Foi assim com Lula.
Deslumbrada com a hipótese de um "presidente-operário", a quase totalidade da imprensa nacional aderiu à causa sem se perguntar sobre a real ética por trás do discurso petista ou do quanto o tributarismo do partido aos métodos totalitários esquerdistas e o sindicalismo viciado do próprio Lula poderiam ser danosos para uma democracia recém conquistada. Nada disso. Fruto do esforço militante - mas também, em boa parte, do encantamento da imprensa nacional com a possibilidade de um operário ocupar a presidência -, passados treze anos desde sua primeira candidatura, Lula subiu a rampa do Palácio do Planalto.
Está acontecendo novamente. Agora, a figura a assanhar o imaginário do articulismo e da imprensa nacional é uma mulher, ecologista. Ela, é claro, tem origens humildes e uma história de superação pessoal. Estas coisas que são rastilho de pólvora nos corações de uma categoria profissional que não raro alimenta um certo sentimento de culpa por ser classe média em um país de grandes contrastes sociais - quando não tem, em casos mais extremos, por ápice de sua formação humanista ícones da auto-ajuda esquerdista como Leonardo Boff.
Como já vi que há articulistas respeitáveis entrando nessa, só posso recomendar cautela. Porque só falta a imprensa nacional , ou boa parte dela, que pariu Lula ao alimentar o seu capital simbólico enquanto "representante das massas operárias" e fechar os olhos para todo o resto - resto que, é bom lembrar, já mostrava a ponta do rabo nas prefeituras administradas, à época, pelo petismo - agora sustentar cegamente o mito da mulher de origem humilde, a menina que 'veio da selva', defensora ardorosa da natureza que 'não se deixou corromper pelo poder'.
Só falta a imprensa nacional incensar Marina Silva, tal qual incensou Lula uma vez, fechando os olhos para o seu autismo em relação à economia, seu apego a 'modos de produção" que não passam de utopias mal-acabadas e seu despreparo geral para ocupar a presidência de um país como o Brasil. Só falta a imprensa se fazer de cega, inclusive, para a obviedade de que Marina Silva seguiu no PT mesmo quando o discurso ético do partido se revelou o maior estelionato eleitoral que já se viu por essas terras - exatamente aquilo que a assemelha a um Pedro Simon, grudado há décadas em um PMDB que diz não reconhecer.
É provável que tal cruzada só venha a render frutos em quinze anos - talvez menos, considerando que as novas tecnologias de informação aceleram todos os processos. Mas dá medo. Porque o Brasil já perdeu tempo - e recursos - demais com aventuras utópicas. Não precisávamos de um operário fajuto, representante de uma ética do "não sei, não vi" tanto quanto não precisamos - hoje ou daqui a uma década - de uma ecochata filha da mesma ética.
Por: Nariz Gelado
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