A aquisição da Nossa Caixa, instituição financeira que pertencia ao estado de São Paulo, pelo Banco do Brasil, capitalizou o governador José Serra para enfrentar a crise econômica em 2009.
São R$ 5,4 bilhões, que pingarão no caixa do governo paulista, em prestações mensais de R$ 300 milhões, corrigidas pela taxa selic, durante 18 meses, período abrangido pelo mandato de Serra.
A operação, que permitiu a Serra compor um orçamento não recessivo para o próximo ano, fez ressurgir suspeitas de que entre ele e Lula há mais que simples convívio civilizado. Haveria uma parceria política de conveniência recíproca.
Lula sabe que o PT não dispõe de um nome de peso para fazer frente a Serra. Sabe também que, embora detentor de índices altos de popularidade, não consegue transferi-los a terceiros, como o demonstrou a recente eleição municipal.
Serra tem sido apontado, em sucessivas pesquisas (as mesmas que conferem a Lula índices inéditos de popularidade), como o favorito à sucessão presidencial de 2010. Dilma Roussef, que Lula apresenta como sua favorita, não consegue decolar nas pesquisas.
Para Serra, a simpatia de Lula tem vantagens evidentes: facilita-lhe o desempenho administrativo e reduz-lhe a margem de atritos na futura campanha eleitoral.
Para Lula, que pretende retornar à Presidência em 2014, é conveniente, na hipótese de seu partido perder a eleição de 2010, ter no poder alguém que não lhe infernizará a vida. Alguém que não promoverá devassas que comprometam seu futuro político.
Nesse sentido, Serra lhe é confiável. Não há também entre ambos conflitos ideológicos maiores. Serra tem formação esquerdista, não detonará os movimentos sociais, nem os programas assistenciais do atual governo, como o bolsa-família - que, na verdade, se origina do anterior, do bolsa-educação e dos programas da Rede de Proteção Social, concebidos e conduzidos por Ruth Cardoso. Lula ampliou-os, mas não os concebeu.
Serra pode até modificá-los, ajustá-los à sua concepção administrativa, que difere da atual, mas não iria destroçá-los. Lula, na eleição que disputou com Serra, em 2002, viu-se respeitado pelo adversário, que recusou tentativas de assessores de sua campanha para que partisse para o jogo baixo, de acusações pessoais.
Serra encarna o PSDB que Lula e o PT moderado assimilam – e que, na concepção de muitos, formariam uma dobradinha invencível, capaz de ocupar por décadas o poder. Isso só não acontece porque disputam a hegemonia política em São Paulo, o que cria entre ambos rivalidade insuperável, que os mantêm presos à contemplação da árvore, sem condições de observar a floresta.
Há, por exemplo, muito mais afinidades entre o PSDB e o PT que entre este e o PMDB, integrante da atual base governista. Mas São Paulo impede que essa afinidade se materialize.
O governo Serra já está refazendo o orçamento estadual para 2009 para acomodar os recursos da venda da Nossa Caixa e ampliar o volume de investimentos, de R$ 18,6 bilhões para R$ 21 bilhões - importância igual à que o governo federal investirá no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no ano que vem, em todo o País.
Também foi redimensionada a previsão de investimentos para 2010. Agora, o total a ser aplicado no último ano do governo Serra será de R$ 24 bilhões. A soma dos dois últimos anos de governo chega ao inédito valor de R$ 45 bilhões de investimentos, o que permitirá a Serra condições para que estabeleça um recorde em investimentos em infra-estrutura na história do país.
É óbvio que, sem apoio do governo federal, isso não seria possível. E é óbvio que esse apoio não existiria se não houvesse entre governador e presidente da República disposição de selar um apoio político de simpatia recíproca. Ambos estão convencidos de que saem ganhando. Para Lula, Serra é dos males o menor. Para Serra, Lula é o contrário: dos bônus, o maior.
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