Uma das formas de se conhecer a estatura de um homem é quando ele reconhece seu erro, e corrige-o, mas no tempo apropriado. Lula já declarou que errou em algumas de suas convicções, e reconheceu o erro, mas fez isso tarde, apenas após assumir o poder. Mostrou o nível da sua estatura.
Na semana passada o senador Artur Virgílio criticou a fala do General Augusto Heleno quando este declarou que a política indigenista do governo federal está equivocada. O senador declarou que “embora tenha razão, não acho que devesse ter falado, porque não é papel dele falar. Lutei muito por democracia no país e não considero justo que voltemos ao tempo dos pronunciamentos militares de caráter político.”
Há alguns equívocos nesse pensamento. Primeiro, se o tema da exposição era a situação da reserva indígena Raposa do Sol em Roraima e os conflitos lá instalados, e a platéia era de militares, o general não fez pronunciamento político algum, como afirmou o senador. Imaginar que um palestrante realize sua exposição sem emitir opinião é ir contra a lógica.
Outro equívoco foi quando expôs uma preocupação com os riscos de um retorno à ditadura. Risco de retorno à ditadura em função da opinião do general? Ora, os fatores e atores que hoje representam risco à democracia estão bem longe dos quartéis. Vejo ameaças à democracia brasileira nos movimentos ditos sociais que, bancados por recursos públicos, desmoralizam e tripudiam sobre os pilares da democracia brasileira. Vejo ameaça nas falas e desfalas do executivo quando reduz o papel e desautoriza o legislativo, ou quando manda o judiciário calar a boca. Vejo ameaça à democracia quando parlamentares se submetem aos desejos do executivo em troca de ‘apoios’, ou nas constantes ameaças de mudanças na Constituição Federal para possibilitar um terceiro mandato. Uma ameaça real à democracia é a atual política externa do Estado brasileiro, que, em detrimento da nação, segue princípios ideológicos de facções do PT.
A fala do general, que inesperadamente foi gravada e reproduzida como algo estarrecedor, foi uma das atitudes mais democráticas dos últimos anos neste país tão enlameado por corrupção, por ruptura da soberania nacional, por atitudes despóticas de um governo com um claro viés autoritário, que usa descaradamente a máquina pública em comícios diários para lançamento de obras, muitas delas imaginárias, ao arrepio da Lei. Democracia pressupõe direitos iguais, e isto sim, são atitudes que vão contra o estado democrático.
Os tempos são outros e as Forças Armadas hoje talvez até signifiquem e se comportem como um dos pilares da democracia. Não podemos desprezar o seu papel nas fronteiras brasileiras tendo organizações como as Farc à espreitar, e ainda sendo reconhecida pelo atual governo como uma organização política. Como estaria a situação das fronteiras brasileiras caso essa organização criminosa se sentisse segura para invadir e pregar sua ideologia narco-trafi-comunista? Foram também os militares os primeiros a perceber o perfil e risco das atitudes belicistas de Hugo Chaves, o que hoje já é compartilhado por membros do governo.
É um equívoco confundir a defesa da soberania territorial com riscos à democracia. As palavras do senador talvez tenham seqüelas por ter participado da geração que viveu o regime militar, por isso compreensível, embora já tenha se passado mais de vinte anos do fim da ditadura militar.
Cabe ao senador, na representatividade e capacidade que possui, desfazer-se dos equívocos criados pelo período militar que parecem ainda o atormentar, e direcionar suas criticas sobre as novas e reais formas de destruir os valores democráticos, exigindo ações do Estado contra as quebras dos direitos individuais e de propriedade, aos quais já nos acostumamos a ver infringidos em tantas e tantas ações fascistas de vândalos ideológicos.
Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Professora universitária e articulista do Jornal Circuito Mato Grosso. Site: www.adrianavandoni.com.br
4.23.2008
Os riscos reais são outros
Por Adriana Vandoni
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