O antigo sistema político italiano foi destroçado pela "Operação Mãos Limpas". Os principais partidos italianos, alguns dos quais com mais de cem anos de existência, tem relações promiscuas com a máfia. No caso do antigo Partido Comunista Italiano a crise também teve relação com a falência da União Soviética, que vitimou todos os defensores do controle estatal da sociedade e do mercado mundo a fora. Depois da falência dos partidos tradicionais as eleições italianas têm sido marcadas por alianças de todo o tipo, inclusive entre velhos antípodas ideológicos que se juntam para conquistar o poder em torno de programas mínimos de governo, articulados em coligações impensáveis pelo critério anteriormente vigente, baseado na proximidade do ideário.
Com a privatização, a televisão européia passou a viver de anúncios precificados pelo tamanho da audiência, o que impôs à mídia do velho continente a lógica da televisão norte-americana e brasileira. Até bem pouco tempo, em países como a Espanha, por exemplo, as campanhas eleitorais eram feitas ao velho estilo; através do contato direto dos partidos com os eleitores e da utilização de propaganda impressa. Antes da privatização, a programação da televisão européia se assemelhava a das emissoras educativas brasileiras, despreocupadas com o tamanho da audiência e adeptas de uma linguagem distante da publicidade e próxima dos documentários cinematográficos.
Com a influência crescente da televisão privada na informação e formação da opinião pública, o sistema político italiano mergulhou na era da política como espetáculo midiático. Nesse ambiente, saiu de cena a política tradicional e invadiram a telinha os novos jogos de poder. O marketing político passou a presidir as estratégias; as pesquisas de opinião a orientar as ações; a guerra de imagens passou a ser a arma principal e a propaganda negativa, especialmente através da fabricação de escândalos expondo a vida privada e as ilicitudes dos adversários, tornou-se a munição mais eficaz.
A ascensão política de Berlusconni, um magnata da mídia privatizada, tem relação com a crise do sistema político italiano e marca o mergulho da Itália na era do marketing e da televisão comercial de massas. Com o tempo, o velho pacto de poder, firmado entre os partidos centenários que se alternavam no governo, foi substituído por um conluio entre a corporação dos políticos e a mídia, que se protegem uns aos outros num jogo de compadres que levou ao descolamento do sistema de representação italiano de seus representados.
Esse fenômeno não é novo nem é restrito à Itália. Encontra-se em curso em boa parte dos países do mundo sob impacto da transformação provocada pela entrada da mídia nos jogos do poder, não apenas como veículo de informação, mas como jogadora. Sob a vigência desse novo jogo, a sucessão de escândalos usados contra adversários de ambos os lados do tabuleiro político, vai, gradativamente, enojando a opinião pública e provocando a rejeição à corporação dos políticos profissionais, com desgaste adicional e inevitável para as instituições democráticas, notadamente dos parlamentos. Um prato cheio para populistas autoritários.
Mas, na Europa, o desgaste de imagem, ale, dos políticos, já atingiu a mídia. Pesquisas de opinião têm revelado que a imagem das grandes empresas de comunicação e dos jornalistas está em baixa, aproximando-se da péssima credibilidade dos políticos. A população passou a perceber a mídia e os jornalistas como personagens interessados e participantes dos jogos de poder e não como analistas neutros, como querem ser percebidos.
Nesse contexto, juntar Beppe Grilo com a internet foi como juntar moscas e mel. Do simples deboche Beppe passou à denúncia e da denúncia à mobilização contra os políticos e contra a mídia. Recorrendo ao site de relacionamentos MeetUp (http://www.beppegrillo.it/eng/meetup.php), Beppe tem mobilizado milhares de adeptos de seu movimento através de abaixo assinados ou manifestações em praça pública em torno de bandeiras como a necessidade de uma faxina no parlamento, a proibição de que políticos exerçam cargos eletivos por mais de dois mandatos consecutivos, o fim do voto em lista e a introdução do voto no candidato, a possibilidade de que cidadãos concorram a cargos eletivos sem precisarem se alistar em partidos, dentre outras causas. Enquanto isso, no Brasil, a corporação dos burocratas partidários tentava aprovar legislação visando engessar o sistema partidário e eleitoral brasileiros com a aplicação das regras que ajudaram a levar seu congênere italiano à falência, ao descrédito e à perda de legitimidade como representante do povo daquele país.
Segundo o blog de Beppe Grilo, o MeetUp é um site que permite organizar reuniões de interessados em questões específicas em qualquer lugar do mundo. Ao custo de US$ 19,00 por mês pagos online ao site para criação de um grupo, o MeetUp já conquistou um milhão e seiscentos mil associados. Os grupos são criados a qualquer momento que o usuário desejar, em caráter autônomo e em torno de qualquer tópico. Além disso, o MeetUp oferece vários serviços tais como a gestão de grupos de associados, mailing list, organização de reuniões e fóruns, dentre outros, tendo o inglês como idioma padrão. O comediante criou uma categoria chamada Beppe Grilo e o primeiro grupo surgiu em Milão com o nome de "Friends of Beppe Grillo". Beppe se reúne aos grupos durante seus tours, sempre tentando participar dos eventos criados por seus "amigos".
Espontaneamente, portanto, os amigos de Beppe Grilo convocam "meetings of the friends of Beppe Grillo" em torno dessas e de outras causas, às vezes em praça pública, inclusive realizadas simultaneamente em diversas cidades. Há casos de manifestações desse tipo que já reuniram quinhentos mil adeptos ou coletaram mais de cem mil assinaturas para abaixo assinados em tempo recorde. Tudo isso sem a existência de qualquer estrutura organizativa por trás. A adesão individual e espontânea às mobilizações e a convocação pela internet são as marcas desse movimento que abala o pacto de poder firmado entre a mídia e os políticos italianos, desestruturando novamente um sistema político há pouco tempo destruído pela corrupção e pela falência das ideologias dos séculos XIX e XX. Por trás desse fenômeno está a internet, que subverte a lógica da relação da mídia de massas com seus públicos num país em que parcela expressiva da população tem acesso à rede.
Se a moda pega..
por Paulo Moura, cientista político
http://www.diegocasagrande.com.br/index.php?do=Wm14aGRtOXlKVE5FYldGdVkyaGxkR1Z6SlRJMmFXUWxNMFF4TnpNMk5qUkxRUT09WnhQMko=
Postado por MiguelGCF >Visite> Impunidade > Vergonha Nacional>
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