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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

9.14.2007

12 DE SETEMBRO - O LEVANTE DE BRASÍLIA

Outro dia eu recebi o relato de um oficial do Exército, hoje na reserva, que viveu alguns dos momentos mais tensos do período que precedeu o contra-golpe militar de 1964 - o "Levante de Brasília", ocorrido há 34 anos, precisamente no dia 12 de setembro de 1963.

Quando o assunto "1964" é estudado nas escolas e até nas universidades, na esmagadora maioria dos casos, aos estudantas pouco é dada a oportunidade de conhecer os fatos. "Ideologizou-se" muito da nossa História e o próprio sistema de ensino passou a privilegiar um olhar "relativista" sobre os temas de que tratam as ciências consideradas não exatas, muitas vezes sob a argumentação pedagógica de que se aprenderia melhor através da interpretação dos fatos registrados, em detrimento de sua pura e simples compreensão.

Dessa forma, é claro, pôde-se falsificar a própria História (chamada pejorativamente de História Oficial), a despeito do que sobre ela estivesse documentado, criando-se assim uma verdade (uma segunda História, considerada verdadeira por não ser a oficial) que, apesar de não estar registrada, pôde ser construída e perpetuada, até que, aos poucos, conquistasse os espaços nos e dos livros de História, como se registros factuais fossem, muito graças à consolidação da concepção relativista até da própria realidade que hoje nos cerca (desconstruindo a capacidade dos seres humanos de distinguirem entre o bem e o mal ou o certo e o errado).

A História factual e documentada, então, passou a fazer parte do mundo dos livros raros, dos que não encontram espaço nem nas editoras e nem nas grandes livrarias e quase nunca na mídia. A História oficial passou a ser a de "porão", a proibida. O conhecimento - aquele que dá maior capacidade de discernimento e que limita, em muito, a vulnerabilidade de um indivíduo à lavagem cerebral - tornou-se um tesouro que precisa ser intensamente perseguido e não naturalmente absorvido (o que deveria ser) ao longo do processo de aprendizado normal dos estudantes.

É por isso que relatos como o do hoje coronel refomado Ary dos Santos - que a mim foi enviado - tanto impressionam, não só pela riqueza de detalhes, mas também pela oportunidade de "entrevistar" os próprios agentes da História, no momento em que uma de suas peças era contruída. É uma oportunidade incrível.

Estamos em 12 de setembro de 1963, dia em que ocorreu, em Brasília, uma rebelião promovida por sargentos, cabos e suboficiais, sobretudo da Aeronáutica e da Marinha, devido à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de reafirmar a inelegibilidade de militares das Forças Armadas para cargos do Poder Legislativo, baseados no que previa a Constituição de 1946.


É que, em 1962, sargentos lotados em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no então estado da Guanabara indicaram candidatos próprios para concorrer nas eleições que se realizariam em outubro daquele ano. Na Guanabara, o sargento do Exército Antônio Garcia Filho elegeu-se deputado federal e, apesar do impedimento constitucional, tomou posse. Mas, no Rio Grande do Sul, o sargento Aimoré Zoch Cavalheiro e, em São Paulo, o sargento Edgar Nogueira Borges foram impedidos de assumir seus mandatos de deputado estadual e de vereador respectivamente.

A reação dos sargentos veio de Brasília, na madrugada do dia 12, quando cerca de 600 graduados da Aeronáutica e da Marinha, chefiados pelo sargento da Aeronáutica Antônio de Prestes Paula, se apoderaram dos prédios do Departamento Federal de Segurança Pública (DFSP), da Estação Central da Rádio Patrulha, do Ministério da Marinha, da Rádio Nacional e do Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos. As comunicações de Brasília com o resto do país foram cortadas. Vários oficiais e o ministro do STF, Vítor Nunes Leal,foram presos e levados para a base aérea de Brasília, foco da sublevação.

Cerca de 12 horas depois de sua eclosão, o levante foi sufocado por tropas do Exército. No dia 13, o sargento Prestes de Paula foi preso pela Polícia do Exército e cerca de 536 prisioneiros foram mandados para o Rio de Janeiro, onde outros líderes do movimento foram detidos, bem como em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Seis meses depois, 19 sargentos indiciados em inquérito policial-militar foram condenados a quatro anos de prisão.

Com vocês, o relato de alguém que estava presente neste momento histórico... Aproveitem...

Christina Fontenelle
12 de setembro de 2007


12 DE SETEMBRO DE 1963 : O LEVANTE DE BRASÍLIA

Um testemunho e algumas observações

Por Ary dos Santos
Cel. Inf da Reserva - Turma de 1958
Brasília, 04.Set.2007
E-mail : santosary@uol.com.br
(Reprodução autorizada desde que citada a fonte)

Corria o ano de 1963. O quadro político-social brasileiro era mais do que indefinido - era extremamente confuso. Na área militar, a situação era intranqüila pelas ações e omissões de um Governo que pouco produzia e, quando falava, somente se externava por ideais e símbolos da esquerda que arrastavam muitos incautos com idéias falsas e, como sempre, com objetivos eleitoreiros.

Em Brasília – na época já capital de direito, mas ainda não integralmente de fato - era esse o clima por volta de agosto. A única Unidade do Exército aproximadamente completa na Capital era o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), herdeiro histórico do “Batalhão do Imperador” e que respondia pela segurança de todo o Distrito Federal - valendo-se, para o cumprimento dessa extensiva e intensiva tarefa, do sistema de dupla-incorporação e do esforço de seus quadros para atender a todas as imposições.

No quartel ao lado, onde se erguia o Batalhão de Polícia do Exército (BPE), agrupavam-se núcleos não só daquele futuro batalhão mas também de outras Unidades que iriam, com o tempo, enriquecer o efetivo militar do DF, e um grupamento de pára-quedistas deslocados para Brasília a título de reforçar a segurança.

Na segunda quinzena de agosto, seca no auge, os oficiais do BGP, além de suas tarefas normais, foram chamados a atuar como Comandantes de frações de valor variável, inclusive dirigindo viaturas, para responder pelo patrulhamento das cidades satélites, tendo em vista que a Polícia Militar fora afastada dessa atividade em face de graves problemas ocorridos em algumas situações de conflito. Toda essa etapa de agitações, conduzidas e/ou induzidas pelos líderes locais da esquerda, concluiu-se na noite de 03 de setembro, com uma concentração na Praça 21 de Abril, na Avenida W-3.

Como vários outros colegas, participara de todas essas atividades e preparava-me para alguns dias mais calmos quando, na madrugada de 04 de setembro, recebi um telefonema de São Paulo, avisando-me ser iminente a chegada do meu primogênito. Somente graças à boa-vontade de todos – pois na época não existiam cheques especiais, cartões e nem mais do que dois vôos diários para a capital paulista - consegui, via Rio, ver meu filho, por volta das 14 horas, já com 6 horas nesse mundo.

Terminados os dias de dispensa a que fazia jus pela legislação, retornei á Brasília, pela tarde de 11 de setembro, em um vôo que, mais compatível com meus proventos, fazia duas ou três escalas. Um incidente com o aparelho deixou-me em São Jose do Rio Preto, onde a muito custo, consegui concluir, via Goiânia, o vôo para o DF, aonde cheguei, já à noite.

Depois de um banho reconfortante e de algumas providências para o dia seguinte, preparava-me para dormir, por volta das 22:30 horas, quando batidas na porta do quarto trouxeram-me, abruptamente, de volta á realidade profissional. Era o Sgt. Borges, profissional exemplar e antigo, que estava na função de Adjunto do Oficial-de-dia, avisando que havia estourado uma sublevação de militares de outras Forças e talvez o nosso quartel fosse um alvo.

Aprontei-me de imediato enquanto formulava algumas hipóteses. O fato é que, pelo cansaço e pelo envolvimento e emoção inerentes ao nascimento de um filho, não me aprofundara no noticiário dos últimos dias e mal soubera da cassação do mandato, pelo Judiciário, de um Sargento eleito deputado federal. Veio-me à mente, em primeiro lugar, a segurança dos integrantes do batalhão, dos quais cerca de 1200 soldados “granadeiros”, que estavam, naquele horário, em merecido repouso, e também das instalações - naquela época, um quadrilátero totalmente permeável a uma ação dos sublevados e apenas com uma sentinela em cada um dos seus vértices.

Não havia tempo para consultar alguém e nem conhecia a extensão e a gravidade dos fatos - e só depois de algumas horas ficaria sabendo que apenas mais três oficiais estavam no Quartel, um deles o oficial-de-dia. Mas, éramos oficiais (e sargentos que foram se incorporando ás atividades) e, como não há Exércitos distintos, assim agimos, como por certo agiriam, hoje, os oficiais e sargentos - respeitando os valores da disciplina, da hierarquia e, sobretudo, da lealdade, que têm sido cultuados como orientadores da ação permanente da Força.

Saindo do meu alojamento, decidi levar três soldados e um Cabo (Veloso) para simplesmente dobrar os postos existentes - o que efetuei em poucos minutos. Retornando à minha Companhia (2ª Cia. de Fuzileiros) encontrei-me com o Cap. Francisco José Schimidlin de Castro e, após uma rápida troca de idéias, tomamos duas providências :

-ele, como responsável pelo setor de transportes, acionou todas as viaturas e as reuniu no pátio interno do Quartel, aumentando a segurança do precioso material e, ao mesmo tempo, deixando-o em condições de pronta utilização quando necessário;

-da minha parte, mandei “tocar alarme e preparar” (basicamente acordar, colocar o uniforme e se armar) a 2ª Cia. de Fuzileiros, verificando os sargentos que estavam presentes para comandar os pelotões e, em seguida, tomei a mesma providência quanto à 4ª Cia. de Fuzileiros. Saberíamos mais tarde que toda essa agitação – viaturas e pessoal - foi determinante para que os rebelados, que já se achavam no fundo do quartel, relutassem em tentar conquistá-lo.

Informado da presença do Maj. Hernani de Azevedo Henning, oficial do Estado-Maior do batalhão, no Pavilhão de Comando, fui ao seu encontro, ocasião em que, com sua calma e eficiência habituais, me informou da presença muito provável de rebelados na área do fundo do Quartel. Rapidamente lhe dei conta que reforçara os dois postos no fundo do quartel e, agora em desabalada carreira, retornei aos dois locais onde, para minha tranqüilidade, encontrei os homens sãos, salvos e a postos, como determinado, e providenciei para que permanecessem mais próximos do aquartelamento. O cabo Veloso, a quem eu dera uma área para se instalar, decidira recuar um pouco mais, obedecendo a instrução militar recebida de fugir à claridade da lua - o célebre “ver sem ser visto”. Em toda minha vida profissional poucas vezes uma instrução teve um efeito tão importante....

Como combinara com o Maj. Henning, determinei que a 4ª Cia. se desdobrasse nos fundos (lateral oeste) do Quartel com ordens taxativas de prender e, se necessário, atirar em quem se aproximasse. Nesse desdobramento e em operações futuras destaco a atuação do Sgt Barros, daquela subunidade, pelo pronto atendimento às determinações e pela transmissão de confiança aos jovens soldados. O mesmo procedimento foi adotado em relação à 2ª Cia., que foi desdobrada na lateral Norte do batalhão - então um espesso cerrado e onde, muitos anos mais tarde, eu estaria me instalando como E-3, no aquartelamento da 3ª Bda Inf, e onde, antes de passar para a Reserva, seria Subchefe e Chefe de importante seção do Gabinete do Ministro do Exército. Coincidências... Mas valem ser relembradas, pois, durante todos esses anos, mudaram minhas atividades, mas permaneceram, porém – ativos ou latentes -, os mesmos problemas que, com nuances diferentes, atormentam o Brasil, até os dias atuais, mantendo-se o Exército voltado sempre para suas missões constitucionais.

Enquanto diversos oficiais e sargentos chegavam ao BGP, no quartel da PE, o seu Cmt e alguns oficiais resolveram, por desconhecerem a situação, entrar pelos fundos do quartel. Foram, então, presos pelos revoltosos e conduzidos à Base Aérea de Brasília, local controlado pelos revoltosos e cárcere dos oficiais. Dois tenentes da PE, entretanto, Haraldo de Oliveira (Turma de 1957) e Eduardo de Oliveira Fonseca (Turma de 1958), entraram normalmente no seu quartel e, horas mais tarde, conforme depoimento verbal feito a mim, organizaram um destacamento e se dirigiram para o DTUI (Departamento de Telefones Urbanos e Interurbanos) – equivalente a uma central telefônica do DF, situada na Asa Sul, quadras 400, até então em poder dos amotinados.

De fato, durante a noite e parte da madrugada, os quadros sublevados da Marinha e da Aeronáutica passaram a controlar não só esse órgão como também assumiram prédios militares na Esplanada dos Ministérios, além de se instalarem com farto armamento nos fundos dos já citados quartéis do Exercito. Os dois tenentes reassumiram o DTUI, de forma vigorosa e até um pouco fora dos padrões habituais, chegando a perseguir alguns militares amotinados que debandaram em correria pelas quadras. Em situações excepcionais, impõem-se iniciativa do Cmt e também medidas excepcionais.

Na área dos quartéis, lenta e seguramente, alargou-se o cerco defensivo das duas companhias em torno do BGP objetivando garantir a inviolabilidade do mesmo. O Cmt do BGP, Cel. Raymundo Netto Corrêa, deslocou-se para a esplanada, assumindo, no prédio do Ministério do Exército, o Comando da 11ª Região Militar, tendo em vista que o seu comandante – Gen. Fico – encontrava-se fora da guarnição. Com ele seguiu, entre outros, o Ten. André Leite Pereira Filho (Turma de 1959), com um efetivo de soldados granadeiros para reforçar a guarda daquele ministério. Quando esse pelotão preparava-se para formar o perímetro de segurança do Ministério, três ou quatro amotinados que controlavam o vizinho Ministério da Marinha investiram atirando contra o mesmo. Naturalmente, os soldados, em seu inesperado “batismo de fogo”, se protegeram, aguardando ordens, enquanto o Ten. André tomou a posição deitado e, depois de concluir a montagem da metralhadora Madsen que estava próxima, passou a atirar contra os atacantes. Com o passar dos segundos, refeitos da surpresa, os soldados da guarda e outros do reforço recém-chegado também reforçaram o fogo, obrigando os atacantes a refluírem para o seu prédio com algumas baixas.

O Sub-Cmt do BGP, Cel. Inf Antonio Barbosa de Paula Serra, assumiu o comando operacional do BGP e, já garantida a segurança física do aquartelamento, organizou a coluna motorizada constituída por caminhões militares e ônibus civis transportando o maior efetivo possível do BGP, tendo á frente, em posição para eventual tiro horizontal, os canhões da Bateria Independente de Artilharia, para a ação de limpeza final na Base Aérea e na Área Alfa (Marinha).

Quando iniciamos o deslocamento, cerca de 09:OO horas, no pátio do BPE, a tropa pára-quedista ali aquartelada fazia treinamentos para “controle de tumultos” (não havendo, entretanto seu emprego pratico nas ações). A tropa dirigiu-se, na direção Sul, pelo EPIA (Eixo Principal de Indústria e Abastecimento) - via que praticamente faz parte da ligação do Sul com o Norte e Nordeste do Brasil -, fixando seu Cmt, como primeiro objetivo, a liberação da Base Aérea. Para isso determinou-me que, com um pelotão, cumprisse uma proteção do flanco da tropa, na Rodovia 040/020, próximo ao cruzamento com a avenida que, dali, se destina à região do Aeroporto.

Estabeleci as medidas necessárias, face ao controle dos passageiros dos veículos, e a uma possível ação por parte dos revoltosos, vindos do sul, pela mesma rodovia. Foram tomadas todas as medidas para tal, embora o efetivo fosse um tanto reduzido e a missão envolvesse atividades de controle policial e, simultaneamente, atividades de combate, pois deveria ficar em condições de um embate com eventuais grupos de amotinados oriundos da área Alfa. Isso incluía, principalmente, o posicionamento das metralhadoras e a “amarração” (fixação dentro de certos limites) do seu tiro, evitando que um eventual tiro livre atingisse pessoas não envolvidas no conflito.

Na Base Aérea, foram libertados os oficiais presos, os quais, ainda conforme relatos verbais, “deveriam aderir ao movimento em 24 horas ou serem executados” - justiça almejada pelos líderes esquerdistas como padrão para o Pais o que, de certa maneira, se repete até os dias atuais. Durante essa fase, o Cel. Serra, reavaliando a minha missão inicial, e conhecedor de outros dados sobre o efetivo da Área Alfa (objetivo 2), houve por bem, enviar para meu auxílio, sucessivamente, os pelotões comandados pelos Ten. Fernando Cardoso (Turma de 1959) e Ten. Augusto César Monteiro Teixeira Coimbra (Turma de 1960). Com mais dois pelotões a meu comando pude, realmente, rearticular melhor o dispositivo, pois o eventual embate com tropas de amotinados vindas em sentido contrário seria uma hipótese bastante desconfortável para um pelotão apenas. A missão prosseguiu com os incidentes normais, como a detenção temporária de duas pessoas – um civil e um militar -, mas sem maiores problemas, durando três horas até o retorno do grupamento do Cel. Serra.

Reiniciado o deslocamento, atingimos a pista de acesso à Área Alfa (Marinha), onde, pela madrugada, um modesto estafeta motorizado de uma empresa fora metralhado pela guarda dos amotinados. O reconhecimento efetuado indicou que os integrantes daquela corporação estavam em forma, desarmados, comandados por um Sub-Oficial, aguardando a chegada do comboio para se renderem. Feito o contato, aproximadamente 200 amotinados, no decorrer do final da tarde, foram enviados presos para o Ministério do Exército onde permaneceram detidos para as conseqüentes averiguações legais.

Executamos o reconhecimento da área do aquartelamento, que deixou claro o saque efetivado contra um depósito de armamento, e a guarnecemos para o nosso pernoite. Finalmente, por volta das 20:30 horas, consumimos a primeira refeição daquele dia que fora memorável em todos os sentidos. Não deve ser esquecido que, nessa segunda parte do deslocamento, em clara demonstração de amor à sua Força, incorporaram-se ao nosso grupamento, em trajes civis, com suas armas pessoais e um carro particular, quatro oficiais daquela base da Marinha, em estreita e útil cooperação com o desenvolvimento do nosso trabalho.

Em menos de 24 horas, o Exército, basicamente representado pelo BGP dera uma brilhante demonstração de Disciplina, Eficiência e Lealdade, sob os exemplos de seus Comandantes – Cel. Raymundo e Cel. Serra – e com a dedicação de vários oficiais e sargentos que, em conjunto e mesmo em ações isoladas, expuseram suas vidas. Foi particularmente o BGP a única Unidade constituída a debelar o movimento sedicioso, com a participação de frações da Bateria Independente e da PE. Outras unidades e efetivos poderão ter contribuído, a posteriori, nas atividades de rescaldo das operações, mas a repressão foi totalmente conduzida pelo citado batalhão.

Outros oficiais, sargentos e praças do BGP tiveram suas participações efetivas e, com certeza, tão ou mais importantes, mas não temos conhecimento suficiente dos fatos para agregá-los a esse testemunho. Deve ser ressaltado, entretanto, que mesmo agindo isoladamente, a atitude e a atividade desses profissionais convergiam para um ponto único final, em face da existência, na formação dos profissionais da guerra, do princípio fundamental da “Unidade de Doutrina”. No decorrer das operações, como é cabalmente demonstrado no texto, as condições permitiram que aflorasse outro princípio básico que é o da “Unidade de Comando”, que surge na atuação do Cel Raymundo, Cmt do BGP, ao assumir o Comando Militar do Planalto e, do Cel Serra, Sub-Cmt do BGP, ao assumir o Comando Operacional das ações.

Encerramos esta síntese, para compartilhar com os leitores algumas observações referentes aos fatos citados e muito pertinentes, considerando-se a atual conjuntura brasileira.

A primeira delas é de que o BGP deu uma vigorosa demonstração do seu preparo e, como Unidade de Infantaria, da real liderança de seus oficiais sobre suas frações, acompanhados com dedicação profissional pela maioria maciça de seus sargentos. Daí julgarmos mais justo titular o infeliz evento gerado pela esquerda de “Levante de Brasília” e não de outro nome que, mesmo genericamente, pudesse ligá-lo à classe dos sargentos - o que seria uma afronta a aqueles profissionais que, particularmente no âmbito do BGP, demonstraram a excelência de seus papéis, exercidos na plenitude do amor à Instituição.

Quanto aos soldados, em sua maioria do interior de São Paulo, imbuídos dos sentimentos de brasilidade e de respeito às autoridades, participaram, como militares e como verdadeiros cidadãos, dessa página brilhante da Historia Militar, confirmando assim o conhecido dito do Gen. Osório de que “é fácil a missão de comandar homens livres; basta indicar-lhes o caminho do dever”.

Ainda hoje, temos o prazer de vez por outra, nos contatarmos com alguns deles e, nessas oportunidades, sempre aflora o orgulho natural de termos cumprido a missão que se impunha. Jovens ainda, com 19 ou 20 anos, já haviam atendido ao primeiro chamado legal da Pátria quando se incorporaram a um Quartel, no ainda desconhecido Centro-Oeste, longe do conforto de suas residências e da companhia de seus familiares e, no evento narrado, cumpriram, na prática, com o único juramento profissional que impõe como limite máximo o sacrifício da própria vida ao serviço da Pátria e à defesa de sua honra, integridade e Instituições! Traçaram eles aos seus pósteros a conduta reta de que o atendimento à hierarquia, à disciplina e à lealdade são perfeitamente compatíveis com a camaradagem entre todos, independente de postos e de graduações.

Resta ainda uma dúvida: Qual a justificativa para que o Exército e, em especial, o BGP, não comemore uma data tão cara e plena de ensinamentos para todos os militares? Não se constituíram esses fatos em exemplo concreto e louvável de Lealdade, Hierarquia, Disciplina e Eficiência? Não é do conjunto de fatos como esse que se constitui a História – de uma Unidade e, em conseqüência, de todo o Exército – que se fundamenta a Tradição, valor inquestionável para uma Instituição e para uma Sociedade que desejamos forte, ampla e segura?

Reconheçamos que, à época, Brasília era ainda algo remoto, tanto na mídia quanto na mente do brasileiro, e até mesmo na de muitos colegas. Mas, se analisarmos com a clareza que o tempo aprimora, veremos que o Exército e, em especial o Batalhão da Guarda Presidencial, deixou claro, como numa espécie de avant-premiére, seis meses antes do Movimento de 64, qual a posição a ser tomada, em relação à tentativas de qualquer ideologia totalitária que tentasse se impor no Brasil.

E, como “não há Exércitos distintos” e, “ao longo da História, temos sido sempre o mesmo Exército de Caxias, referência em termos de ética e de moral, alinhado com os legítimos anseios da sociedade brasileira”, em que pesem as dificuldades eventuais, temos a tranqüilidade necessária para acompanhar e, se necessário, até mesmo participar do desenrolar da História, dentro do quadro da contínua cooperação do nosso Exército que, após 1985, sob a alegação de ser o “Grande Mudo”, vinha correndo o risco de transformar-se no “Pequeno Omisso”.

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