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Agradeço as oportunas e coerentes intervenções dos comentaristas criticando o proselitismo irresponsável do globoritarismo apoiado pela mídia amestrada banalizando as Instituições e o Poder do Estado para a pratica sistemática de crimes. Os brasileiros de bem que pensam com suas próprias cabeças ja constataram que vivemos uma crise moral sem paralelo na historia que esgarça as Instituições pois os governantes não se posicionam na defesa da Lei e das Instituições gerando uma temerária INSEGURANÇA JURÍDICA. É DEVER de todo brasileiro de bem não se calar e bradar Levanta Brasil! Cidadania-Soberania-Moralidade

10.17.2007

As formas da resistência


Marcos Nobre, articulista da Folha, tocou ontem num bom tema em seu texto, ainda que pelo avesso e com uma informação falsa. Ele conclamava a turma que se opõe à CPMF — e que organizava um show — a admitir que o movimento é, sim, contra o governo e conta com o apoio das oposições. Escreveu: “É óbvio que será apoiado por partidos e forças de oposição. Qual é o problema de dizer isso em alto e bom som?” A informação falsa, comprovada, ademais, na Folha desta quarta: o PSDB prepara uma proposta alternativa para a contribuição. O avesso: Nobre não tentou saber por que os movimentos de protesto se apressam em dizer que não são contra o governo. Ele se limita a criticá-los por sua, sei lá, covardia, ambigüidade ou falta de clareza.

Falemos um pouco do show — que não contou com o apoio das oposições — e de seus organizadores. É gente nova nessa história de protesto, o que só evidencia a pouca experiência política da burguesia brasileira, sempre tão dependente do estado e sua íntima. As lideranças, se é que serão, estão em formação. Qualquer especialista em manifestação pública — gente que já organizou ao menos uma... — diria que apostar na presença de 2 milhões de pessoas num dia útil era meta ambiciosa demais. Regra número um: não se faz previsão nenhuma; o que houver é lucro. Regra número dois: não se diz, de antemão, quais palavras de ordem serão ou não aceitáveis — o ato é contra a CPMF? Então é. Ponto final. Regra número três: define-se quem fala com a imprensa. Regra número quatro: não se admite jamais que a manifestação foi malsucedida. No auge, o ato teria reunido 15 mil pessoas. Ainda que fosse 20 vezes isso — 300 mil —, sempre se lembraria dos 2 milhões. Aos jovens empreendedores da Fiesp, uma informação: nem os comícios das diretas reuniram tanta gente. Hoje em dia, duvida-se que o maior deles tenha chegado a um milhão. Os números eram inflados por organizadores e pela própria imprensa, que entrou na torcida.

Assim, vê-se que o que se tenta vender como um possível núcleo de conspiração contra o governo Lula não passa de organização amadora — e creiam: falo isso sem qualquer ponta de crítica ou de ironia. Talvez eu até julgue positivo que assim seja. Vamos ver.

Voltemos ao que está lá no primeiro parágrafo: por que movimentos de protesto ou, como dizer?, de inconformismo com o statu quo fazem questão de deixar claro que não protestam contra o governo? Repondo lembrando o título do artigo de Nobre: “Cansei 2”, uma alusão ao mais demonizado movimento que já houve no país, visto como ato reacionário de ricos e desocupados, que estariam inconformados com o caráter popular do governo Lula. Quase ao mesmo tempo, manifestações contra Lula pipocaram em várias cidades, o Movimento Grande Vaia. Foi tachado imediatamente de golpista.

Um cientista social ou filósofo, de esquerda ou não, petista ou não, tem a obrigação intelectual de constatar que isso é novo no Brasil. Desde o movimento pela Anistia, a imprensa (a maior parte ao menos) e os tais movimentos sociais estão sempre endossando protestos. Se era contra o governo, já nasciam justos. No fim do Regime Militar, a causa era a democracia; nos governos Sarney e Collor, protestava-se contra a corrupção; no governo FHC, contra o neoliberalismo. No governo Lula... Epa!!! Protestar no governo Lula? Contra o quê?

As vozes autorizadas do protesto chegaram ao poder. Vocês se lembram de algum grande ato contra o escândalo do mensalão? Não houve. Os ditos “movimentos sociais” sempre foram núcleos de militância da esquerda, depois capturados pelo PT, que domina boa parte do movimento sindical. O que não está sob a sua órbita foi atraído pelo lulismo. O mesmo vale para as organizações estudantis. Ah, sim: pela primeira vez desde o fim da ditadura, há núcleos verdadeiramente governistas, militantes mesmo, na imprensa.


Não me lembro, desde que comecei a me ocupar de política, de assistir à clara e aberta “criminalização” do protesto. Uma “criminalização” diferente: não se acusam os manifestantes de transgredir a lei — só faltava isso —, mas de, quem diria que se chegaria a tanto?, crime ideológico. Opor-se ao governo é quase como confessar que você é dono de um Rolex ou, sabe-se lá, sonha ter um. Ocupar o espaço público para protestar requer certas precondições e a adesão a um ideário de algum modo governista.

Então...
Talvez esperem que eu diga que é um erro não “assumir” o caráter eventualmente antigovernista dos protestos. Ao contrário. O melhor que os descontentes têm a fazer é não emprestar um caráter antipetista ou antilulista às manifestações, ainda que muita gente, entre os poucos que botam a boca no trombone, preferisse que assim fosse. Eu diria que isso seria o normal e o corriqueiro. Mas os tempos são menos normais e corriqueiros do que parecem. A força do movimento de contestação ao statu quo, curiosamente, pode estar é na sua fragmentação — em ações e grupos que não podem ser capturadas pelo governismo e pelos modernos instrumentos de “repressão”: as antigas organizações de caráter sindical e movimentos sociais. Estas estão empenhadas, hoje, em aplaudir o governo.

Assim, o melhor mesmo é não se expor à fúria dos reacionários do oficialismo. Lula não completou nem um ano de seu segundo mandato. As eleições de 2010 estão muito longe, e a luta contra o petismo é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. E cumpre, evidentemente, que não se façam bobagens como prometer levar milhares ou milhões às ruas.

Não precisa ir muito longe. Sabem onde está entricheirada boa parte da resistência ao lulo-petismo? Aqui mesmo, na Internet, como vocês estão cansados de saber.
Por Reinaldo Azevedo

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