Publicado na Veja
As revelações do ex-petista atingem a DS, corrente que reúne 20% do PT, comanda um ministério no governo do presidente Lula e tem como seu líder principal o ex-prefeito de Porto Alegre e ex-secretário-geral do partido Raul Pont. De acordo com Salazar, entre 1999 e 2005 ele foi funcionário-fantasma nos gabinetes de Pont e do deputado estadual Elvino Bohn Gass. Além de não trabalhar, ele repassava o dinheiro que recebia integralmente aos parlamentares. "Eu sacava todo o salário na boca do caixa no dia seguinte ao pagamento. Até férias e décimo terceiro eram devolvidos. O dinheiro ia para o caixa dois da DS", afirma ele. Extratos da conta de Salazar, em poder da Justiça, comprovam os saques. "Ele trabalhou e sempre recebeu tudo o que deveria", rebate Raul Pont. "É estranho essa denúncia aparecer em pleno período eleitoral." O deputado Bohn Gass confirma que Salazar trabalhou em seu gabinete e atribui sua indicação à cúpula do PT estadual. Ele nega ter se apropriado do salário do ex-funcionário.
Para arrecadar dinheiro e manter seus candidatos, valia tudo – tudo mesmo. Os vereadores, por exemplo, dispõem de uma cota de selos para enviar correspondência a seus eleitores. O então vereador petista Carlos Pestana, também da DS, cedeu sua cota mensal de selos ao grupo. Salazar narra ter transformado a "doação" em dinheiro vivo ao revender os selos a uma agência franqueada dos Correios por metade de seu valor. Na campanha para a prefeitura de Porto Alegre, em 2004, apenas mercadejando selos de parlamentares petistas, Salazar diz ter arrecadado 25.000 reais. O candidato a prefeito era Raul Pont e sua vice, a deputada federal e atual candidata à prefeitura de Porto Alegre Maria do Rosário. O ex-assessor reuniu extratos bancários e diz que 400 000 reais "não contabilizados" passaram por suas mãos para a campanha. Ele afirma que tanto Raul Pont como Maria do Rosário sabiam do caixa dois. Ambos negam. "Isso não é uma prática exclusiva da DS. Todas as correntes internas se financiam com caixa dois. É uma ação corriqueira no PT", afirma o ex-assessor petista, que também prestou depoimento ao Ministério Público, que vai investigar o caso.
O descontentamento que levou Salazar a denunciar os antigos companheiros não se limita ao salário de funcionário-fantasma que repassava integralmente ao PT. Ele ainda reclama que o partido não honrou despesas que assumiu para financiar candidatos petistas. Oito cheques assinados por ele, somando 37.500 reais, foram devolvidos. Um financiamento bancário de 30.000 reais, que ele jura ter tomado para as campanhas petistas, também não foi pago. Salazar se sente enganado sobretudo pela complexidade do trabalho que diz ter prestado ao PT. Além de vender selos e carregar malas de dinheiro ilícito, uma de suas funções era conseguir notas fiscais frias para as empresas que contribuíam com o caixa dois do partido. Uma de suas fontes de notas fraudulentas era a gráfica Comunicação Impressa. A empresa, que recebeu 75.000 reais do valerioduto em 2005, é uma freqüente fornecedora petista. Ela aparece até na prestação de contas da campanha de Tarso Genro ao governo do Rio Grande do Sul, em 2002. Mas uma coisa aparentemente nada tem a ver com a outra. É histórica a divergência entre Raul Pont e Tarso Genro. Os dois, inclusive, pertencem a alas rivais do PT.
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