Ao divulgar seu projeto do "socialismo do século 21", o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ultrapassa as fronteiras para popularizar o chamado governo bolivariano. Ontem, Caracas anunciou, por meio de fontes diplomáticas, que lançará no Brasil no dia 30 o livro Simón Bolívar, o Libertador. O governo vai doar a obra a escolas e bibliotecas brasileiras.
O objetivo da promoção do livro, já traduzido para o português, é divulgar os principais ideais do herói nacional venezuelano, responsável pela libertação da Grã-Colômbia do domínio espanhol, no século 19. A figura histórica é a principal referência para Chávez, que diz ter se baseado em Bolívar para a "revolução" que iniciou no país andino.
- Faz parte de uma estratégia de controle do governo venezuelano para ganhar mais adeptos - defende Andres Cañizales, pesquisador do centro de pesquisa de comunicação da Universidade Católica Andres Bello, em Caracas. - O objetivo é minar a independência das instituições de educação públicas e privadas.
No editorial publicado pelo jornal venezuelano Tal Cual, ontem, o jornalista Teodoro Petkoff acusa Chávez de "acabar com a autonomia universitária" da Venezuela. Além disso, garante que o Estado totalitário atual "vai contra a sociedade", busca controlar o "pensamento" e, para isto, "nada mais importante do que alcançar o propósito de tomar o controle ideológico da escola".
"É o mesmo modelo soviético, tropicalizado no Caribe pelo regime cubano. Os movimentos estudantis, assim como os grêmios de professores, que são independentes do Estado, do governo e do partido, são impensáveis no 'socialismo do século 21'", observa Petkoff. E lembra: "todos os regimes totalitários que existiram e existem ainda, de direita e esquerda, fascistas e comunistas, colocam o controle do âmbito educacional como objetivo prioritário".
Cañizales conta que há cerca de duas semanas, paralelamente às reformas para redesenhar o modelo educacional venezuelano, Chávez fez questão de aumentar em 40% o salário dos professores, numa estratégia para calar a oposição.
Segundo o adido cultural da embaixada venezuelana em Brasília, Wilfredo Machado, a tiragem do livro que chegará no fim do mês será de 5 mil exemplares. A decisão de distribuí-lo em escolas e bibliotecas tem como objetivo divulgar "diretamente da fonte" o pensamento de Bolívar, pois o governo venezuelano considera "superficial" o conhecimento sobre o tema no Brasil.
O livro contém 100 textos que Bolívar escreveu entre 1805 e 1830 e é financiado pela construtora brasileira Odebrecht, que tem a concessão de grandes obras de infra-estrutura na Venezuela.
Segundo a assessoria de comunicação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o livro poderá ser adotado por professores que quiserem usá-lo como complemento para o currículo estabelecido como obrigatório nas escolas. O ministério não tem o poder de interferir na distribuição da obra, que será apresentada em ato no Museu Nacional de Brasília.
- Se Bolívar não foi um líder brasileiro, não vejo porque este este livro ser adotado no Brasil - avalia Cañizales. - Chávez se aproveita da figura de Bolívar para se promover. Não é um ato com intenções educativas, é uma campanha política.
Por Marsílea GombataJB ON LINE
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