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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

4.06.2008

Esses caras são bandidos?

Folha de S. Paulo
Esses caras são bandidos?
Augusto de Franco

A TRAMA se desenrola no meio político, dominado por uma turma da pesada, cujo chefe mafioso é muito bem-visto pela população em virtude de suas obras de caridade. Mas eis que um investigador de polícia descobre evidências de um crime cometido pelos poderosos. No início, ninguém acredita. Ele é até punido pelo chefe. Mas insiste em puxar o fio. A história vai parar nas mãos de um jornalista corajoso que publica a matéria. Então a coisa toda desmorona. E a população, afinal, enxerga a verdade: os caras eram bandidos.
Há dezenas de filmes assim, exatamente com o mesmo argumento. São quase um lugar-comum em Hollywood. Mas não estamos assistindo a um desses batidos filmes policiais americanos. Estamos no Brasil de 2008, em plena "Era Lula", em que de nada adianta a publicação -nem de uma, nem de cem evidências- de crimes cometidos pelo governo.
Todavia, aqui seria possível concluir que os caras são bandidos?
No nosso mundo real, a turma da pesada é do PT. Mas, curiosamente, o PT tem menos bandidos -no sentido criminal do termo- do que a maioria dos outros partidos brasileiros.
Entretanto, no sentido social da palavra -aquele sentido a que se referia Eric Hobsbawm no interessante ensaio que publicou no final dos anos 70 sobre os "Rebeldes Primitivos"-, não há como fazer nenhuma comparação: o PT é um partido de bandidos.
Calma lá, litigantes de má-fé! Com isso não quero dizer que a maioria, uma parte ou todos os filiados e militantes do PT são bandidos (no sentido criminal do termo). Quero dizer que o PT é presidido por uma lógica ou uma racionalidade própria dos bandos. E que não é à toa que tenha se formado a partir do movimento sindical.
Sim, o sindicalismo, sobretudo se partidarizado, é uma forma branda de banditismo: subordina o sentido público ao interesse particular de uma corporação e não mede conseqüências para prover a satisfação de um grupo privado em detrimento do bem-estar geral. É exatamente o que o PT, como bando, faz: privatiza partidariamente a esfera pública.
Na nossa política, claro, há de tudo, inclusive bandidos comuns (embora sejam minoria), bandos locais ou regionais (ou "caciquias", às vezes coronelistas, montadas em torno de pessoas e famílias) e bandos políticos (formados com base em uma causa).
Os dois primeiros tipos são endêmicos na velha política brasileira. O terceiro só emergiu, em toda sua plenitude, com a vitória eleitoral de Lula.
A democracia convive com todas essas formas de banditismo, da criminal à social, ora fazendo valer a lei, ora gerando consensos sobre o que é ou não é socialmente aceitável.
O problema existe quando as coisas se misturam e um bando social, chegando ao poder, se alia a bandidos comuns (no sentido criminal) e às "caciquias" tradicionais clientelistas, instaurando outro tipo de banditismo: o de Estado, que tanto pode cometer crimes no varejo (sob o perigosíssimo manto da impunidade) quanto perverter a política e degenerar as instituições no atacado. É a via Putin. Contra essa eventualidade, porém, a democracia não tem proteção eficaz.
Não se retira o direito do PT de constituir-se como um bando social a partir de uma causa, mesmo que essa causa seja -na verdade- apenas ficar no poder o maior tempo possível.
O problema é que, ao montar aparatos ilegais de poder na própria Presidência da República, esse pessoal "atravessou o corguinho" (como se diz lá no interior de Minas).
Para ficar só nos megaescândalos, o caso Waldomiro-Dirceu foi a primeira evidência. O mensalão, a segunda. A quebra do sigilo do caseiro Francenildo, a terceira. A produção do falso dossiê contra Serra, urdida por homens da cozinha do presidente, a quarta. E agora veio a quinta: a investigação, sem nenhuma denúncia ou fato determinado, dos gastos oficiais com Ruth e Fernando Henrique Cardoso para produzir um novo dossiê com o qual o governo pretendia chantagear a oposição ou impedir que ela requeresse legalmente a investigação das -aqui, sim, fartas- evidências de uso criminoso dos cartões corporativos da Presidência por familiares ou auxiliares diretos de Lula.
Há ou não há um padrão? E que padrão pode ser esse senão o do bando que não respeita limites quando estão em jogo seus interesses?
As oposições permitiram que chegássemos a esse ponto e que se instalasse o banditismo de Estado no Brasil. Foram deixando a coisa avançar, imaginando que os caras eram "players" normais do jogo político. Como se vê, não são.


AUGUSTO DE FRANCO, 57, analista político, é autor, entre outras obras, de "Alfabetização Democrática". Foi conselheiro e membro do Comitê Executivo da Comunidade Solidária durante o governo FHC (1995-2002).

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