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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

9.17.2008

LULA É NOSSO ÚNICO ACONTECIMENTO

Enviado por Arnaldo Jabor - 16.9.2008

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_Post=126605&a=112

 

Quando eu comecei a escrever em jornal, há 17 anos (santo Deus...), fiz um juramento de que nunca começaria um artigo com a célebre frase: "Estou diante da página branca, em busca de um assunto..." E cumpri a promessa, querido leitor. Jamais fiz isso. Mas, hoje, não sou eu quem está sem assunto, é o Brasil. Parece não acontecer mais nada no país. Como se explica isso?

 

Bem, é que Lula é o único acontecimento. Ele se apropria do que acontece e interpreta-o em seu interesse. Pode transformar acontecimentos em não-acontecimentos e vice-versa. Pode transformar o nada em fato e o fato em nada. Com seu carisma e marketing constante, joga uma nuvem de poeira nos olhos do país. Ele entendeu que basta apoderar-se dos defeitos e cacoetes políticos do Brasil e saber manobrá-los para tudo marchar com "normalidade". Apesar de crises de fait divers, nunca o Brasil pareceu tão normal.

 

Com a economia bombando, como ele teve a sensatez de manter a boa política econômica do governo anterior, basta a Lula manter a imagem do funcionamento político normal, aceitando as anormalidades como normais, aceitando vícios dos poderes como fatos inevitáveis e, sabe ele, nem tão danosos à sua administração. Lula fatura como seus todos os acertos do governo anterior e jogará seus erros nos ombros de quem vier depois, disse uma vez Dora Kramer.

 

O que me dói neste governo é o que ele poderia estar fazendo com a imensa grana que entrou com esta bonança e com as alianças que teceu. Mas grandes mudanças e reformas essenciais dariam muito trabalho, desgastes, e Lula não quer aporrinhação. Ele conseguiu ficar fora de todos os escândalos que os babacas bolchevistas aprontaram. Saiu limpo e mais branco ainda, com o Omo da impunidade.

 

Sejamos justos: Lula merece elogios. Ele tem sido sensato, aqui e na América Latina, quer fazer algo pelo Brasil, sim, trouxe o conceito de fome e pobreza para a agenda administrativa e tem sido democrático. Mas este artigo trata mais de sua genialidade política. Aí, sim. Trata-se de um maquiavel espontâneo, forjado na luta dura da viagem entre as classes sociais

 

Ele aparece todos os santos dias na TV, rádio e jornais, pois descobriu o Brasil real e — aí está seu gênio — descobriu algo que ninguém viu antes: que o Brasil não precisa de governo, basta parecer que tem. Ele entendeu que não existe uma meta a priori, desistiu de qualquer idéia de atingir uma síntese. Esta é a grande dificuldade de se analisar seu governo.

 

Os comentaristas típicos partem de uma premissa de progresso no futuro e esperam que ela seja cumprida na prática. Mas nós não conseguimos concluir nada. Afinal, é bom ou ruim? Ninguém tem certeza. Lula não trabalha com isso. Acha isso uma bobagem "modernista". Seu projeto é ele mesmo. Ele deixa o Brasil andar sozinho e não mexe no essencial. Ele raciocina intuitivamente caso a caso, sem grandes projetos totalizantes.

 

Lula adotou como atitude o sentido da "cordialidade" que Sergio Buarque de Holanda descreveu. Como a classe dominante do Nordeste, da qual ele foi a vítima, Lula usa o jeitinho do "homem cordial" para si mesmo. "Aos amigos aliados, tudo"; tolerância até com os macarrões de um Severino para governar em paz. Ele sabe que tudo se esquece. Quanto à lei e a questões institucionais, ele não liga muito. Não fere a lei, mas tolera que seus sórdidos aliados o façam, como se dissesse: "É o Brasil, que que se vai fazer?" E atenção, inimigos meus, vou dizer uma frase polêmica: talvez só essa velha cordialidade ibérica nos preserve uma louca e tropical "democracia". Lula usa isso.

 

Lula desmoralizou os escândalos, tolerando-os. Ele não é malandro nem desonesto, mas tem sensibilidade para o que o Brasil quer ver. Este é o outro tema deste artigo: Lula como ator. Sim. Até hoje só foi enfrentado por outro gênio do palco: Roberto Jefferson, que até lhe fez o favor de livrá-lo dos bolchevistas psicopatas que o impediam de governar. Agora, só tem tarefeiros e pelegos na boquinha, mas que não fazem tanto mal quanto os "dirceuzistas", que nos jogariam na vala da Argentina.

 

O Lula-ator tem o selo de legitimidade de sua vida de operário. Tudo bem. E ele passa habilmente a "sabedoria" que o sofrimento lhe deu, a paciência diante das crises: "Calma, pequenos-burgueses!... Eu sei o que é a vida, já passei por coisa pior!" Lula desqualifica qualquer seriedade dramática com brincadeiras populares, como o Corinthians, o dedo cortado, o Brasil comparado ao Sítio do Picapau Amarelo, o mar salgado de xixi. Mas, se precisar, ele fala sério com a bruta indignação do sindicalista vítima do "sistema", assim como pode ser tranqüilo e debonaire na reunião da Febraban ou sereno com reis e duques.

 

É um craque. Só vi o Lula perder o prumo no auge do mensalão, quando temeu por si. Ali, suas sobrancelhas se arquearam de verdade, e seus olhos giraram para cima, nas órbitas. Ali, ele teve medo mesmo de ser jogado de volta ao passado de pobreza e marginalidade. Já na campanha da reeleição, com a subida do Alckmim, ele arregaçou as mangas, mandou fazer um palanque de passarela como o do Mick Jagger e botou para quebrar. Era um leão acuado que ganhou de goleada.

 

Essa multiplicidade de cores, cambiantes, velozes como as lulas, é sua maior munição. Quando se zanga, dá medo. Quando ri, é uma graça — suas covinhas são irresistíveis, nos acalmam, nos desmobilizam; suas piadas, mesmo sem graça, tiram a tragicidade de crises. Isso tudo sem falar no seu "design" perfeito: barriguinha, um getúlio barbadinho, simpaticíssimo, o nome de fácil legibilidade como "Pelé"... em suma, um crack. E tem mais: o país é tão "imexível", tão duro de roer, tão resistente a qualquer cirurgia ou reforma, que talvez Lula tenha razão em sua tática de ciência política...

 

 

(Transcrito de O Globo de 16/9/2009)

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