Tânia Monteiro
Jobim ouviu, em especial, as ponderações do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, com quem conversou na sexta-feira, mas não fez nenhuma promessa. Os militares gostariam de uma manifestação de Lula como comandante supremo das Forças Armadas, admitindo, como já disseram o vice-presidente José Alencar e outros ministros, que não compactua com as idéias de Tarso, que a anistia é uma questão do Judiciário e que o Executivo não vai tomar a iniciativa de reabrir a discussão em torno da abrangência da anistia quase 30 anos após a aprovação da lei.
O interesse dos militares deve entrar na pauta da reunião da coordenação política, nesta segunda-feira, às 16 horas, com a presença de Lula, mesmo estando Jobim de viagem marcada para a Amazônia. Os dois deveriam conversar neste fim de semana, depois que o presidente voltar da China - o que estava previsto para ontem. O mais provável é que, na terça ou em outro momento que julgue adequado, mesmo sem fazer uma crítica direta a Tarso, Lula acabe por dizer algo genérico, na linha de que "é preciso olhar para o futuro", ainda que não seja possível "apagar o passado".
A negociação em torno de uma declaração pública do presidente foi precedida de um entendimento costurado desde o fim da semana passado entre Jobim e Enzo por causa da manifestação de apoio às Forças Armadas, na forma de um seminário realizado na quinta-feira no Clube Militar, no Rio. No fim daquele dia, houve alívio com a postura dos militares da ativa que participaram da manifestação, mas - como pré-acertado entre Jobim e Enzo - não cometeram atos de indisciplina, quebra da hierarquia ou afronta à autoridade superior.
Os militares decidiram não exibir as fichas de quem chamam de "terroristas esquerdistas que, devidamente anistiados, estão no governo". Em contrapartida, o comandante militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira, e o chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa do Exército, general Paulo César Castro, puderam ir ao "seminário", mas aceitaram a condição imposta pelo general Enzo, de marcar presença "como pessoas físicas". Ouviram do comandante a recomendação de que não poderia proibi-los de ir a um teatro, mas entendia que eles não deveriam ir ver uma peça fardados, assim como não deveriam emitir opinião sobre o assunto em debate. Para o comando, a "peça" do Clube Militar deveria ser encarada como ato público social.
Assim foi feito. Os dois generais foram à paisana e se limitaram a dizer que quem fala em nome do Exército é o comandante. O general Enzo comunicou o fato a Jobim e ambos entenderam que não havia problemas se eles fossem e cumprissem o acertado. Na sexta-feira, mais uma vez, Jobim e Enzo conversaram e avaliaram que tudo correu dentro da normalidade.
Um ministro de Lula, embora reconheça que não houve quebra de norma militar com a presença dos dois generais , observou que eles "agiram no limite" e "se posicionaram politicamente" ao ir ao Clube Militar. Segundo o ministro, da mesma forma que Tarso não deveria ter falado o que falou, os generais não deveriam ter ido lá.
Coincidência ou não, no dia da cerimônia com os novos oficiais-generais, na terça-feira, Lula se reunirá também com representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio. O presidente vai participar do lançamento da caravana da UNE pelo País, em defesa da educação, da saúde e da cultura. Os estudantes que se reunirão com Lula serão os mesmos que foram ao Clube Militar, na quinta-feira, gritar palavras de ordem contra os militares.
Do Estadão
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