Do ponto de vista estratégico, a Fazenda Coqueiros possui uma localização privilegiada, o que a torna o objetivo maior desse tipo de movimento social, cuja preocupação é política e para-militar, nada tendo a ver com uma suposta reforma agrária, senão sob a forma da máscara e do disfarce. Para se ter uma idéia, nesta região, que envolve vários municípios, há 31 assentamentos do MST e diversas reservas indígenas, além de pontos de conflito em áreas de atuação do MAB nas usinas hidrelétricas de Barra Grande, Machadinho e Itá. Dentre os maiores assentamentos, encontram-se os das Fazendas Sarandi e Anoni.
Logo, para o MST, apropriar-se dessa propriedade, é algo importante na perspectiva de criação de um território liberado, que seguiria apenas as suas próprias "leis", isto é, as regras revolucionárias que teriam sua validade fora do Estado propriamente dito. Seria, assim, estrategicamente vital controlar os territórios entre as rodovias RS-324 (Passo Fundo, Pontão, Ronda Alta. Goio-EM) e BR-368 (Carazinho, Sarandi), estendendo-se até a fronteira com o Uruguai. Ora, a Fazenda Coqueiros situa-se entre essas duas rodovias, sendo a parte que falta para a formação de um Estado dentro do Estado. Eis por que é imprescindível a tomada dessa propriedade, que se encontra no caminho de realização dessa estratégia de controle territorial de uma parte do território gaúcho pelo MST e organizações congêneres.
Consoante com essa estratégia, o MST prepara a sua manifestação e/ou invasão com uma operação de tipo para-militar, organizando-se em três colunas que rumam para aquela propriedade. Em discípulos de Mao, Guevara e Fidel, os participantes dessa movimentação procuram dispersar as forças da Brigada Militar, obrigando-as a aumentar o leque de sua atuação. No curto prazo, isto significa que cidades gaúchas ficarão desguarnecidas pela necessidade de deslocamento de efetivos para conter a invasão e os choques que se anunciam. O marxismo serve aqui como orientação político-militar.
Joga-se, portanto, um momento crucial da vida política do Rio Grande do Sul. Uma juíza proibiu essas colunas de entrarem na Comarca de Carazinho. Uma outra, de crianças fazerem parte dessa marcha ao ingressarem nessa mesma comarca. Temos duas determinações judiciais que devem ser cumpridas. Coloca-se, então, a questão de se o MST irá ou não obedecer às leis. Sabemos que essa organização política age à revelia do estado de direito, pois despreza as leis como meros instrumentos da dita "dominação burguesa". O ponto é aqui crucial, pois se, mais uma vez, num contexto simbólico como o atual, as decisões judiciais não forem obedecidas, abre-se todo um amplo caminho para que o MST não mais obedeça qualquer decisão, nem siga nenhuma lei.
Do ponto de vista governamental, coloca-se igualmente a seguinte questão: em caso de desrespeito à lei, a Brigada Militar agirá decisivamente para impedir a progressão dessas colunas ou será obrigada a contemporizar em negociações com o INCRA e as ditas comissões dos direitos humanos, que só respaldam e procuram legitimar a transgressão à lei? O problema é também decisivo, porque diz respeito ao modo mesmo de atuação de um órgão estatal, cuja função consiste precisamente em garantir que a lei seja respeitada, cumprida.
O que está verdadeiramente em questão é a existência ou não da autoridade pública em terras gaúchas e, de uma forma mais abrangente, a preservação ou não dos princípios da liberdade. Se houver a transigência com o arbítrio desse dito movimento social, a democracia estará fortemente comprometida.
por Denis Rosenfield
Diego Casagrande
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