É evidente que o que pretendem que seja uma "acusação" não me incomoda. Costumo responder a isso perguntando se os que apontam o dedo se consideram herdeiros intelectuais da esquerda. Sendo verdade, a "direita" passa a ser, então, por contraste, um lugar bem mais confortável. Vocês sabem muito bem que há quase um monopólio do pensamento alinhado com as esquerdas no colunismo político. Alguns se colocam mesmo como militantes ativos. Outros, por receio do estigma, acabam adotando uma certa "linha justa": qualquer crítica ao PT vem sempre acompanhada de um ataque também a seus adversários. Tudo para demonstrar "isenção".
E quem não aceita fazer esse jogo? Ora, vira alvo. O primeiro esforço consiste sempre em tentar puni-lo com a solidão. Ao "direitista", juntam-se outras qualificações: "exagerado", "paranóico", "preconceituoso". Em qualquer dos casos, tenta-se caracterizar uma espécie de doença do espírito. Então não foi assim quando, há meses, acusei Lula de incitar o "queremismo"? Os fatos estão aí. Dispensam provas a esta altura. Se vai dar certo, bem, aí são outros quinhentos. Mas não lhes basta tentar provar a sua solidão. É preciso também que você esteja a serviço de alguém — como o PSDB é o adversário mais viável, então o "direitista" e "paranóico" tem de ser também "tucano". O jogo já é manjado.
Boa parte da imprensa, felizmente, pode exercer o seu trabalho sem depender da vontade oficial. E só por isso essa tal "mídia" passou a ser tratada como inimiga pelo petismo — a ponto de o partido e o governo terem decidido criar uma emissora pública que passaria a representar a neutralidade absoluta, o grau zero da opinião. "Neutralidade" sustentada com dinheiro público e verba publicitária de estatais??? A coisa se autodefine.
Sabem o que é curioso? É que essa tal neutralidade, esse ponto zero entre os extremos, nem deveria ser necessariamente o lugar da imprensa ancorada em empresas privadas, mas justamente o do estado: ele, sim, mais do que a imprensa, tem de ser impessoal e se pautar apenas pelo que é legal e constitucional, assegurando a diversidade de opiniões que é sua razão de ser. Respondam: quem deve ser mais plural? A VEJA, a TV Globo e a Folha ou o Ipea, um órgão do estado? Quem representa a soma conciliada e a síntese das muitas diferenças que formam o Brasil? São os veículos de comunicação ou é o ente estatal?
Notem, não obstante, que o partido que convive muito mal com a divergência e com a diferença é o primeiro a voltar o dedo acusador contra essa tal "mídia", tachada de "golpista" porque cumpriu o seu papel. Da mídia, "eles" cobram pluralidade; aboletados no aparelho estatal, no entanto, instituem a ditadura. Não estão aí para conviver com os adversários, mas para esmagá-los. Se não têm o domínio dos instrumentos legais para tanto, optam pelo circo da difamação. Se têm, pela punição pura e simples.
Caça às bruxas 2 - Ipea não é o primeiro caso de patrulha
Por Carlos Marchi, no Estadão de hoje:
Num deles, a Petrobrás e o Itamaraty cortaram a verba que mantinha o Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford; noutro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, cortou o financiamento do programa de formação de quadros profissionais do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que foi fundado, entre outros, pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso.O programa do Cebrap existia graças a um convênio especial com a Capes, assinado em 2002, que não atendia a todas as exigências da concessão de bolsas, fornecidas para mestrados e doutorados strictu-sensu. Todos colaboraram, à época, para manter o "jeitinho" que permitiu o convênio, porque a formação tinha alta qualidade. "O programa sempre esteve fora do esquema da Capes", admite o professor José Arthur Gianotti, que coordenava os cursos.
(...)
O Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, dirigido pelo professor inglês Lesley Bethel, fechou as portas recentemente, depois de ser informado que as verbas do Itamaraty e da Petrobrás tinham sido suspensas. Bethel, aposentado desde setembro, vive hoje no Rio de Janeiro, onde tenta patrocínios privados para reabrir o centro.
A versão que corre no meio acadêmico diz que o embaixador do Brasil na Inglaterra, José Roberto Bustani, pediu a Bethel que abrigasse no centro o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, marxista, e amigo de longa data do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães. Bethel não concordou e perdeu a verba.
Márcio Pochmann, o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que está produzindo expurgos ideológicos no órgão, voltou à sua habitual loquacidade. Ontem, Folha e Estadado publicaram entrevista do valente. Hoje, ele está, no novo, nos dois jornais, agora para dizer que o Ipea vai se preocupar menos com conjuntura e dará mais atenção às questões de longo prazo. Tudo para, enfim, tentar dar uma aparência de normalidade burocrática às expulsões que patrocinou.
Trecho da reportagem de hoje de Elvira Lobato, na Folha: "Desde que assumiu a presidência do instituto, em agosto último, Pochmann mudou os comandos de cinco das seis diretorias e da área de macroeconomia, no Rio de Janeiro.Quatro economistas, considerados não alinhados ao pensamento econômico do governo, foram afastados: o coordenador do Grupo de Análise Conjuntural, Fabio Giambiagi, e os pesquisadores Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli.Giambiagi e Tourinho são funcionários do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e estavam cedidos ao Ipea, por meio de um convênio assinado em janeiro de 2004."
Por Reinaldo Azevedo
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