Polícia quer refazer percurso do crime com quebra de sigilo telefônico
Rio - A relação de um dos militares com o Complexo de São Carlos — dominado pela facção Amigos dos Amigos (ADA) — começou bem antes do contato feito, na manhã de sábado, para que os três jovens da Providência, controlada pelo Comando Vermelho (CV), fossem levados até a comunidade rival para morrer. Há pelo menos quatro anos, José Ricardo Rodrigues de Araújo, o soldado Rodrigues, de 19 anos, freqüenta a região, onde moram tios e primos.
Como O DIA informou ontem, a quebra dos sigilos telefônicos foi pedida. Rastreando as ligações e os registros das antenas, principalmente do telefone celular do soldado, os investigadores esperam reconstituir o passo-a-passo do crime.
O que a Polícia Civil já sabe é que o veículo do Exército entrou no complexo pelo acesso que fica ao lado da subestação da Light e seguiu até a região conhecida como Chuveirinho, no Morro do Zinco. Lá, os jovens foram entregues a Anderson Eduardo Timóteo, o Derson, um dos gerentes do tráfico, que tem fama de sanguinário. Em maio de 2004, ele matou o primo Célio, 14 anos, e obrigou o tio a tirar o corpo da favela em carrinho de mercado.
A autorização para matar os jovens foi dada pelo chefe do tráfico, Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol ou Lindão, que não teria participado das execuções. “Mas ele proibiu que qualquer morador ficasse perto ou comentasse o assunto aqui dentro”, revelou um morador. Quando os militares chegarem à favela com as vítimas, um soldado — que a polícia investiga se foi Rodrigues — teria saltado do veículo e cumprimentado alguns bandidos. O trio foi deixado e os militares foram embora.
Levados a um campo de futebol, os rapazes foram torturados e mortos com golpes de faca e dezenas de tiros. Após jogarem os corpos numa lixeira na Praça São Roberto, divisa entre o Zinco e a Mineira, os bandidos fizeram contato para que um caminhão de lixo retirasse a caçamba dali. Mesmo num sábado, conseguiram. Os corpos foram parar no Caju e, dali, seguiram para o Aterro Sanitário de Gramacho, em Caxias.
A ligação de Rodrigues com o São Carlos deve-se, principalmente, ao fato de seus tios e primos morarem em uma das subidas da favela. O local fica perto da casa do militar, no Rio Comprido.
Na favela, moram tia do militar e o marido dela, que já foi condenado por assalto à mão armada. O casal foi pivô de confusão no morro em 2004, registrada na 6ª DP (Cidade Nova). Através da família, a 4ª DP vai tentar chegar aos criminosos com quem Rodrigues mantinha contato.
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