Nos posts publicados no começo da madrugada de hoje, vocês encontram todos os números da pesquisa Datafolha sobre a re(reeleição) e os cenários eleitorais. Só para lembrar: 65% são contra qualquer manobra para mudar a lei e permitir a recondução de Lula ao cargo.

Bem, a turma do “queremismo” se deu mal — e isso inclui, sim, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil não é a Venezuela. Não é a Bolívia. Não é o Equador. Não é a Rússia. No que diz respeito às instituições, estamos num patamar muito superior a todos esses países. Nos três latino-americanos citados, líderes de perfil populista chegaram ao poder à esteira de crises que já estavam, de fato, instaladas. Para ser uma solução? Para pacificar? Ao contrário. Crias da anomia política, os três investiram ainda mais na desordem — adotados que foram, de resto, pelas esquerdas. Um pequeno (bem pequeno) emblema do que digo se evidencia assim: um dos interlocutores do governo boliviano é ninguém menos do que Emir Sader — sim, ele mesmo. Que também mantém excelentes relações com os bolivarianos de Hugo Chávez. Nos três países, juntaram-se o populismo e o solene desprezo das esquerdas pela democracia. O resultado pode ser visto. A Rússia, que nunca chegou a ser uma democracia plena, ensaia, por outros caminhos, a volta à ditadura. Nos quatro casos, uma coisa em comum: a democracia é usada para golpear a democracia. É o que o PT tentou fazer no Brasil. É o que ainda tenta. É a vocação subjacente à sua tese de “constituinte exclusiva” para fazer a reforma política.
Por que a Folha encomendou a pesquisa ao Datafolha? Mera curiosidade? Não! Porque o debate estava lançado. Segundo os tocadores de tuba, em seu incansável trabalho de soprar o instrumento, quem inventou a tese foram as oposições. A depender do setor do petismo que o soprador represente, varia o responsável. Um anão jura que é coisa dos tucanos; outro anão refuta: é a invenção do DEM. A uni-los, sabe-se lá por quê, haveria certa tentação... golpista!!! A tese é de tal sorte original, que, não sendo só canalhice bem-remunerada, deve ser maluquice mesmo.
O que deu errado? O timing foi um tanto infeliz. A possibilidade surgiu cedo demais — e, com efeito, a oposição fez muito bem em lhe dar visibilidade porque se transformou em matéria de debate político. E a opinião pública é absolutamente clara: não quer a (re)reeleição. Nem no Nordeste, onde Lula obtém seus melhores índices de popularidade, a tese tem a aprovação do povo — com a exceção muito explicável de Pernambuco. E que se note: a aprovação ao governo Lula (vejam lá um post a respeito) continua alta. Não é uma rejeição ao presidente; é uma manifestação de respeito pelas regras do jogo, coisa a que os petistas não estão acostumados. O Apedeuta tem lá seus motivos para alfinetar FHC — os políticos e, sobretudo, os pessoais, de natureza psicológica. Mas, sendo quem é, deveria odiar o outro por uma razão em particular: herdou um país institucionalmente arrumado — com muito por fazer, claro, claro, mas arrumado. A democracia jamais recuou um milímetro nos oito anos do governo FHC. O país parece ter achado que a legalidade é uma coisa boa.
Mais chato ainda para os queremistas é que os brasileiros não são contrários à reeleição. Não nos moldes em que ela está posta na Constituição: direito de disputar uma reeleição consecutiva. Assim, nem se trata da rejeição a um procedimento, que acabou colhendo Lula por tabela. Nada disso. Os eleitores compreendem muito bem um repeteco, mas dois, não! O PT pode fazer o que quiser, e duvido que consiga impor a (re)reeleição ao processo político. Só não duvido que vá tentar. Porque vai.
O país que falou na pesquisa rejeita a manobra. Lula que vá cantar em outra freguesia. Ou espere até 2014. A operação não deu certo. Falhou. E não porque o Apedeuta não queira (segundo o sopro dos tocadores de tuba), mas porque a lei proíbe e porque os eleitores não querem. Deve ser terrível a Lula imaginar que alguém vai ocupar a cadeira que ele julga lhe caber por direito divino. Mas vai ter de se acostumar com a idéia.
PS — A propósito: parece que até a Venezuela se cansou de ser a Venezuela... Por Reinaldo Azevedo http://veja.abril.com.br |
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