Luís Mauro Ferreira Gomes
Em 1º de agosto de 2008
Hoje falaremos, ainda que implicitamente, de ingenuidade, desinteresse, alienação, egoísmo, medo, covardia, mas, também, de desprendimento, perseverança, bravura, heroísmo, patriotismo e outros sentimentos e atitudes que pautam os nossos comportamentos.
Como seres humanos, somos, em maior ou menor grau, condicionados por quase todos eles, cabendo-nos, com o arbítrio que Deus nos deu, decidir os que prevalecerão, pelos quais seremos conhecidos na História.
Nunca duvidamos de que devemos enfrentar a morte com coragem, lutando até o último momento, jamais sucumbindo à sedução da desistência precoce, para que o fim chegue mais rapidamente e com menos sofrimento.
Talvez, por isso, tenhamos tanta admiração pelos animais que vendem caro a vida. Se tiverem de ser devorados, que não se tornem presas fáceis, que o predador pague o preço pela caça: um lábio mordido, um nariz arranhado, ou quem sabe, um olho furado.
Merecem todo o nosso respeito as presas e os predadores menores, que resistem aos maiores até o fim, e, sem desprezá-las, sentimos enorme pena das reses que marcham, resignadas, para o abatedouro.
Elas, pelo menos, não têm escolha.
Mas, para tranqüilidade dos nossos leitores tradicionais, é sobre política, e não do instinto de sobrevivência dos animais, que vamos tratar.
Faz bastante tempo, a sociedade brasileira parece perdida, diante de um dilema inexplicável: reagir, heroicamente, em defesa de seus valores e princípios, ameaçados por maus governantes, ou renunciar à liberdade e, talvez, à vida, enquanto assiste, inerte, estabelecer-
Há muito ninguém governa o País, que vive de crise em crise. E sobejam os casos de corrupção, que envolvem grande número de ministros, além da cúpula partidária da base de apoio do governo, a ponto de comprometê-lo inteiramente.
Agora, com a divulgação seletiva de trechos do conteúdo do computador de Raúl Reyes (que, brevemente, de uma ou de outra forma, se dará a conhecer no seu todo), começam a surgir fortes indícios comprobatórios daquilo que todos já sabíamos: o envolvimento de ministros e outras importantes personalidades do governo com o narcoterrorismo das FARC.
Infelizmente, começam a aparecer, também, talvez por má fé, talvez pela leviandade de quem quisesse mostrar serviço, referências a pessoas de reputação ilibada, cuja trajetória política desautoriza qualquer ilação a esse respeito. Deve-se ter bastante cuidado, portanto, para que, por açodamento, por imprudência ou por insídia, não se venham a comprometer reputações injustamente.
Mas, em nenhuma hipótese, a comprovação da inocência de uns deverá servir de pretexto para a absolvição antecipada daqueles que, para atingir seus objetivos políticos escusos, não hesitaram em pactuar com terroristas e traficantes, deles recebendo ajuda, inclusive financeira, em troca de favorecimentos ilegais.
Não devemos desperdiçar mais esta oportunidade.
Nossos inimigos são covardes e jamais atuam diretamente, crescendo, apenas, diante da nossa leniência. Devemos, por isso, mantê-los acuados, sob ataque cerrado em todas as frentes. No passado, fizemos isso e sempre vencemos.
Dizem que os militares ganharam a luta armada, mas perderam a guerra da comunicação. Grande bobagem. Militares combatem com armas, como instrumento das ações, e é assim que continuará a ser. Políticos, entre outros, é que usam a "propaganda como a arma do negócio".
Se alguém está perdendo a guerra da comunicação, portanto, são eles.
Eles, que receberam a responsabilidade de conduzir os destinos da Nação e se revelaram inteiramente incapazes de fazê-lo, permitindo ou promovendo a deterioração quase total dos serviços essenciais do Estado; a generalização da corrupção; as práticas criminosas dos movimentos ditos sociais, financiados com dinheiro público; a valorização dos bandidos e o aniquilamento do cidadão; a oficialização do racismo estúpido e extemporâneo.
Promoveram ou permitiram, também, o estabelecimento da insegurança jurídica; a desmoralização do poderes constitucionais, a invasão da competência de Estados da Federação; o desrespeito sistemático à ordem constitucional, o comprometimento da segurança nacional, pelo enfraquecimento intencional das Forças Armadas e pela adoção de políticas irresponsáveis, que colocam em sério risco a nossa soberania e a integridade territorial do País.
E, ainda, fingem não ver os avanços totalitários do governo, quando não se vendem barato, passando a coniventes da traição.
Não obstante, muito me preocupam as desculpas que alguns encontram para a omissão (inicialmente cômoda, mas, logo depois, trágica): "está tudo perdido"; "não há mais nada a fazer"; "nada cola nele"; "enquanto tiver toda essa popularidade, não há como reagir".
Realmente, diante da renúncia, não há salvação.
Faz algum tempo, o presidente dá OAB disse em entrevista, após reunião da Ordem para decidir se seria pedido o impedimento do presidente da República, que, embora tivessem encontrado fortes indícios da prática de Crime de Responsabilidade, nada seria feito, dada a grande popularidade de que ele gozava.
Recordamo-nos de que, à época, escrevemos sobre isso em um artigo, no qual dizíamos ser a convicção da prática do referido crime o que leva ao processo de impedimento. Destituir um presidente porque é impopular, sem que o tenha cometido, é, simplesmente, dar um golpe de Estado, enquanto deixar de fazê-lo, alegando-se a popularidade presidencial, não passa de conivência.
Que políticos se escondam atrás desses argumentos, até entendemos, mas o militar, que existe e é pago para defender a Pátria com o sacrifício da própria vida, não tem o direito de usá-los para furtar-se de agir.
Demonstrar qualquer tolerância com quem nos quer destruir, na vã esperança de receber, amanhã, algum tipo de tratamento piedoso dos possíveis vencedores, além de uma indignidade, é um grave erro, que terminaria por nos levar, aí sim, à derrota.
Como diz o aforismo: somente devemos sentar-nos à mesa com o inimigo, quando este for assinar a rendição.
Bem, a Avaliação da Conjuntura está pronta, e todos conhecemos, muito bem, a situação. Todos sabemos, igualmente bem, o que fazer.
Chega de diagnósticos!
Se algumas instâncias deixaram-se corromper ou cooptar e não coíbem esses abusos criminosos como deveriam, aquelas que ainda permanecem livres têm o sagrado dever de usar todos os remédios disponíveis, por mais amargos que sejam, para salvar-nos da servidão iminente.
Para tanto, resta-nos, apenas, aposentar as desculpas esfarrapadas para a omissão imperdoável, aceitar os riscos decorrentes das ações e fazer o que tem de ser feito, com a bravura e o heroísmo de sempre.
Ainda há tempo.
O autor é Coronel-Aviador reformado.
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