As massas se entretêm, as classes médias aparentam indignação e todos os salafrários e anunciados moralistas, quando não envolvidos, fazem ar de revoltados em comentários enfurecidos. Quando têm a oportunidade, cometem os mesmos atos vis.
Acredita-se que a instituição do escândalo nacional surgiu de maneira natural e espontânea, numa sociedade criada e nutrida por bandalheiras das mais escabrosas desde que a família real portuguesa aqui aportou. É só pesquisar a história.
É a capacidade de aparentar indignação (no que parece revolta íntima, por não ser pivô beneficiário da mutreta denunciada), o que distingue nacionais dos habitantes de países ditos desenvolvidos com organização social divergente.
No Brasil, o feio é se deixar flagrar na irregularidade. Pessoas que não possuem renda para tanto, apresentam padrão de vida completamente dissociado dos seus pagos, mas tratadas como vestais. São larápios respeitados, louvados bem-sucedidos!
Não são incomodados pela Receita Federal (que dá a impressão de existir apenas para molestar assalariados). Tudo flui como se no melhor dos mundos: carrões, barcos, mansões cinematográficas, os mandatários, especialmente, vivem como nababos.
O genial Aparício Torelly, o Barão de Itararé, costumava dizer que “-Negociata é todo aquele grande e bom negócio do qual fomos excluídos”. Que faria a maioria de nossos mandatários se não estivesse envolvida em negociatas vergonhosas? Certamente não cuidaria do país, do qual não entende nem gosta.
A formalidade e pompa herdadas do Estado português servem apenas como biombo na escamoteação de malfeitos, pouca-vergonha e roubalheira. É “excelência” pra lá e pra cá, como se existisse respeito. Somos sociedade nelsonrodrigueana, putrefata e dolorida.
Isso não quer dizer que as outras sociedades do planeta sejam melhores, até porque fica difícil estabelecer o que é melhor ou pior no comportamento da chamada raça humana. O fato é que brasileiros, conjuminados com os que habitam esse vasto continente sul-americano, são diferentes.
Quando Dom Pedro I embarcou no navio inglês Warspite, que iria levá-lo de volta à Europa (7 de abril de 1831), a oficialidade inglesa ficou impressionada com suas más maneiras. Ao observar sua esposa, D. Amélia, passando do escaler para o navio, sua majestade gritou e todos ouviram:
“-Lembre-se, querida, de que está sem calças.”
Quem é capaz de identificar comportamento mais canalha? E como um ato de canalhice pode ser mensurado ou aferido? Sem contar que D. Amélia era sua segunda esposa. A primeira, D. Leopoldina, morreu grávida de três meses e as suspeitas da época a colocam como vítima de maus tratos infligidos por Sua Majestade Imperial.
Hoje, longe do oficialismo dourado de nossa história, sabe-se que D. Pedro I costumava aplicar “corretivos” na esposa que devem ter apressado sua morte.
O fato é que o imperador tanto a castigou e humilhou, impondo-lhe inclusive a companhia da amante, a marquesa de Santos (Domitila de Castro), que na vizinhança da morte ela se queixava de “dores na perna e chorava como criança”.
O nosso tipo de canalhice é diferente. Não somos como a Inglaterra ou os EUA, que se apoderam do mundo ameaçando e matando, espoliando seus recursos naturais. Não somos os canalhas espoliadores, somos os espoliados.
Vem desde bem longe a submissão aos interesses estrangeiros, na concessão do futuro das gerações de nossos descendentes pelo suborno, entrega do patrimônio e venda da alma, muitas vezes, em troca de medalhas e comendas. Introjetamos o espírito do dominado, o colonizado. O assaltado acomodado.
Afinal, os portugueses chegaram subornando e matando os poucos que tentaram resistir. Em Pernambuco, por exemplo, foi eliminada a maior parte dos que buscaram construir nação diferente. Veja-se frase profética do libertador Simon Bolívar, analisando o continente de colonização ibérica:
“-Nunca seremos afortunados, nunca!”.
A entrega indiscriminada de nossas reservas e recursos já se mostra disseminada. Como se evolução genética na área social. A canalhice de nossos dirigentes é clara e explícita. Ela já não engana a mais ninguém, somente aos tolos e imbecis.
Escolhemos a submissão, a entrega indiscriminada, a renúncia aos nossos direitos, a estruturação governamental de fancaria, na qual os poderes constituídos acobertam crimes e desvios, pregando o combate aos mesmos crimes e desvios.
Somos nação doente, sucumbindo na desmoralização da incúria e da indiferença. Diferentemente daqueles que nos espoliam e fomentam nossa miséria (na cumplicidade dos que supostamente nos dirigem), seremos dizimados pela fome e pela violência, numa terra repleta de incontáveis fundos.
Por Márcio Accioly - Jornalista.
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