscal, lhe paga o salário e
todas as suas mordomias para que o senhor defenda o Brasil, e não
estados alienígenas.
Dito isto, quero lhe dar uma sugestão: se o senhor sinceramente quer
fazer um bem ao Brasil e ao seu povo, renuncie ao seu mandato e volte
a sua cátedra na universidade. Lamentando pelos seus alunos.
Indignadas Saudações,
Otacílio M. Guimarães
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