Resumo: Sem alarde e sem que fosse preciso lançar mão de jogadas mais impetuosas e arriscadas, como a reestatização da Vale, Lula e o PT já lograram fazer o país cair no ranking da liberdade econômica.
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O PT e seus sequazes colocaram a reestatização da Cia. Vale do Rio Doce na ordem do dia. Enquanto o último congresso do partido deliberava pelo apoio à convocação de um plebiscito sobre a matéria, João Pedro Stédile e seus "ideólogos" da CNBB divulgavam na mídia um artigo defendendo o disparate. Os argumentos utilizados são os mesmos de sempre:
"Uma empresa com esse caráter não poderia ser privatizada (sic), tanto por sua natureza como pelo controle das concessões da maior parte das reservas minerais brasileiras, ferrovias e portos construídos com recursos públicos. Além disso, há o valor estratégico da atividade, que coloca em xeque a soberania nacional.
Os fantásticos lucros da Vale, obtidos por meio da exploração dos nossos recursos naturais, deveriam ser distribuídos para toda a população, e não para apenas um grupo de investidores e bancos que detêm 40% das suas ações.”
É discurso para agradar barbudinhos e prosélitos juvenis. Não creio que o governo Lula pretenda realmente levantar esta bandeira. A Vale é uma empresa muito grande, até mesmo para padrões de primeiro mundo, e sua eventual expropriação seria muito mal recebida no exterior, o que mancharia indelevelmente a imagem de "grande democrata" que a vaidade presidencial faz questão de preservar junto à comunidade internacional.
(Aliás, bendita seja a vaidade do senhor Luiz Inácio. Só Deus sabe quantas bobagens e truculências não terão sido evitadas, desde a sua posse, por conta da preservação dessa falsa imagem que lhe é tão cara. Dizem que o homem não suportaria a perda dos salamaleques que lhe são atualmente dispensados pelo mundo civilizado, especialmente nos EUA e Europa).
Pode ser que eu esteja errado, mas acho que essa conversa de reestatização não passa de cortina de fumaça, quanto mais não seja porque a Cia. Vale do Rio Doce é, hoje em dia, muito mais útil e rentável ao governo do que era no tempo de estatal - não só econômica, como politicamente. Os números são inquestionáveis e falam por si mesmos: os investimentos da empresa, que fomentam crescimento econômico, geração de empregos etc., serão de US$ 7 bilhões em 2007, volume dezesseis vezes superior ao investido em 1997. Em termos de mercado de trabalho, o número de funcionários saltou de 11 mil, antes da privatização, para 44 mil em 2006, sem contar outros 93 mil empregos indiretos. Já a excelente performance das suas exportações - saltaram de parcos US$ 3,12 bilhões em 1997, para US$ 9,6 bilhões anuais, em 2006 - contribuiu de forma decisiva para que o país obtivesse repetidos superávits comerciais (sozinha, a Vale foi responsável por 19% do superávit comercial de 2006), alardeados pelo Governo Lula como um dos seus maiores triunfos econômicos.
E os lucros? O ganho de eficiência obtido pela administração privada fez pular o lucro líquido da Vale de ínfimos R$ 900 milhões em 1997, para algo próximo de R$ 20 bilhões (previsão pessimista) este ano - o LL do 1º semestre foi de aproximadamente R$ 11 bilhões. Esses resultados indicam que, só de Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro, a companhia pagará ao governo, este ano, alguma coisa próxima de R$ 9 bilhões, valor suficiente para - sozinho! - bancar todas as despesas do Bolsa-Família em 2007, orçadas em R$ 8,7 bilhões. Isso tudo para não falar dos muitos milhões que a companhia andou "doando" para as campanhas eleitorais do partido.
Não, senhores, não há razão para o PT e o governo Lula entrarem nessa aventura. O desgaste político, inclusive internacional, além do prejuízo financeiro (sabem perfeitamente bem que a administração privada é infinitamente mais eficiente que a pública), não compensaria um eventual
ganho político junto às bases, digamos, mais ideológicas do partido e da esquerda em geral. Eles são loucos, mas não rasgam dinheiro – muito pelo contrário.
Isto não quer dizer, entretanto, que Lula, o PT e adjacências não estejam, à sua maneira, sem alardes e por debaixo dos panos, reintroduzindo a economia brasileira no velho capitalismo de Estado, bem como promovendo um dos maiores arrochos tributários da história republicana. Senão, vejamos:
Depois de adquirir a Petroquímica Suzano em operação cercada de lances estranhos, a começar pelo preço pago (2,7 bilhões), o Estado voltou a controlar o setor, com 63%. Também no setor elétrico, onde sua participação no controle das termelétricas cresceu de 11 para 44%, a mão visível do governo está muito mais visível. Fora isso, fala-se da criação de uma empresa aérea 100% estatal só para cuidar do transporte dos Correios, além da encampação, pelo Banco do Brasil, de alguns bancos estaduais que, antes, deveriam ser privatizados, como o Banco do Estado de Santa Catarina, o do Piauí e o de Brasília.
Achou que era só, estimado leitor? Ledo engano. Preocupadíssimo com o futuro cinzento da Petrobrás, o governo se prepara para estender seus tentáculos também sobre a produção do álcool. De acordo com notícia da revista Veja, está pronta a minuta de um projeto de lei elaborado pelo Ministério de Minas e Energia que, se aprovado, centralizará no governo todas as decisões sobre o setor. As usinas só poderiam exportar ou vender etanol no mercado interno na quantidade estabelecida pelo governo. Os produtores não poderiam também construir novas unidades sem autorização prévia.
E, "para não dizer que não falei de flores", o governo Lula acaba de comemorar a marca de 1.000.000 de funcionários públicos federais. Isso mesmo, meus amigos: "nunca antes na história deste país" tivemos tantos funcionários federais. De 2003 para cá, foram contratados perto de 190.000 novos barnabés (alguns não tão barnabés assim!) – um aumento equivalente a 24% sobre os 810.000 deixados por Fernando Henrique Cardoso.
Como se vê, sem alarde e sem que fosse preciso lançar mão de jogadas mais impetuosas e arriscadas, como a reestatização da Vale, Lula e o PT já lograram fazer o país cair da 85ª (2004) para a 101ª (2007) posição no ranking da liberdade econômica do Fraser Institute, divulgado recentemente. Nosso propalado modelo neoliberal está, no momento, disputando posição com países como Haiti, Etiópia, Sri Lanka e Paquistão, mas, pelo andar da carruagem, rápido estaremos próximos de Venezuela e Zimbabwe, dos venerandos Hugo Chávez e Robert Mugabe. E seja o que Deus quiser..
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