René Girard é um dos autores que mais admiro no mundo. Ele é um dos raros pensadores cristãos da atualidade cuja fé não é acessória em suas teorias, mas central, atestando o quanto está mergulhado de mente, corpo e alma naquilo
Segundo Girard, todos nós sabemos da existência do mal e sentimos a urgência de uma solução para ele. Para os cristãos, Jesus trouxe essa solução, ao levar embora nossos pecados sacrificando-
Isso se verifica facilmente nas grandes tragédias do século. O povo judeu foi o bode expiatório da Alemanha de Hitler, e durante todo o regime nazista o ódio aos judeus fez parte, sem contradições aparentes, de um só projeto nacionalista e unificador. Do mesmo modo, o vago conceito de "classe dominante" tem servido como base para a condenação de levas inteiras de bodes expiatórios nos países comunistas e nas organizações de esquerda em geral, que querem enxergar na extinção de classes um ideal de paz. No cristianismo, há a compreensão de que não há quem possa particularmente encarnar o mal, pois todos o reconhecem, de forma estrutural, em si mesmos ("todos pecamos, todos carecemos da glória de Deus", afirma o apóstolo); em Jesus, o cristão encontra ainda a resposta única e definitiva para o problema do mal. Já a sociedade que sustenta seus valores sobre o mecanismo do bode expiatório é sempre uma sociedade polarizada, que fornece subsídios ao infinito para a hostilidade entre seus membros, apresentando em seguida como solução dos conflitos o fim dos que representam o mal – por morte social ou física. Ao endossar a tal “luta de classes”, quem colabora com isso ajuda a perpetuar um ciclo verdadeiramente diabólico, pois não há sacrifícios que cheguem para a sanha dos que pensam combater o mal dessa maneira.
10.24.2007
O marxismo e a teoria girardiana do bode expiatório (1)
posted by Norma
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