Por Márcio Accioly
Há muitos anos o presidente da República não coloca os pés naquela unidade federativa, onde foi derrotado nos dois turnos da última eleição presidencial e onde é visto como real “inimigo” dos interesses da população. No estado, o clima lhe é inteiramente hostil.
Repetem-se em Roraima as mesmas condições existentes à época da colonização ibérica no Continente sul-americano, quando a região foi punida de forma cruel pelo fato de deter imensas riquezas naturais.
Num estado cujos índices de violência o colocam entre os quatro primeiros, na macabra classificação nacional de contabilização de homicídios, uma população de cerca de 400 mil habitantes (a menor densidade demográfica do país), sobrevive a duríssimas penas sobre jazidas de minerais raríssimos de incalculável valor.
Roraima se mostra mergulhado em invencível paradoxo, fatalidade irremovível na pesada herança colonial tupiniquim: vive na miséria porque é rico, obrigando-se à submissão a ditames estrangeiros, vendo-se representado nas negociações por políticos sem crédito, a maioria identificada pela prática corriqueira de corrupção e desvios.
Os produtores de arroz conseguiram implantar, num trabalho de décadas, uma região que se tornou pólo de desenvolvimento, gerando alguma coisa em torno de sete mil empregos diretos e indiretos.
Conseguiram elevar o estado à categoria de maior exportador daquele grão, na Região Norte do país, abastecendo mercados como Amazonas, Amapá e Acre, entre outros. O sucesso do empreendimento não passou despercebido para os estrangeiros.
A produção de arroz, bem como a incipiente atividade agropecuária, oferecia condições concretas para real integração com o restante do país, propiciando a abertura de estradas e a consolidação do estado que surgiu com a Constituição de 88. Cuidou-se, então, de desmontá-lo por completo.
Os planos políticos das grandes potências são elaborados em longo prazo, em atividade de rapinagem explícita que não mais se consegue dissimular.
No dia 11 de dezembro de 98, quando era ministro da Justiça da gestão FHC (1998-2003), Renan Calheiros assinou a Portaria 820 que determinou a demarcação indígena da Raposa/Serra do Sol.
E a área dos rizicultores foi incluída criminosamente no traçado da reserva, atendendo determinação estrangeira que exigia a retirada de todos os não índios da região. Pessoas que ali se encontravam há mais de 60 anos!
Roraima é também o estado que ganhou projeção nacional com o escândalo dos gafanhotos, quando foram presos um ex-governador e familiares de grande parte dos deputados estaduais, inclusive do presidente da Assembléia Legislativa.
Esses “representantes” da população é que deveriam se posicionar contra os abusos e reivindicar tratamento justo para uma região que está sendo deliberadamente destruída por conta de exigências das potências estrangeiras.
Mas como falar e ter força moral, quando se tem rabo preso em crime de peculato e similares? Roraima seria uma questão de consciência nacional, mobilizando-se o país inteiro. Mas não há interesse, especialmente na Presidência da República.
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