Para os observadores que Pensam Brasil, os últimos anos foram geradores de motivos para frustrações e pessimismo. Para que os próximos anos sejam diferentes, vamos necessitar de um tremendo esforço para encontrar os motivos de otimismo racional, mesmo que seja conservando um pé atrás e alguma crença prá não cair na heresia anárquica tão em moda nos dias correntes.
Fica cada dia mais ilusório acreditar nos poderes do estado, justiça, formas de governo, emaranhados econômicos, segurança. É impossível acreditar nas intenções contidas no bojo do discurso de políticos sucessivos, que não apresentam soluções humanas. Se fossem gerenciar qualquer empresa todos receberiam um chute no traseiro por prometer e não cumprir, por não apresentar resultados satisfatórios para os clientes. Antes, criam mais e mais problemas agitando bandeiras, lugares comuns e palavras de ordem, mantendo e explorando a ignorância, a miséria e a crendice em currais ideológicos.
Os entraves educacionais deste país já poderiam estar superados há muitas décadas, com a simples prioridade para a educação integral, reconhecimento do saber como arma de libertação mental e material. A escola de hoje apenas dissemina a nefasta ideologia da luta de classes e os professores, contaminados, perderam o respeito dos jovens alunos. Criaram leis e destinam recursos para a merenda escolar. De fato existem prefeituras que desviam a verba e existem crianças desmaiando na classe (em povoados distante da "civilização") com fome. Mal alimentados os cérebros infantís não podem se concentrar na aprendizagem. Mas as crianças são promovidas e as estatísticas do ensino enrolam quem nelas acreditam.
Os brasileiros elegeram novos (ou os mesmíssimos!) administradores municipais: entre os bandidos e viciados na gatunagem, uns poucos competentes. Logo vão sentir a faca no bucho para fazer como manda o figurino ou "morrer" politicamente. Logo vão ser obrigados a contratar consultorias para cuidar da elaboração de leis e elaborar planos diretores e cuidar da imagem e aprender como ter acesso às verbas federais, aprender como lidar com a política de galinheiro.
O povo espera: a escola, a segurança, a orientação técnica das "casas da lavoura", a iluminação, os eventos culturais, as praças esportivas, as escolas integrais, as creches, a limpeza urbana, a reciclagem, a ação política produtiva resultante de uma administração eficiente, cobrindo as necessidades específicas de cada município.
A farsa, o engano, o engodo, a mentira, o estelionato, o crime como substituto do estado estão presentes de cabo a rabo no estado protetor do crime organizado e partícipe privilegiado em sua esfera. Enquanto isso, os paraenses enchem as ruas puxando a corda nos festejos do Círio de Nazaré, agradecendo à Virgem por todas as graças alcançadas e pedindo para livrar-se das desgraças que os governantes espalham. A graça é singela: viver simplesmente, ter como encher a barriga propria e dos filhos em que são depositadas as esperanças de melhoria. Que nem em São Francisco do Canindé, que nem na Lavagem do Bomfim na Bahia, que nem em Aparecida, em tantos recantos onde a fé é o único consolo e alento da gente.
Nenhuma ideologia vale o extermínio espiritual e material de um povo que trabalha, produz, inventa e quer apenas viver a vida em toda sua plenitude.
Mudam os fatos e as idéias mudam pelo mundo afora. A fé dos simples persiste. O medo dos investidores hoje, tem o mesmo tamanho e cara espantada de sua ganância. O corre corre dos controladores financeiros é o sinal para as grandes mudanças que estão por vir, submetendo países e povos às regras da nova ordem. Os critérios e escolhas tem sido ditatoriais.
Como diz Martin Wolf, do Financial Times, "as economias afetadas representam mais da metade da produção mundial. Isso torna a crise a mais importante desde os anos 30." E o colunista diz que as as instituições financeiras, bancos e financiadoras, são importantes demais para o sistema e que não devem falir. Daí utilizar o dinheiro da nação, o dinheiro de economias particulares, para salvar um sistema que perdeu a confiança.
Ou seja, a riqueza e as reservas que o planeta produziu, sumiram do mapa como num passe de mágica. Já haviam sido desviadas para as mãos e controle de uns poucos. Foram substituídas por papel pintado e números astronômicos, a valorização enganosa no sobe e desce nas bolsas de valores, a concentração de poder do intocável e seguro sistema financeiro internacional que dita a aplicação, impedindo as escolhas de nações sobre o que fazer e como utilizar seus proprios recursos. O mesmo sistema financeiro que determina quanto vale o suor o trabalho de um africano, de um brasileiro ou de um chinês. Bem comum? Democracia?
O grupo de técnicos, serviçais dos controladores, conhecido como Fundo Monetário Internacional está dizendo agora que é preciso que "os autores de políticas devem forçar um reconhecimento das perdas desde cedo e tomar medidas para assegurar que as instituições financeiras estejam adequadamente capitalizadas". Ou seja, eles roubam e nós é que devemos ser solidários com os ladrões e restaurar as reservas econômicas nas mãos dos mesmos administradores que permitiram o rombo. E os caras são humoristas, dizem que a gente deve investir para recuperar a "saúde das instituições financeiras".
O mundo mudou e agora a mudança se apresenta com a pior e mais feia de suas faces. Vão-se os aneis e ficam os dedos! Melhor seria dizer: vão-se as coroas e ficam as cabeças. Não melhor dizer: muitas cabeças rolaram, mas outras sobraram e pensam ativamente no que se desenha para os dias futuros. É preciso mostrar a gente que cava a riqueza em que terreno está pisando. É preciso dizer a gente onde estão as armadilhas! É preciso restaurar a confiança, não neles e sim a auto confiança para viver sem medos e sem enganos perniciosos.
Analistas internacionais assinalam algumas mudanças:
- acabou-se a era de uma potência mundial líder.
- todo o planeta está envolvido em crises: além da crise financeira, a proliferação nuclear, mudanças climáticas, fome, doenças, recursos escassos e a pior: estados e formas de governo fracassadas, desacreditadas, impotentes.E todos carregando em sí os aspectos de poder e estruturas econômicas que conduziram todos ao maior dos atoleiros. Alternativas? Nem a tal de ONU, que nasceu com a pretensão de ser governo mundial as tem.
- Os diversos organismos que congregam grupos de nações, também estão atrelados ao mesmo e único controlador financeiro que paga os salários dos seus políticos e executivos.
- Os estados concorrem entre si para dominar as áreas (ou influenciar governantes) onde existem recursos minerais e terras produtivas.
Por aqui, os propagandistas asseguram que o Brasil pode moldar a futura ordem global e prover seu bem-estar futuro, mas no campo de ação a cegueira diverge e acompanha a desorganização mundial. A visão de futuro, na prática segue os caminhos do desastre. E o choque com os interesses mundiais é apenas questão de tempo.
Acender uma vela a Deus e outra ao Diabo, logo vai ser uma prática inútil. Ou construímos um sistema livre e justo ou vamos ser apenas um estado fracassado sob o domínio de grupos dominantes na nova ordem. E se optamos de verdade por construir uma economia sólida, nossas elites e governantes vão obrigatoriamente priorizar a escola e a redução da pobreza.
Se pudermos escolher a construção de uma sociedade livre, a inteligência e as lideranças políticas, os brasileiros, vão ter de inventar nova forma de governo em que as populações possam avaliar os resultados e afastar os incompetentes dos postos de poder administrativo. O mundo mudou. E repito o recado: Nenhuma ideologia vale o extermínio espiritual e material de um povo que trabalha, produz, inventa e quer apenas viver a vida em toda sua plenitude.
Arlindo Montenegro é Apicultor.
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