"Lula é o cara e a Rainha, a coroa."
José Simão, humorista
por: Waldo Luís Viana*
Obama positivamente não errou. Disse o que todos os seus iguais
estavam sentindo. Lula é mesmo o gênio da raça, o rei da metáfora, o
maior governante do planeta!
"That´s my man" - exclamou o presidente democrata, numa
deferência típica da gíria norte-americana, que quer dizer, mais ou
menos, "esse é meu chapa" ou o nosso mais rastaquera "esse é o homem" e
não o que a imprensa ufanista traduziu, como se Barack houvesse dito "o
máximo" ou "o rei da cocada"...
Mesmo assim, a mídia subserviente preferiu focalizar o
comentário como exagero festivo e não como metáfora ilusória,
proposital e calculada de alguém que reconhece o devido lugar de nosso
desenvolto mandatário ao lado dos líderes mundiais.
Malgrado tantos esforços, nossos amestrados do jornalismo estão
sonhando! Com todos os rapapés, que antes não custavam nada, mas agora
custam muito na diplomacia internacional, o país não conseguiu nada de
significativo no exterior. Não emplacou nenhum dirigente em comunidades
multilaterais dependentes de voto, nem conseguiu o tão almejado assento
no Conselho de Segurança das Nações Unidas. De concreto nada, enquanto a
política externa procura criar um cenário de simulacro, em que pareça
que o Brasil é o mais influente dos países emergentes, hoje chamados
"BRICs", acima da China, Rússia e Índia, que frequentam o seleto grupo
de possuidores de bombas nucleares e tecnologias de dupla-face (uso
civil e militar).
A reação de Obama é proporcional, sem dúvida, à importância
das informações que recebeu, antes de encontrar, pela primeira vez, o
nosso presidente, em Washington.
Qualquer país sério tem mais de um serviço secreto e o
presidente norte-americano é abastecido com toda a sorte de inside
informations sobre o Brasil e seu trêfego presidente. Com a CIA e a NSA
em pleno funcionamento, e que não precisam pedir desculpas por fazer
escutas telefônicas e eletrônicas, Obama recebeu, como num filme de
Hollywood, toda a sorte de informações sobre o "tal Lula" e sua
personalidade vaidosa e ansiosa por popularidade fácil.
Daí a inflação de elogios em pleno palco internacional, que
enche de orgulho e vento o ex-operário, cujas deficiências intelectuais
o remetem a acreditar que seja realmente o máximo e que recebe
exatamente o que deseja do presidente da nação mais importante do
planeta. Obama, inclusive, foi aluno de um ministro do atual governo, em
Harvard, que, além de mal falar o português, afirmou em inesquecível
artigo, em 2005, que o governo Lula foi o mais corrupto da história
desse país! Esta sim, uma hipérbole da qual não discordo: "nunca nezte
paiz"!
Não houve outra alternativa, de acordo com o que inspirava o
marido de Michelle, senão ressuscitar, para consumo externo, o Zé
Carioca, personagem dos anos 40 do século passado, aquele brasileiro
manhoso, inzoneiro, cachaceiro, que gostava de feijoada, samba e
futebol, inventado pelos norte-americanos para aproximar o país aliado
na 2ª Guerra Mundial, agora transfigurado na figura sorridente e
melíflua do Lulinha paz e amor!
O governo dos Estados Unidos tem interesse explícito em inflar
o personagem, na América Latina, para deter o perigo, este bem real, da
influência de Chávez e do socialismo "bolivariano".
Todos sabem que Bolívar poderia ser tudo, menos socialista. Foi
libertador de republiquetas inimigas e morreu frustrado por não haver
conseguido constituir a "Grã-Colômbia", uma confederação de países a
noroeste da sulamérica que faria constraste ao poderio nascente do
Brasil. Nem de longe pôde ser comparado à grandeza de Dom Pedro I, vulto
histórico que acumulou duas coroas (a brasileira e a portuguesa), tendo
a visão holística de manter unido o império brasileiro, ameaçado de se
fracionar, caso fosse contaminado pelos ideais de Bolívar e outros
"heróis" da América espanhola.
Nosso país, por conseguinte, hoje funciona, na visão de Obama,
como "algodão entre cristais" entre os Estados Unidos e a Venezuela.
Percebendo a manobra, Hugo Chávez não passou recibo, porque caminha na
corda bamba diante do leão do Norte: qualquer descuido poderá deixar de
exportar para solo norte-americano mais de 1/3 de sua produção de
petróleo, o que resultará em enormes danos à eterna fome de poder e
expansionismo, além de tornar mais difícil a exibição de sua
fanfarronice diante dos já perplexos cidadãos venezuelanos.
Lula, por sua vez, representa uma espécie de poder moderador
completamente domesticado e fácil de levar, desde que seja sempre
elogiado e tolerado na roda dos maiorais. Posto isso, como axioma, os
dirigentes do G-7, expandidos por concessão ao G-20, perceberam como
melhor tratá-lo, dando-lhe sempre aquilo de que mais precisa: um lugar
na Terra, abaixo apenas de Deus, mas sem qualquer importância ou
concessão real.
"Lula é o cara, aí, ê, ô..." - comentam em suas gírias
características os dirigentes dos países ricos, rindo-se pelas costas de
suas ridículas metáforas, que vêm causando imensa vergonha ao povo
brasileiro. Embora concordem que o Brasil não é para principiantes, não
conseguem entender como o povo deste país conseguiu eleger alguém tão
primário e pueril, cujas origens não conseguem disfarçar o
deslumbramento diante das luzes da ribalta mundial...
Na foto comemorativa do encontro internacional, sentado ao
lado esquerdo da Rainha, como pede o protocolo, já que é o dirigente de
mandato mais antigo, estava sorridente e encantado por agradar a City
britânica, empenhada como nunca em agradecer a recente "entrega" da
Reserva Raposa do Sol.
Obama, ao fundo, sorria às escâncaras, sem precisar sair do
plano de fundo para demonstrar poder, que é real, sem lugar privilegiado
na fotografia, deixando o simulacro, domesticado e agradecido,
sobressair, na crença vaidosa de que jamais poderia ter chegado tão longe!
Obama entendeu, espertamente, que nosso presidente, coitado, é
um personagem que finge ser o que não é quase todo o tempo, demonstrando
explicitamente o prazer do deslumbramento, dos que sabem lá no fundo que
não deveriam mesmo estar ali. É o Zé Carioca, que resolveu ser chique e
se modernizar, virando, finalmente, um poodle bonzinho e sorridente!
Pobre Brasil!
*Waldo Luís Viana é escritor, economista e poeta e gosta muito de
animais de estimação!
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