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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

4.03.2009

1964, uma reflexão

Jarbas Passarinho*

O reitor Jacques Dehaussy, da Universidade de Dijon, na França, ao fim
dos anos 70 do século passado, presidiu simpósio sobre o Papel
Extramilitar das Forças Armadas no Terceiro Mundo. Cientistas
políticos e mestres universitários dedicaram-se ao exame da incidência
dos golpes de Estado no Terceiro Mundo, violando a subordinação dos
militares ao poder civil. Ainda que os Anais de Tácito não se prestem
a tirar conclusões sociológicas de todos os eventos por ele vividos na
decadência do Império Romano, distinguem-se as modalidades das
intervenções, segundo o epílogo do simpósio. As mais arcaicas originam-
se do caudilhismo, das ditaduras puramente pessoais, ou da defesa dos
privilégios da profissão. Outras - reconheceram os participantes do
estudo do tema - responderam ao apelo vindo de fora dos quartéis, dos
civis que invocaram a consciência dos militares, ou a impaciência
deles para com os desmandos do poder civil.

Participei de dois golpes de Estado, um como tenente, cumprindo ordem
superior, e outro coordenando-o como tenente-coronel, no Pará. No
primeiro, depusemos o ditador Getúlio Vargas, em 1945. O poder civil
não se fez respeitado, mas logo restabelecido na subordinação dos
militares ao Supremo, para presidir a redemocratização do país. O
general José Pessoa, em nome do Exército, foi à casa do ministro José
Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal, e em nome das Forças
Armadas convidou-o a assumir o governo e convocar eleições, que logo
se realizaram.

O segundo golpe proveio do "apelo dos civis à consciência dos
militares" para com os desmandos do governo e uma ameaça, em plena
guerra fria, de aliança do governo com os comunistas. No Pará, onde eu
servia, havia-nos preparado para prevenir um autogolpe de Jango,
aliado a Prestes, intentando o estado de sítio e a reforma arbitrária
da Constituição, enquanto paralelamente Leonel Brizola pregava o
fechamento do Congresso. A aliança com o PCB, de que Prestes era o
primeiro-secretário, conta-a Luiz Carlos Prestes no livro Prestes,
lutas e autocríticas, por ele ditado a Dênis de Moraes, da sua grei.
Revela, ademais, que Jango, em plena expansão do comunismo
internacional, "até já compreendia o papel que exercia a União
Soviética".

Fixamo-nos no plano de resistência ao que um comunista, que não
deforma a história, denominou de pré-revolução, com apoio dos líderes
sindicais e dos sargentos. Em Brasília, sargentos da Aeronáutica e da
Marinha, armados, tomaram, em setembro de 1963, o quartel dos
fuzileiros, ocuparam os ministérios e os órgãos de comunicação.
Travaram luta com tropas do Exército, com mortes, até se renderem. Em
março de 64, outro motim. O dos marinheiros no Rio de Janeiro. Os
fuzileiros navais que, de ordem do ministro da Marinha, foram mandados
para prendê-los, solidarizaram-se com os amotinados.O presidente
aceitou a demissão do ministro e o substituiu por outro simpático aos
revoltosos.

A disciplina e a hierarquia, pilares de qualquer força armada,
desmoronadas transformaram os amotinados em bandos armados
prestigiados pelo próprio presidente da República. No livro de
Prestes, há uma passagem em que Jango quis apresentar-lhe uma dezena
de generais que lhe seriam leais. Prestes diz que nunca foi
apresentado aos generais, mas que "Jango se enganava com eles, pois
lhe conhecia a postura anticomunista".

A desordem civil e a amotinação dos militares graduados já eram parte
da disputa pelo poder. Que mais faltava para conquistá-lo? A imprensa,
com a única exceção da Ultima Hora, clamou pelo afastamento do
presidente Goulart. No Rio de Janeiro, o Correio da Manhã, no dia 30
de março, clamava, na primeira página: "O Brasil já sofreu demasiado
com o governo atual. Agora basta!". No dia seguinte: "Só há uma coisa
a dizer ao senhor João Goulart: saia!". O Correio não estava só. O JB,
em editorial, levanta a suspeita de ameaça comunista: "Quem quisesse
preparar um Brasil nitidamente comunista não agiria de maneira tão
fulminante quanto o sr. João Goulart a partir do comício de 13 de
março".

Da mesma ameaça trataram editoriais de O Globo. A Folha de S.Paulo, em
face do comício, em que as bandeiras da foice e martelo desfilavam na
frente do palanque de Goulart, desafiava: "Resta saber se as Forças
Armadas ficarão com o presidente, traindo a Constituição, ou
defenderão as instituições e a pátria". O prestigioso jornal Estado de
Minas se antecipara. A 18 de março, alertava: "A sorte está lançada.
Ninguém tem mais o direito de iludir-se. Abrem-se agora dois caminhos
ao Brasil: a democracia e o comunismo". Em São Paulo, a passeata "com
Deus e pela Liberdade", liderada pelas mulheres contou com quase 1
milhão de civis e religiosos. Goulart, no auge da agitação e da
falência da disciplina militar, proferiu, dia 30 de março, exaltado
discurso no encontro com um milhar de sargentos, que o homenageavam no
Automóvel Clube do Rio de Janeiro. Prestes comenta no livro: "Qual é o
oficial do Exército que vai ficar tranquilo sabendo que o presidente
da República se dirige, naquela linguagem, aos sargentos?". Jango
detonou a contrarrevolução, apoiada maciçamente pelo povo. Não houve
um só tiro disparado.

São passados 45 anos. Hoje, a contrapropaganda da esquerda ousa negar
provas indesmentíveis. A verdade incomoda e a isso não voltarei. É
inútil convencer mitômanos, a serviço dos resíduos do comunismo
fracassado.

*Foi ministro de Estado, governador e senador

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