O recordista de público do cinema brasileiro (e da pirataria) entra para a história como uma ação comunicativa cuja interpretação da audiência contrariou o planejamento estratégico ou ideológico de quem concebeu a obra. O Capitão Nascimento virou herói sem querer. Existisse de verdade, o meganha de farda preta seria sério candidato a impedir o terceiro (e indesejado) mandato do Poderoso Lula. E nem precisaria usar a famosa 12... No confronto com o Nascimento, o chefão do 13 gritaria, suplicando: “Desisto! Me dá minha Kaiser!”.
Mas a estória agora é outra. E, na história o que importa é a versão. Nem sempre valem os fatos – geralmente, política e ideologicamente manipulados pelos poderosos de plantão. O cineasta José Padilha deixou clara que a intenção de seu filme era denunciar o excesso de violência, o abuso de autoridade e alguns desvios praticados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, na comparação com um batalhão, considerado de elite.
O filme “Tropa de Elite” foi, praticamente, uma ficção-documentário. Uma espécie de “o Bope como ele é”. A narrativa estilo Pulp-Fiction (Tempos de Violência) colaborou para criar uma identificação entre a audiência e os personagens. Toda a seqüência de imagens parecia o mundo real da violência urbana. O filme foi inspirado e baseado no tom crítico do livro “Elite da Tropa” (editora Objetiva), escrito pelo sociólogo Luiz Eduardo Soares, e por ex-integrantes do Bope, Rodrigo Pimentel e André Batista.
O Tropa de Elite desagradou a “elite” da PM. O tenente-coronel Mário Sérgio de Brito Duarte liderou o movimento contra o filme “Tropa de Elite”. Falou mais alto o sistema corporativo, já que o oficial foi comandante do Bope e atualmente exerce o cargo de confiança de Superintendente de Planejamento Operacional da Secretaria de Segurança. Além disso, Duarte é autor do livro “Incursionando no Inferno - A Verdade da Tropa”. O militar deve saber que as verdades doem. São tiros de 12 na consciência.
O corregedor interno da PM, coronel Paulo Ricardo Paúl, abriu uma investigação para apurar como se deu ou não a participação de oficiais da PM na elaboração do filme que mostra uma PM bem corrupta. O cineasta José Padilha e o ex-capitão do Bope Rodrigo Pimentel, roteirista do filme, tiveram de prestar depoimento para a responsável pelo inquérito, tenente-coronel Ana Cláudia Siciliano. Só faltou o famoso “saco plástico”. Tal sindicância tende a dar em nada. No máximo, algum PM pode ser “justiçado”. Isto é, “condenado” a trabalhar de chefe de cozinha do batalhão...
O Tropa de Elite caiu na graça da opinião pública. Mas pelo motivo inverso ao desejado por seus roteiristas. O Capitão Nascimento virou herói nacional. Sem querer! O filme acabou viabilizando a “linha Sivuca”: “Bandido bom é bandido morto”. Tropa de Elite retratou bandidos como bandidos. “Vítimas da questão social” deveriam atuar em outro filme. Em Tropa de Elite não colou o termo usado pela elite da intelectualidade para justificar a face marginal do crime. O retrato foi o mesmo no caso dos corruptos – funcionários públicos, fardados, mal pagos para zelar pela lei e pela ordem.
Os produtores do filme não contavam com a tolerância ou até o apoio da opinião pública ao excesso de violência do esquadrão do Capitão Nascimento. A reação inesperada pelos cineastas foi gerada pela leitura simplista que a sociedade faz da relação entre violência e criminalidade. O cidadão comum tem poucos elementos para saber que existe um sistema do crime organizado nos governando. Quem manda no Brasil é a associação, para fins delitivos, entre as classes política e empresarial, membros dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), e marginais de toda espécie, todos, unidos na parceria para usurpar o poder do Estado, praticando o roubo, a corrupção, a violência e o terror.
Existem algumas explicações para o fenômeno Tropa de Elite. Em tempos de impunidade, a opinião pública enxergou, com bons olhos, o líder de uma tropa policial que pega pesado contra os bandidos. Mesmo que seja apenas contra os “pés de chinelo” do sistema de gestão do crime organizado. O Bope não foi criado para pegar tubarão. Por mais bem intencionados e preparados que sejam seus hoje 380 integrantes, os homens de preto não foram treinados para pegar a “elite do crime”. Nem que quisessem, o sistema não deixaria. O papel deles é “enxugar o gelo” do narcovarejo. Neste caso, o combate à criminalidade é apenas aparente.
O próximo filme do José Padilha, se deixarem ele fazer, tem o título provisório de “O Corruptólogo”. A obra pretende retratar nossa classe política. Ele só não pode soltar o Capitão Nascimento no Congresso, porque será uma carnificina. Tomara que Padilha use o conceito certo de Governo do Crime Organizado. Afinal, conceituar é denominar e definir as características básicas de um dado objeto ou sujeito. A conceituação pressupõe e exige uma intencionalidade e a aplicação de um juízo de valor sobre o objeto em questão. Conceituar significa definir as características fundamentais das coisas, acontecimentos ou fenômenos.
Enquanto Tropa de Elite não vira seriado de televisão (SBT e Rede TV! negociam para transformar o filme em série), o principal mecanismo do Governo Mundial que nos controla e governa de verdade, com a ajuda do crime organizado, resolve se intrometer nos delicados assuntos da violência nacional. A ONU alega estar "alarmada" com o nível de violência e de impunidade no Brasil. Desde sexta-feira passada, escalou um especialista para investigar os assassinatos cometidos pela polícia no Brasil.
O relator para Execuções Extra-judiciais da ONU, Philip Alston, desembarcou no Brasil para uma missão de onze dias pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e o Distrito Federal. O resultado da investigação de Philip Alston será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, nos próximos meses. Desde o começo do ano, a ONU envia pedidos de explicação ao governo brasileiro sobre assassinatos e suspeitas de envolvimento de agentes de segurança pública nos crimes. A ONU reclama que nem todas as solicitações são respondidas. Seus observadores criticam nossa impunidade.
A violência é evidente. O clima é de guerra civil. Apenas no primeiro semestre do ano, os policiais civis e militares mataram 694 pessoas durante confrontos no Rio de Janeiro. Em comparação com o primeiro semestre de 2006, houve um aumento de 33,5% no total de mortos pelas polícias. O balanço é oficial. Os números são do Instituto de Segurança Pública do governo do Estado do Rio de Janeiro.
O governador Sérgio Cabral Filho já admitiu que existem células terroristas sendo combatidas no Rio de Janeiro. O curioso é que as informações sobre o terror não chegam até a sociedade, como chegam "os traumas das ações de combate da Polícia" que são acompanhadas pela mídia como se fossem “combate ao crime organizado”. A imprensa prefere ignorar o conceito de Governo do Crime Organizado (exposto parágrafos acima).
Os meios de comunicação preferem retratar as políticas de confrontos adotadas pela polícia nas favelas cariocas, e que geralmente resultam em mortos e feridos. A mídia amestrada também considera mais cômodo botar coletinhos à prova de balas em seus repórteres e cinegrafistas, para fazê-los retratar o “enxugamento de gelo” do pretenso combate ao crime. Dependendo do clima pré-eleitoral, a polícia é criticada ou elogiada pela mídia em sua ação de combate aos “pés de chinelo do crime”.
Não existe outra forma de combate ao crime, senão o confronto. O problema é: confronto contra quem? Contra pobre, preto e favelado? Contra narcovarejista que é associado e treinado por grupos terroristas ou com intenções ideológicas? Contra o Foro de São Paulo e os vários grupos narcoguerrilheiros que pretendem revolucionar a América do Sul e Caribe? Contra o Legislativo, os políticos e partidos que formam alianças ocultas com os criminosos de toda espécie? Contra o governo federal que desinveste nas Forças Armadas? Contra o Exército, a Marinha, a Aeronáutica ou a Polícia Federal que não cumprem direito a missão de defender nossas fronteiras? Contra o Judiciário que julga com rigor seletivo e colabora, com sua lentidão e ineficiência, para o sentimento de impunidade generalizada? Contra o sistema financeiro mundial que lucra alto e facilita o financiamento e a sobrevivência de várias atividades criminosas para manter as nações sob controle? Contra todos que são coniventes com o desastroso estado das coisas?
São várias indagações a serem respondidas pelos milhões de brasileiros que assistiram às versões cinematográfica ou pirata de Tropa de Elite. O grande dilema é: Como combater o verdadeiro Crime Organizado em um País cujo Estado não foi fundado pela sociedade – e sim inventado por outro Estado ibérico, cheio de vícios, burocratices, corrupções e autoritarismos? O sistema não vai combater a si mesmo. É inútil esperar que isto aconteça, por milagre.
A essa altura do campeonato, o Capitão Nascimento deve estar confuso. Seu estresse, que provoca síndromes do pânico, já deve beirar o limite do tolerável. Vamos deixá-lo descansar na paz da ficção, e partir para a ação. O confronto só precisa da escolha de um alvo preciso para começar. Se for eleito o alvo errado, continuaremos no eterno enxugamento de gelo. Se cada brasileiro começar eliminando o corrupto que existe dentro de si mesmo, já terá dado uma grande contribuição para a futura vitória contra o Verdadeiro Crime Organizado.
Experimente dar um tiro de 12 na sua consciência. É melhor do que deixar sua cara bonitinha (porém ordinária) para seu velório no enterro geral de uma Nação condenada pela História a nunca dar certo. Aperte logo o gatilho! Senta o dedo à vontade! Antes que seja tarde demais. E a terra (arrasada) lhe seja leve.
do Alerta Total http://alertatotal.blogspot.com/
Postado por MiguelGCF > IMPUNIDADE > VERGONHA NACIONAL
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