Atualmente verificamos em alguns países tendências políticas, econômicas e sociais que favorecem o surgimento de indivíduos, ou de grupos, tão poderosos que são capazes de produzir e de atrair para a sua esfera de influência a devoção a certas causas que são colocadas até mesmo acima da própria nação. A Ideologia Bolivariana, projeto claramente político expansionista e de intervenção em assuntos internos de outros países da América Latina, pode ser apontado como um exemplo.
A guerra deixou de ser simplesmente o embate entre nações por intermédio de seus exércitos. A sociedade, hoje, poderá ser atacada mediante o emprego, normalmente combinado, de idéias, da tecnologia, da força militar e do controle dos meios de comunicação.
Interessante artigo, de autoria de Nilder Costa, comenta uma entrevista publicada no jornal mexicano Excelsior com Mário Moya Palencia, ex-Secretário de Justiça e ex-Embaixador na Itália, na qual ele denuncia a associação do Exército Zapatista de Libertação Nacional1 com organizações não governamentais (ONGs) internacionais para desestabilizar o México:
“Moya declarou que os vínculos entre os zapatistas e as ONGs transnacionais ‘são mais que evidentes` e cita um trabalho do Grupo de Estudos Internacionais da RAND contendo uma lista de 33 ONGs ´especializadas` em direitos humanos, direitos indígenas, desenvolvimento de sistemas cibernéticos (comunicação), ecumênicas ou religiosas [...]”.
“Um aspecto de especial relevância foi a atuação das ONGs que deram (e dão) suporte logístico de comunicações, principalmente via internet, e que acabou transformando um obscuro e localizado movimento de cunho maoísta em atração internacional. De fato, recorde-se que foram trocados alguns tiros nos primeiros dez dias de confronto, após o que os zapatistas retraíram para seu santuário na selva Lacandona e, a partir daí, metamorfosearam-se nos primeiros guerrilheiros ´virtuais` de nossos tempos, graças, em grande parte, à atuação desse enxame de ONGs que encarregavam-se de divulgar mundialmente as ´mensagens` e as ordens de marcha do subcomandante ´Marcos`.”
“A rigor, pode-se afirmar que os zapatistas não teriam resistido mais que algumas semanas não fosse esse maciço suporte propagandístico e logístico proporcionado pelo aparato internacional de ONGs, o que levou alguns estudiosos a qualificar a insurgência como a primeira experiência bem sucedida de uma netwar. Nesta nova modalidade de guerra irregular, as ONGs utilizam-se de faxes, teleconferências (netmeetings), mensagens eletrônicas (e-mails), pagers e telefones celulares (que, em 1994, já eram operacionais em Chiapas) para coordenar campanhas, divulgar ordens e pronunciamentos etc”.
“A forma organizacional destes grupos não é mais hierárquica mas de rede (net), com coordenação de baixa intensidade, mas onde todos comunicam-se entre si e sem mostrar uma cabeça visível, o que dificulta sua contra-organização por órgãos governamentais que usualmente possuem estruturas hierarquizadas. O governo mexicano, por exemplo, precisou adaptar-se a esta nova modalidade de guerra irregular e criou um grupo interagências no Centro Nacional de Investigação e Segurança (CISEN), subordinado à Secretaria de Justiça, que passou a coordenar a estratégia geral de contrainsurgência.”2
Henrique Antoun acrescenta que “para Arquilla e Ronfeldt a luta pelo futuro que faz o cotidiano de nossas manchetes não está sendo travada por exércitos liderados por Estados ou sendo conduzida por imensas e milionárias armas feitas para os tanques, aviões ou esquadras. Elas se desenvolvem através de grupos que operam em unidades pequenas e dispersas, podendo se desdobrar repentinamente em qualquer lugar ou tempo como uma incontrolável infecção por afluência popular (swarming).
Eles sabem como enxamear e dispersar, penetrar e romper ou iludir e fugir. Os combatentes podem pertencer a redes de terroristas como a Al Qaeda, redes de traficantes como Cali, redes de militantes anarquistas como o Black Bloc, redes de luta política como o Zapatismo ou redes de ativistas da sociedade civil global como o Direct Action Network (DAN).”
“Para compreender este modo emergente de luta e conflito, surgido na sociedade contemporânea, a partir da revolução tecnológica que construiu a infra-estrutura do ciberespaço, Arquilla e Ronfeldt criaram [...] o conceito de guerra em rede (netwar), como o oposto correlato do conceito de ciberguerra (cyberwar) [...]. Enquanto a ciberguerra compreenderia a luta de alta intensidade conduzida através de alta tecnologia militar travada por dois Estados (como, por exemplo, a Guerra do Golfo), a Guerra em Rede tem dupla natureza, pois, por um lado, é composta por conflitos travados por terroristas, criminosos e etnonacionalistas extremistas e, por outro, por ativistas da sociedade civil - Guerra em Rede Social (GERS)”.
A GERS pode se apresentar sob a forma de conflito, não necessariamente de guerra, e é apoiada por ferramentas de Guerra Psicológica Mediática, como estratégia e sistema avançado de manipulação e controle social.
A Guerra Psicológica Mediática, em apoio à GERS, é realizada por grupos operacionais de guerra psicológica infiltrados na sociedade civil. Esses grupos se aproveitam do fato mediático, obtido por intermédio do emprego planejado da propaganda e da ação psicológica, para direcionar condutas. Em outras palavras, por meio do terrorismo ou da propaganda, buscam o controle social, político e militar do país, e de sua população, sem recorrer ao uso de armas.
As redes na GERS, desenvolvidas principalmente por ativistas políticos e ONGs, podem incluir instituições oficiais de governo. Normalmente, sua campanha não possui escritórios centrais ou burocracia e funciona pelas livres coordenação e comunicação entre seus diversos grupos na busca de objetivos comuns. Um exemplo: as ações de agentes bolivarianos no Equador, na Bolívia, na Nicarágua, na Argentina e no atual conflito em Honduras.
A GERS é um instrumento de alcance estratégico, de aparência amorfa, deliberadamente estruturado e coordenado para golpear, a partir de diversas direções, um ponto particular ou vários pontos de uma sociedade, por meio da presença sustentável de idéias - operações psicológicas mediáticas. Essa presença sustentável de idéias será metafórica, no caso da ação de ativistas ligados às ONGs.
Na conjuntura brasileira atual, não somente as questões ambientais e indígenas constituem alvos potenciais para uma possível GERS. Vale destacar que o desenvolvimento de uma "guerra civil de baixa intensidade", como anunciada publicamente pelos líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST), deve ser motivo de atenção do governo e da sociedade brasileira.
Também é preciso ressaltar o constante incremento no número de ONGs, nacionais e estrangeiras, que atuam em nosso território, normalmente abastecidas com recursos vindos do exterior ou do próprio governo brasileiro.
Analisando declarações do atual presidente venezuelano, e o apoio que prestou para o retorno do presidente hondurenho recentemente deposto, podemos entender como possível a existência de operadores de guerra psicológica mediática oriundos da Venezuela atuando em Honduras em favor do Chefe de Estado afastado.
No âmbito da diplomacia brasileira, convém procurar entender o apoio prestado pelo Brasil, que quebrou sua neutralidade ao emprestar sua embaixada para escritório político de um presidente afastado do poder...
A Venezuela se dedica a estudar a Guerra de Quarta Geração, principalmente na vertente GERS, por acreditar que ela constitui um instrumento empregado pelos Estados Unidos na manutenção de sua “postura imperialista” contra seu país e por ser a estratégia que escolheu para impor a nações latino-americanas o seu Projeto Bolivariano.
Se esse raciocínio estiver correto, o próximo alvo na América do Sul será o governo liberal do Peru.
Aos que duvidam disso, recomendamos a leitura da Declaração Final do XV Encontro do Foro de São Paulo, realizado de 20 a 23 de agosto de 2009, na Cidade do México...
http://www.jusbrasil.com.br/politica/3434045/foro-de-sao-paulo-divulga-declaracao-final-do-xv-encontro
Carlos Alberto Pinto Silva é General de Exército da reserva
MG > Levanta Brasil – União e clamor uníssono
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