Especialistas criticam corte de verbas na Capes e em centro de estudos em Oxford; governistas negam perseguição
O afastamento de quatro economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) desalinhados com os conceitos econômicos do governo não foi um caso isolado. Recentemente, dois outros episódios estão sendo listados pela comunidade acadêmica como ações para brecar o financiamento de trabalhos científicos por áreas que pensam diferente do governo.
Num deles, a Petrobrás e o Itamaraty cortaram a verba que mantinha o Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford; noutro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, cortou o financiamento do programa de formação de quadros profissionais do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que foi fundado, entre outros, pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso.
O programa do Cebrap existia graças a um convênio especial com a Capes, assinado em 2002, que não atendia a todas as exigências da concessão de bolsas, fornecidas para mestrados e doutorados strictu-sensu. Todos colaboraram, à época, para manter o “jeitinho” que permitiu o convênio, porque a formação tinha alta qualidade. “O programa sempre esteve fora do esquema da Capes”, admite o professor José Arthur Gianotti, que coordenava os cursos.
Segundo ele, a boa formação que o programa dava a seus alunos - muitos aproveitados em altos cargos governamentais - atestava o valor do programa. Em uma nota, a Capes explicou que o programa foi descontinuado porque não se ajustava a suas exigências. Ainda insinuou que o Cebrap poderia estar utilizando os bolsistas em pesquisas contratadas pelo instituto sem pagar a eles: “Sabidamente, é muito mais cômodo receber recém-doutores para executar atividades de pesquisa institucional do que formar pós-graduandos”, diz a nota.
“O que está havendo é uma caça às bruxas ideológica”, denunciou o geógrafo Demétrio Magnoli, da USP. Ele disse que o ambiente de pesquisas deve, necessariamente, brindar a diversidade de idéias: “No Brasil, felizmente, sempre foi assim. Mudou agora.” O historiador José de Souza Martins, da USP, afirmou que “é difícil afirmar que os casos acontecidos recentemente configurem uma política do governo para unificar o pensamento nas instituições”. Mas arrematou: “E é mais difícil ainda não desconfiar disso.”
A versão que corre no meio acadêmico diz que o embaixador do Brasil na Inglaterra, José Roberto Bustani, pediu a Bethel que abrigasse no centro o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, marxista, e amigo de longa data do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. Bethel não concordou e perdeu a verba.
Por Carlos Marchi
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